Lavoura de soja avança e exige atenção

Fabio Silveira, da GO Associados
Fabio Silveira, diretor de pesquisas econômicas da consultoria GO Associados

Pelo segundo ano-safra consecutivo, a área plantada de soja no Brasil deverá superar a de todas as outras culturas juntas. Segundo o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado no dia 10 de dezembro, as lavouras da oleaginosa somam 29,4 milhões de hectares – 53,2% da área total destinada aos grãos no país, que é de 55,2 milhões de hectares. Na safra 2012/2013, a participação havia sido de 52,1%. Os números demonstram uma tendência de valorização da principal commodity do agronegócio brasileiro.

Para o economista Fabio Silveira, diretor de pesquisas econômicas da consultoria GO Associados, a expansão deve-se principalmente ao fato de a soja ser um dos produtos agrícolas com maior crescimento de renda. “O produtor já estava capitalizado e agora, neste ano, tem um cenário que, se não é extraordinário, é um bom cenário. Os preços ainda estão bastante satisfatórios e o produtor aposta nas culturas que estão indo bem”, observa. A expansão é verificada principalmente nas regiões Nordeste e Centro-Oeste.

Com a crescente expansão das lavouras, a expectativa é por uma nova colheita recorde. Segundo a Conab, serão 90 milhões de toneladas, o que representa um aumento de 10,5% na produção. Com produção farta, o preço poderá oscilar. “Estamos trabalhando para 2014 com uma queda de preço em dólar no mercado internacional na ordem de 6%. Ainda assim é uma remuneração satisfatória”, observa Silveira.

De acordo com ele, a receita do complexo soja (grão, farelo e óleo) deve crescer em torno de 13%. O cenário encontrado pelo produtor de soja é bem diferente do verificado nas culturas do café e do açúcar, por exemplo. Por isso mesmo, a situação exige atenção. Conforme Silveira, é importante que o produtor discuta cenários, analise prognósticos e trabalhe com informações.

“A soja é uma das poucas commodities que estão resistindo, junto com o petróleo, o que é motivo de redobrada atenção”, observa o analista. “Não vejo a soja caindo 30%, mas como o mundo está muito instável, com investidores mudando de posição rapidamente, não é impossível que os preços, por uma realocação de portfólio, caiam”, completa.

CEO da Celeres, Anderson Galvão
O CEO da consultoria Céleres, Anderson Galvão

 

O CEO da consultoria Céleres, Anderson Galvão, vê pontos positivos e negativos na expansão da área plantada de soja. “O bom é que o Brasil mostra que de fato é muito competitivo na produção de soja. Existem condições de clima, tecnologia e um arranjo de empresas que funciona razoavelmente bem, e tudo isso garante e segura a competitividade do país”, analisa.

Por outro lado, segundo ele, o cenário faz com que a agricultura brasileira torne-se cada vez mais dependente da oleaginosa. Ele ressalta que, sozinha, a soja é responsável por um quarto do superávit da balança comercial do agronegócio brasileiro. “Seria desejável que tivéssemos outras culturas tão competitivas quanto a soja”, observa.

A previsão de uma nova safra recorde faz com que o Brasil esteja na iminência de ultrapassar os Estados Unidos no posto de maior produtor mundial de soja. Enquanto os norte-americanos produziram 89 milhões de toneladas, a previsão para o Brasil é de 90 milhões. Galvão aposta que haverá, no mínimo, um “empate técnico” entre as duas potências. Mesmo com uma grande oferta, segundo ele, o cenário pode ser positivo com relação aos preços. “A situação do Brasil não é ruim porque a demanda internacional está bastante aquecida. Mesmo com mais uma safra recorde, o cenário de preços não é catastrófico.”

Por Equipe SNA/RJ

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