O preço do leite para o produtor em março registrou a terceira alta consecutiva no ano, chegando a R$ 1,4784/litro na “Média Brasil” líquida. O valor está seis centavos acima do registrado em fevereiro (ou elevação de 4,5%), segundo pesquisas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP).
A pesquisadora Natália Grigol afirma que, “conforme esperado por agentes do setor, a valorização ocorreu em menor intensidade em relação aos meses anteriores. Na comparação com março/2018, o aumento foi de 32,4% e, no acumulado deste primeiro trimestre, de 18,9%, ambas em termos reais (valores foram deflacionados pelo IPCA de fevereiro/2019).”
Grigol explica que o primeiro trimestre de 2019 tem sido caracterizado pela menor oferta de leite no campo e pelo aumento da competição entre empresas para assegurar a compra de matéria-prima. “A captação de fevereiro, especificamente, foi influenciada pelas chuvas irregulares, que limitaram a disponibilidade de pastagens e a produtividade das lavouras de milho.”
Por esse motivo, diz a pesquisadora, pecuaristas intensificaram o uso de silagens para tentar manter o volume de produção no curto prazo e estão preocupados com a possibilidade de o manejo alimentar do gado ser prejudicado no meio do ano. “O excesso de chuvas em algumas regiões também elevou a incidência de doenças”, afirma a especialista.
O Índice de Captação Leiteira do Cepea (ICAP-L) registrou queda de 4,7% na “Média Brasil” de janeiro para fevereiro. As reduções mais expressivas foram observadas em Goiás e no Rio Grande do Sul, de 9,9% e 7,9%, respectivamente. São Paulo, Santa Catarina e Goiás apresentaram baixas de 4%, 3,2% e 3%, na mesma ordem. A captação em Minas Gerais recuou 2,9% em fevereiro e no Paraná, 1,9%.
Grigol observa que, para os próximos meses, as expectativas entre agentes são divergentes. “É importante lembrar que grande parte do rebanho brasileiro depende das pastagens e estas, por sua vez, são prejudicadas pelo período de seca, que se aproxima no Sudeste e Centro-Oeste.”
A pesquisadora salienta que o ajuste na oferta no curto prazo pode ocorrer pelo aumento no consumo de concentrado e silagem, favorecido pelo maior poder de compra do pecuarista. “Outro fator a ser considerado é a maior demanda de laticínios por matéria-prima de qualidade, tendo em vista as novas normativas (IN 76 e 77), o que pode elevar as cotações, por conta das bonificações.”
Derivados
Além disso, Grigol cometa que as indústrias têm tido dificuldade em repassar a valorização da matéria-prima para os derivados, devido à demanda, que está enfraquecida.
“Como consequência, o preço do leite spot negociado em Minas caiu 10,4% em março e o valor do UHT recebido pelas indústrias em São Paulo recuou 2,3%. Com margens espremidas, a indústria enfrenta a dificuldade de assegurar a compra de matéria-prima de qualidade, o que põe em risco a manutenção do movimento de valorização no campo.”
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