Em meio à perspectiva de retomada da demanda doméstica por pães e outros alimentos à base de trigo, a indústria moageira está apresentando ao governo Bolsonaro uma proposta de política nacional de estímulo à cadeia produtiva para incentivar o crescimento da oferta nacional do cereal.
Nesta semana, a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) vai procurar o Ministério da Agricultura para protocolar a proposta, já apresentada à ministra Tereza Cristina na véspera de sua posse. Segundo o embaixador Rubens Barbosa, presidente da entidade, a ministra recebeu a proposta “com entusiasmo”.
“O objetivo é ter um aumento da independência da importação. Mas não significa ter um mercado fechado”, afirmou Barbosa ao Valor.
Segundo ele, a perspectiva de crescimento do mercado brasileiro tem atraído interesse de países que já fornecem o cereal ao país, como Argentina, EUA, que voltaram a pressionar pela isenção da TEC para uma cota de 750.000 toneladas, e, mais recentemente, Rússia, que realizou um embarque de 26.000 toneladas ao Brasil no ano passado.
Essa política, disse Barbosa, seria uma forma de acompanhar o avanço do consumo. “Não é uma política de substituição de importação, mas de crescimento com a demanda”.
Elaborada em 2018, a política reúne propostas sobre mudanças no ambiente legal e regulatório, na produção agrícola, em incentivos fiscais, no estímulo aos investimentos, na facilitação do comércio internacional e em logística e infraestrutura.
Quanto à produção, um dos aspectos que a política quer fomentar é a regionalização e a especialização do cultivo, de acordo com a demanda dos moinhos.
“Nos EUA, tem estado especializado em um tipo de trigo”, afirmou Barbosa. Segundo ele, há espaço para a expansão da fronteira do trigo rumo a Mato Grosso e outras áreas do Cerrado. Barbosa disse ainda que a Embrapa tem avançado no controle do brusone, uma doença fúngica, o que pode destravar o cultivo nessas áreas.
Para o comércio internacional, a Abitrigo defende a convergência de regras no Mercosul, principal região fornecedora do trigo importado.
“Em 2018, a Argentina representou 87% do cereal importado pelos moinhos, seguida do Paraguai, com quase 5%. A modernização dos portos e da cabotagem, para facilitar o transporte de trigo do Sul aos moinhos do Nordeste, é outra necessidade para incentivar a cadeia, embora o volume movimentado hoje seja ‘marginal’ “, informou o presidente da Abitrigo.
Em logística, a associação defende a disponibilização de linhas de crédito para a construção de silos e a privatização dos armazéns da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
A política elaborada pela Abitrigo também prevê alterações na política de incentivos fiscais para garantir isonomia tributária a toda à cadeia. Atualmente, a incidência de ICMS sobre o trigo, por exemplo, é diferente entre os estados. A indústria defende ainda medidas gerais para facilitar os investimentos privados, com desburocratização e segurança jurídica.
Quanto ao ambiente regulatório, Barbosa citou a padronização de rótulos de produtos derivados de trigo e dos limites de resíduos.
Valor Econômico