O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, nesta quinta-feira, a revisão da estimativa para o Valor Adicionado (VA) do setor agropecuário de 2021 de crescimento de 1,20% para redução de 1,20%. O principal motivo para o ajuste foi a mudança significativa na base de comparação após revisão dos números do VA do setor em 2020 feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os pesquisadores do Grupo de Conjuntura do Ipea também levaram em consideração nesta nova previsão a queda da produção de bovinos no terceiro trimestre deste ano e as reduções nas estimativas do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) para as produções de milho, cana-de-açúcar e laranja.
A revisão das séries de Contas Nacionais Trimestrais (CNT) pelo IBGE, divulgada juntamente ao resultado do PIB do terceiro trimestre, impactou de forma significativa a estimativa para o VA do setor agropecuário. O crescimento do Valor em 2020 foi revisto de 2% para 3,80%. Com isso, a base de comparação para a estimativa de 2021 se elevou, principalmente quando se considera os últimos três trimestres do ano.
O novo resultado é explicado principalmente pelas novas informações disponíveis nas pesquisas estruturais anuais do IBGE, mais especificamente a de Produção Agrícola Municipal (PAM) e a Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM), divulgadas em outubro deste ano, que impactaram tanto os resultados de 2020 da produção vegetal quanto os da produção animal.
Culturas
O Valor Adicionado da produção vegetal para 2021 foi revisado de crescimento de 1,20% para queda de 2,60%. O desempenho negativo sustenta-se nas estimativas de quedas elevadas na produção de seis das sete culturas mais importantes.
A soja é a única que apresenta perspectiva de crescimento este ano (+ 10,50%). Mesmo assim, esse novo recorde de produção da principal cultura do País não impedirá a queda no agregado da produção vegetal.
A piora nas estimativas de queda na produção anual da cana-de-açúcar (- 8,30%) e laranja (- 13,80%), em virtude do choque climático adverso registrado na safra deste ano, impactou negativamente o VA do componente.
Produção animal
A nova estimativa para o valor adicionado da produção animal este ano é de redução de 0,70%, em relação à previsão anterior de aumento de 1,20%.
Apesar de altas elevadas nas produções de suínos (+ 8,70%) e aves (+ 4,50%), a piora se deve à queda muito forte, no terceiro trimestre, na produção de dois itens de maior relevância no componente: bovinos (- 8,90%) e leite (- 4,90%).
Expectativa
O diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac/Ipea), José Ronaldo Souza Júnior, falou sobre a expectativa para o próximo ano.
“Para 2022, prevemos um crescimento no VA do setor agropecuário de 2,80% devido à alta esperada para a produção de bovinos, à nova alta estimada para a produção de suínos e para a safra de soja e à expectativa de forte recuperação na produtividade e produção do milho, após a quebra de safra de 2021, resultante das questões climáticas adversas.”
Segundo Souza Júnior, “a previsão anterior era de alta de 3,40%, mas levava em consideração as expectativas de safra ainda preliminares feitas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)”.
Revisões
O VA da produção vegetal em 2022 foi revisto de 3,90% para 2,60% (levando em consideração o atual prognóstico de safra do IBGE), enquanto a estimativa para o VA da produção animal no próximo ano prevê alta de 2,20% para 3,60%, com projeção de crescimento em todos os segmentos e desaceleração para as proteínas substitutas da carne bovina.
Com relação aos riscos para o VA do setor, Pedro Garcia, pesquisador associado do Ipea e um dos autores da nota, avaliou que, para 2021, em relação à produção vegetal, há possibilidade de revisão para baixo na produção das lavouras com colheitas que se estendem para o último trimestre do ano, ainda que com um peso menor sobre o total, como cana-de-açúcar, laranja e milho.
“Essas culturas respondem por boa parte da piora do cenário para este ano e podem reservar alguma surpresa no último trimestre de 2021”, indicou Garcia.
Carne para a China
Sobre o desempenho da produção animal, esta deverá ser influenciada pelas exportações de carne bovina para a China, já que o embargo foi retirado recentemente. A liberação das vendas para o país asiático pode, portanto, reverter parte da perda esperada, caso haja tempo hábil para aumentar o abate com esse destino.
Os riscos para 2022 ainda persistem com a preocupação em relação aos efeitos mais permanentes das geadas sobre as lavouras de café, por exemplo. Na produção animal, 2022 deve ser um ano de recuperação do abate e manutenção da demanda aquecida doméstica e externa, com a normalização das exportações para a China.
Coleta de dados
O levantamento para 2021 continua a ser realizado com base nas estimativas do LSPA e do IBGE e em projeções próprias para a pecuária a partir de dados da Pesquisa Trimestral do Abate de Animais, da Produção de Ovos de Galinha e Leite.
Para o ano de 2022, foram utilizadas as informações do prognóstico de produção agrícola do IBGE para os segmentos da produção vegetal e previsões próprias da Dimac/Ipea para a produção animal. A previsão anterior do Ipea considerava os prognósticos da Conab, disponíveis à época.
Fonte: Ipea
Equipe SNA