Lide Agronegócios – Agronegócio: onde o Brasil é grande

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O cenário de recessão e incerteza que afeta a economia brasileira só encontra alento na agricultura e na pecuária. Apesar das críticas a velhos problemas estruturais e quedas nas exportações, é no campo que o Brasil se ampara.

O saldo comercial brasileiro só esteve positivo cerca de R$ 700 milhões no acumulado entre julho de 2014 e julho de 2015 graças ao agronegócio, que representou mais da metade de tudo que foi produzido em solo nacional no período. A contribuição decisiva do setor rural na economia brasileira tem sido possível graças aos sucessivos ganhos de produtividade obtidos nas décadas anteriores e à modernização na gestão.

É isso que permite a produtores de grãos do Mato Grosso e oeste da Bahia acompanhar a cotação de commodities nas Bolsas de Valores de Chicago ou de Pequim. No mundo globalizado, o agronegócio é que faz o Brasil ser uma potência. Como é de se esperar, quando o País vai mal, o setor agrário também oscila.

No segundo trimestre de 2015, o PIB agropecuário registrou índice negativo de 2,7%. Felizmente, o primeiro trimestre havia sido de fartura, com um crescimento de 4,8%. As variações se devem à sazonalidade das safras, mas também à cotação de preços no mercado internacional – e, claro, à taxa de câmbio. No segundo trimestre, esses fatores se somaram de forma perversa para o resultado das exportações dos produtos brasileiros. E há motivos para acreditar que o cenário não será dos mais favoráveis no futuro.

As projeções da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) para 2015 e os próximos dez anos apontam para uma tendência de os preços agrícolas se situarem abaixo da média de 2008 a 2014, porém acima da média anterior a 2007. Não é o cenário ideal, mas é melhor do que projetam os analistas mais pessimistas.

De acordo com esse estudo, a soja e a carne, dois dos carros-chefe do Brasil, vão manter seus preços reais acima dos níveis de 2007. A experiência dos produtores brasileiros e essas perspectivas justificaram as sucessivas ampliações dos Planos Safra, que em 15 anos cresceu mais de dez vezes. Hoje os recursos somam R$ 187,7 bilhões, em 2000 eram R$ 16,05 bilhões.

Para o presidente do LIDE Agronegócios, coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (GV Agro) e ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, o setor deve ser menos afetado pela crise por estar mais atrelado ao mercado mundial, porém há o complicador cambial.

“Quem plantou com o dólar a US$ 2,70 pode colher com a moeda a US$ 3,20 ou mais. Em reais, isso compensa, mas como será em 2016, na próxima colheita?”, diz Rodrigues. Ele acredita que, mesmo com desacelerações nos países emergentes da Ásia, onde a renda per capita cresceu 2,5 vezes em poucas décadas, as vendas de commodities não cairão de forma acentuada. Um alívio para quem produz e exporta soja, café e proteína animal.

“A demanda por alimentos vai continuar em alta no mundo”, diz Antônio Alvarenga, presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA). Alvarenga afirma que no médio e longo prazo o Brasil pode sair ganhando, mas que o momento é de incerteza. Determinados segmentos, como carnes, celulose e madeira, irão ganhar com a alta do dólar, já os plantadores de grãos perderão na compra de insumos importados e diante de uma eventual queda no câmbio.

Para o momento, o presidente da SNA defende uma mudança de mentalidade por parte do governo, a começar pelo enxugamento do aparato estatal, como o Ministério da Agricultura absorvendo a pasta da Pesca e parte do Desenvolvimento Agrário. “A parte do fomento tem que ficar com a Agricultura, sem políticas assistencialistas. Eles precisam ir ao mercado para crescer”, diz.

Ele cita o caso do município de Lucas do Rio Verde, município do Mato Grosso com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), formado por pequenos agricultores da região Sul que migraram para o Cerrado. Hoje o local é grande exportador de soja e milho.

Se isso já ocorreu no passado, na abertura da fronteira agrícola do Cerrado, pode acontecer novamente, desde que as políticas públicas adotadas para o agronegócio sejam acertadas.

Até 2018 ou 2019, o governo quer incluir cerca de 800 mil produtores rurais na classe C. Dos 5 milhões de produtores rurais do País, 3,5 milhões estão nas classes D e E. O esforço vai envolver, sobretudo, capacitação técnica, com ação conjunta de órgãos federais, universidades e a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater). Pode parecer um sonho ambicioso.

A história mostra que é possível torná-lo realidade: nos últimos 14 anos, a produção de alimentos no Brasil saltou 234%, mesmo com um crescimento de 50% na área cultivada. Fazer mais gente plantar melhor, portanto, não é impossível.

Em outro campo, a eminente queda de barreiras sanitárias e fitossanitárias pode permitir ao País ampliar suas exportações, principalmente de carnes, para o Bloco Europeu, Rússia, Estados Unidos, Índia, Japão, Arábia Saudita e Malásia. “Há no Brasil uma capacidade de gestão, com jovens ativos e preparados, com nível superior, que não existe em outros países. Não vemos isso na Europa e Ásia”, diz Roberto Rodrigues.

 

Fonte: Lide Agronegócios, ano 4, nº 4, outubro/2015

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