Jovem Pan: Hortifrútis, combustíveis e passagens aéreas lideram altas da inflação em 12 meses

Há meses, a ida dos brasileiros aos supermercados se tornou um verdadeiro desafio. Impactado pelo aumento do desemprego, a queda da renda e o encarecimento dos produtos, o orçamento familiar precisa se readequar constantemente.

A alta de 1,16% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em setembro deve aumentar essa pressão. Em 12 meses, o indicador oficial da inflação foi a 10,25%, o valor mais alto desde fevereiro de 2016. Dos dez subitens que mais subiram no mês, oito fazem parte do grupo dos alimentos.

A carestia é puxada pela variação de 96,3% do pimentão em setembro deste ano, na comparação com o mesmo mês em 2020. Em segundo lugar está a abobrinha, com alta de 64,9%. O etanol aparece logo depois, com encarecimento de 64,7%. Apesar de não estar relacionado ao grupo alimentício, a disparada também tem relação com a questão agrícola, já que o produto é um derivado da cana-de-açúcar.

O ranking das altas tem ainda o repolho, com variação de 57,9%, e as passagens aéreas, que subiram 56,8% na soma dos últimos 12 meses. Batata-doce (54,2%), pepino (52,5%), mandioca (45,2%), açúcar refinado (43,9%) e laranja-lima (40,2%) completam as dez maiores elevações.

O protagonismo dos hortifrútis entre os vilões da inflação é reflexo de um cenário perverso de mudanças climáticas e a da desvalorização do real ante o dólar. Na primeira ponta, a produção de verduras, frutas e legumes nos últimos meses foi bastante prejudicada pela falta de chuvas — que também explica a disparada da energia elétrica —, e por dois períodos de geadas.

“A seca e as geadas atingem frontalmente produtos sensíveis, como os hortifrútis. Naturalmente, essa perda resulta em uma produção menor, e pela questão da oferta, acaba levando os preços para cima”, explica Márcio Fortes, professor do Ibmec e diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).

Apesar de a produção de hortifrúti não ter o mercado internacional como principal destino, ao contrário de outros produtos agrícolas, como a soja e o milho, a disparada do dólar também afeta diretamente o preço aos consumidores. A variação do câmbio na cadeia se faz presente com a compra de fertilizantes, cotado na moeda norte-americana.

Com a desvalorização do real, os agricultores precisam desembolsar mais para comprar os insumos, sendo obrigados a vender o produto por um valor mais elevado. “De 80% a 90% dos fertilizantes usados no Brasil são importados. É uma inflação que sai do campo e termina na mesa dos brasileiros”, diz Fortes.

Entre os itens pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os combustíveis lideram a alta, com avanço de 42% desde setembro do ano passado. Além do etanol, o crescimento é puxado pela variação de 39,6% da gasolina, 38,4% do gás veicular e 33% do diesel.

Ao lado da energia elétrica, o encarecimento dos combustíveis deve ser o principal motor de impulso do IPCA em 2021. A alta passa pela valorização do barril de petróleo no mercado internacional e, mais uma vez, pela disparidade do câmbio doméstico.

Segundo André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), a permanência dessas duas forças em patamares elevados deve dar mais fôlego para o avanço da inflação nos próximos meses. “O petróleo em alta reflete o aquecimento do mundo após a passagem da Covid-19, e isso contamina muito os preços. Isso soma com a nossa moeda, que está muito desvalorizada”, diz.

Já a alta do etanol está ligada ao mercado sucroalcooleiro, impactado pela variação de outros derivados da cana-de-açúcar. “Depende muito da produção de cana e da oferta de açúcar no mundo. Se o preço açúcar está subindo, então é um desestímulo para a produção de etanol. Faz parte da lei de mercado”, explica Braz.

 

 

Jovem Pan

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