Indústria da soja projeta cotações estáveis em 2016

O fortalecimento de um cenário global de oferta abundante e preços em baixa impediu que 2015 fosse um ano “espetacular” para a soja no país, mas os resultados se mantiveram “em um patamar digno”, avaliou a Abiove, associação que representa a indústria nacional de óleos vegetais. E com 2016 apontando no horizonte, a entidade crê em um novo recorde para a safra brasileira, ainda que as cotações tendam a permanecer estáveis no mercado internacional.

“Por enquanto, prevemos 98,6 milhões de toneladas de soja [no ciclo 2015/16, em fase de final de plantio], mas acreditamos em um novo recorde, muito perto do número ‘mágico’ de 100 milhões de toneladas”, afirmou Carlo Lovatelli, presidente da Abiove, em encontro com jornalistas ontem. De todo modo, a atual projeção já seria suficiente para que o recorde de 95,2 milhões de toneladas da temporada anterior fosse superado.

Os obstáculos climáticos que marcam a semeadura desta safra 2015/16 – como a escassez de chuvas em Mato Grosso, maior produtor de grãos do país – não mostram força para criar problemas “tão estruturais” na colheita, conforme Fabio Trigueirinho, secretário-geral da Abiove. “Podemos ter um 2016 bastante satisfatório, só que com estabilidade de preços em relação ao que temos hoje”.

Para Trigueirinho, as cotações continuarão oscilando entre US$ 8,50 e US$ 9 por bushel na bolsa de Chicago em 2016, ainda que o dólar valorizado ante o real possa seguir compensando esses níveis de preços ao produtor nacional. “Viemos de boas produções nos EUA e no Brasil, por isso não veremos mais os patamares de US$ 15 por bushel de dois anos atrás. Teremos que conviver com o preço em dólar mais apertado, ainda que o câmbio possa nos ajudar bastante”.

Do lado da demanda, a expectativa da Abiove é que a China, principal comprador global, continue com uma demanda “consistente”, apesar da desaceleração da economia local. O país asiático é destino de 60% da soja em grão brasileira, e a Abiove destacou sua preocupação com essa dependência. “Temos que negociar mais com os chineses para mudar a pauta, agregando produtos de maior valor, como farelo, óleo e carnes”, defendeu Trigueirinho. Esse movimento, porém, esbarra em entraves tarifários, uma vez que a China privilegia a compra do grão para processar dentro de suas fronteiras.

No início de novembro, a Abiove estimou que o Brasil exportará 53,8 milhões de toneladas de soja em grão em 2016, 1,5% acima das 53 milhões indicadas para este ano. De farelo, os embarques deverão se manter em 15,2 milhões de toneladas, e de óleo, a expectativa é de alta de 9%, a 1,47 milhão. Já para a receita das exportações de todo o “complexo soja” (grão, farelo e óleo), a previsão é de um recuo de 7,4%, a US$ 24,76 bilhões em 2016.

Nesse contexto, cresce a preocupação com a concorrência argentina. Cumprindo uma promessa de campanha, o presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, anunciou que reduzirá em 5% ao ano a taxa sobre a venda externa do grão, atualmente em 35%. “Isso acirrará a disputa entre Brasil e Argentina, que entram [com a soja] no mercado na mesma época do ano”, afirmou Lovatelli.

Nos últimos anos, os produtores argentinos utilizaram os estoques de soja como “reservas de valor”, em um ambiente de desvalorização do peso ante o dólar.

A expectativa de Trigueirinho é que a tarifa menor estimule a produção argentina. “Hoje, 35% da renda bruta do produtor é transferida ao Estado. Com mais renda, ele deve produzir mais”. Mas como o mercado global tende a crescer, e a queda da taxa também será gradual, não deve haver impacto significativo sobre os preços, previu.

 

Fonte: Valor Econômico

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