Jacyr Costa: “Agregação maior de valor na indústria de alimentos depende de reforma tributária”

 

Milho: produção mundial do grão deve ter redução na temporada 2022/23

A redução da produção mundial de grãos estimada para 2022/23, principalmente de milho, trigo e arroz, está preocupando organismos como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Fatores como pandemia, guerra do Leste Europeu e aumento dos juros tem contribuído para o cenário de crise.

Nesse contexto, a FAO indica que a produção de grãos em 2022 deverá ser de 2.78 bilhões de toneladas, ou seja, 16 milhões de toneladas menor em relação ao recorde de 2021. Com isso, alguns governos lançam mão de ações para limitar as exportações e garantir o abastecimento do mercado interno.

No caso do Brasil, analistas do setor apostam no aumento da produção, de forma sustentável, para atender ao mercado externo, mas reforçam que é preciso ter maior agregação de valor.

“Agregar valor gera mais empregos e qualidade no País. Para o agricultor, é uma grande opção, que também fortalece o mercado interno de sua produção”, afirmou Jacyr Costa Filho, presidente do Conselho do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Cosag/Fiesp) e membro titular da Academia Nacional de Agricultura da SNA.

Ao participar de uma videoconferência sobre oferta mundial de alimentos, o executivo afirmou que é fundamental fortalecer a cadeia de uma indústria alimentícia mais rigorosa que permita maior agregação de valor. Mas, segundo ele, “o primeiro passo para que isso aconteça é implementar uma reforma tributária”.

Para Jacyr, “um dos impedimentos nesse sentido é o acúmulo de crédito dessas indústrias quando elas querem processar mais produtos agrícolas para exportação”.

Presente ao debate, o economista Antônio da Luz reforçou que “agregar mais valor e ser mais competitivo em vários eixos da cadeia será difícil se não fizermos reformas estruturais para que os industriais tenham possibilidade de competir lá fora”.

Barreiras

Outro fator que influencia o contexto do valor agregado são as barreiras tarifárias e não tarifárias que os países aplicam para proteger seus interesses, seus empresários e produtores.

“Na escalada tarifária, os países que querem proteger seus industriais colocam tarifas baixas ou nulas para a matéria prima importada, transformam esses produtos em industrializados e praticam tarifas muito altas para os países (que exportam a matéria prima). Portanto,  não conseguem ingressar naquele mercado porque o produto com valor agregado tem uma tarifa muito alta”, explicou o ex-ministro da Agricultura e titular da Academia Nacional de Agricultura, Roberto Rodrigues, ao participar da videoconferência.

Com relação ao Brasil, ele acredita que a solução para o problema é uma ação do governo no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). “É um processo lento que depende de negociação diplomática por parte do governo e ação privada para a substituição gradativa de matérias primas sem tarifas por produtos com valor agregado mais alto”, disse o ex-ministro.

Proximidade

Já o presidente da Cosag acrescentou que, “para fazer com que o produto primário seja industrializado no Brasil, além do esforço diplomático, é muito importante que a iniciativa privada comece a sair do País para encontrar outras oportunidades, seja frequentando feiras no exterior para divulgar produtos ou traçando estratégias, a fim de promover uma aproximação maior com o consumidor”.

O executivo lembrou que nas décadas de 90 e 2000, a Associação Brasileira de Cafés Especiais implementou iniciativas para abrir mercados e ter uma proximidade maior com os consumidores, em feiras e outros eventos, e acrescentou que atualmente o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) vem fazendo esse trabalho.

Investimentos

“A iniciativa privada precisa estar mais próxima (dos mercados)”, disse Jacyr. “Precisamos ter no agronegócio a mentalidade não só de produção, mas também mercadológica. E isso já está acontecendo em vários setores”, observou o executivo, citando como exemplo a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), que recentemente abriu um escritório em Singapura para divulgar as fibras brasileiras.

O executivo lembrou ainda que a Amaggi  investiu numa empresa de nutrição de salmões na Noruega e que está cada vez mais próxima do mercado. “Com certeza vai encontrar oportunidades de agregação de valor”.

Jacyr também comentou que o e-commerce mudou muito o cenário do varejo, porque fez com que a indústria ficasse mais próxima de seu consumidor. “Alguns setores estão querendo cada vez mais essa proximidade, como as indústrias do ramo têxtil que abrem lojas para escoar sua produção e as cooperativas de comercialização que atendem mercados locais”, disse.

Momento oportuno

No âmbito geral, avaliou Roberto Rodrigues, “o governo tem clareza de que há um momento oportuno para o Brasil mostrar que é capaz de alimentar o mundo. No entanto, devemos ter um Plano Safra que considere os mecanismos para garantir esse espaço”.

Sendo assim, disse ele, “é preciso que haja crédito rural e seguro abundantes, garantia de preço para o produtor rural na próxima safra e acordos comerciais que assegurem mercados de longo prazo”.

 

 

 

Fonte: Notícias Agrícolas 

Equipe SNA 

 

 

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