Lava Jato faz dólar registrar a maior queda semanal desde 2008

O dólar fechou em queda, registrando a maior baixa semanal em mais de sete anos, com a nova fase da operação Lava Jato atingindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e alimentando no mercado a percepção de que teria crescido a chance de afastamento da presidente Dilma Rousseff. Mas, com a atuação do Banco Central, a moeda norte-americana terminou o dia bem longe das mínimas.

O dólar comercial fechou em baixa de 1,09%%, cotado a R$ 3,7597 para compra e a R$ 3,7607 para venda. A moeda norte-americana chegou a cair 3,87%, sendo negociado a R$ 3,6550 na mínima do dia, a menor cotação desde 1º de setembro de 2015 (R$ 3,6192).

Na semana, o dólar acumulou uma queda de 5,93%, maior recuo semanal desde outubro de 2008.

“(A presidente Dilma Rousseff) já está muito fragilizada e com isso a oposição ganha mais força”, disse o operador da corretora Spinelli José Carlos Amado. “Se as manifestações do dia 13 forem grandes, a situação fica muito ruim para ela”, acrescentou, se referindo aos protestos planejados a favor do impeachment da presidente.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi levado para depor nesta sexta-feira em nova etapa da operação Lava Jato sob a suspeita de ser beneficiário de crimes envolvendo a Petrobras, aproximando ainda mais a investigação do atual governo.

Notícias que aumentam a pressão sobre Dilma, alvo de processo de impeachment, vêm sendo bem recebidas pelo mercado, que entende que eventual troca no governo pode trazer de volta a confiança e abrir espaço para mudanças na política econômica. Além disso, a investigação contra Lula poderia atrapalhar os planos do ex-presidente de concorrer à eleição em 2018.

Analistas da consultoria de risco político Eurasia Group escreveram que agora a chance de Dilma não concluir seu mandato é maior do que 50%. Até então, as chances eram de 40%.

Ainda assim, alguns analistas ponderam que as turbulências políticas podem dificultar ainda mais a governabilidade no presente. Além disso, não é certo que a saída da presidente abriria espaço para um governo mais apto a promover as dolorosas reformas que muitos acreditam ser a chave para a recuperação.

“O mercado está apostando em retomada da confiança, o que pode não se concretizar. Há uma euforia e acho que algumas pessoas estão indo no embalo, mas tem muita água para rolar ainda”, disse o operador de um banco internacional, sob a condição de anonimato.

BC

O dólar reduziu as perdas no final da manhã após o BC vender apenas parcialmente a oferta de swaps cambiais em leilão para rolagem.

O BC vem rolando integralmente todos os swaps nos últimos sete vencimentos. Neste mês, vinha indicando que rolaria integralmente os swaps que vencem em abril, no montante de US$ 10.092 bilhões, vendendo sempre a oferta integral diária de 9.600 contratos. Nesta sessão, porém, vendeu apenas 8.000 contratos, golpeando instantaneamente as cotações.

“Parece que o BC quer segurar um pouco a queda do dólar, que está muito intensa”, disse o gerente de câmbio da corretora BGC, Francisco Carvalho.

“Ele pode ter espaço para reduzir o estoque (de swaps cambiais). Podemos ver um anúncio de rolagem menor depois do fechamento”, acrescentou, referindo-se ao estoque de US$ 110 bilhões em swaps administrado pelo BC.

Com o leilão deste pregão, o BC já rolou US$ 1.790 bilhão ou 18% do lote total. Se mudar o ritmo e passar a oferecer 8.000 contratos por dia, vendendo sempre o lote integral até o penúltimo pregão, como de praxe, a autoridade monetária rolará 85% do lote.

O BC tem dito que atua para garantir oferta de proteção cambial e atenuar a volatilidade. Alguns operadores acreditam, porém, que a autoridade monetária tem em vista também o nível da taxa, já que cotações altas tendem a pressionar a inflação e patamares baixos prejudicam as exportações.

Estrategistas do banco BNP Paribas escreveram em nota clientes que entendem que a rolagem parcial é um sinal de que a autoridade monetária não permitirá que o dólar caia muito abaixo de R$ 3,70.

“Embora a resiliência do real seja compreensível no contexto do fortalecimento do setor externo e dos desenvolvimentos domésticos atuais, acreditamos que o movimento é um pouco exagerado”, escreveram os estrategistas, para quem o nível justo do dólar é de R$ 3,83.

No mercado internacional, por volta das 19h (Horário de Brasília), o Dollar Index estava em baixa de 0,39%, cotado aos 97,23 pontos, enquanto o euro estava em alta de 0,46%, cotado a US$ 1,1007.

Juros futuros com prazos mais longos têm forte queda na BM&F

O mercado futuro de taxas de juros local registrou uma forte correção nesta sexta-feira, com a notícia de que a Polícia Federal cumpriu mandado de condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no âmbito da investigação da Operação Lava-Jato, levando a uma forte queda das taxas dos contratos com prazos mais longos.

O evento levou o mercado a aumentar as apostas em um impeachment da presidente Dilma Rousseff, provocando forte queda do dólar e um movimento de zeragem de perdas no mercado de juros, principalmente por parte dos investidores que estavam com posições em taxas de juros de longo prazo. “A queda verificada hoje na parte mais longa da curva reflete mais um movimento defensivo, com investidores reduzindo as posições no mercado de juros”, disse Henrique de la Rocque, gestor de renda fixa e derivativos da Brasif.

O DI janeiro/2021 caiu de 15,07% para 14,68%, enquanto o DI janeiro/2023 recuou de 15,27% para 14,79%. Já o DI janeiro/2017 fechou estável a 14,04%. As taxas curtas de juros tiveram uma reação modesta, sustentadas pela leitura de que o Banco Central não deve cortar a Selic neste ano.

Essa percepção foi indicada pela rolagem parcial de swaps cambiais pelo Banco Central. O entendimento é que a queda do dólar seria conveniente ao BC, caso a autoridade monetária quisesse aliviar a inflação via câmbio, o que tiraria da política monetária a tarefa de colocar os preços sob controle. Mas a rolagem parcial dos swaps foi interpretada como um sinal de que a queda do dólar terá limite. Portanto, o instrumento de controle da inflação será o juro, que, para isso, não deverá cair.

Com isso, a probabilidade de corte acumulado de 0,25% da Selic neste ano, que chegou a superar 70% pela manhã, caiu para 36% no início desta tarde.

 

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