Os elevados preços das commodities, aliados aos resultados positivos das exportações, deixaram o agro brasileiro mais otimista no primeiro trimestre deste ano, mesmo em meio à escalada dos custos de produção e às incertezas que já se aprofundavam nas cadeias de insumos.
O Índice de Confiança do Agronegócio (ICAgro), calculado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) a partir de pesquisa de campo da Agroconsult, atingiu 111,5 pontos no período – 1,9 ponto mais do que no quarto trimestre de 2021.
O resultado é dimensionado a partir de 1.500 entrevistas (645 válidas) com agricultores e pecuaristas do País. Cerca de 50 indústrias também são ouvidas.
“Fora da porteira”
A alta foi puxada pelas indústrias que atuam “fora da porteira”. O indicador que mede especificamente a confiança desse grupo chegou a 117,4 pontos de janeiro a março, 9 pontos a mais do que entre outubro e dezembro do ano passado.
“O bom momento das exportações do agronegócio é uma das razões às quais pode ser atribuído o ganho de otimismo, já que muitas empresas que compõem o grupo ‘depois da porteira’ são exportadoras”, indicou, em nota, o diretor do Departamento de Agronegócio da Fiesp, Roberto Betancourt.
“Dentro da porteira”
No caso das indústrias que atuam “dentro da porteira”, onde estão as empresas de sementes, fertilizantes e defensivos, houve queda de 3,7 pontos na comparação, para 107,7 pontos, mesmo em meio à forte alta dos preços desses produtos.
“Boa parte das entrevistas aconteceu em março, durante o início da ofensiva russa na Ucrânia. Havia grande incerteza quanto à oferta e aos preços dos fertilizantes, e a comercialização de insumos para a próxima safra permaneceu praticamente parada”, ressaltou Betancourt.
Neste momento, como tem informado o Valor, são menores os temores em relação à falta de adubos para o plantio da próxima safra de verão (2022/23), mas não estão descartados problemas logísticos entre junho e agosto, quando as entregas aos produtores costumam ganhar ritmo.
Produtor agrícola
A alta dos preços dos nutrientes, que persiste, provocou queda de 2,9 pontos no indicador que mede a confiança do produtor agrícola no primeiro trimestre, para 109,1 pontos.
“A percepção sobre o custo de produção, que já era ruim no final de 2021, voltou a cair em função da piora das relações de troca causada pela alta dos fertilizantes e pelos temores relacionados à sua disponibilidade”, indicou Betancourt.
Também colaboraram para a modesta erosão das expectativas problemas relacionados ao crédito rural (alta de juros e esgotamento de fontes de recursos com equalização do Tesouro) e a quebra da safra de soja na região Sul e em parte de Mato Grosso do Sul, em decorrência da seca.
Produtor pecuário
O indicador que mede o humor dos pecuaristas, por sua vez, teve queda de 2,6 pontos de janeiro a março, para 101,4 pontos. No segmento, os custos também já estavam em alta e os preços dos bezerros, elevados. Como na agricultura, na pecuária o crédito era igualmente uma fonte de dor de cabeça.
A pesquisa da Fiesp também capturou uma melhora das perspectivas do agro para a economia brasileira em geral. Nessa frente, havia um maior pessimismo no quarto trimestre do ano passado, quando o ICAgro registrou queda expressiva em relação ao período imediatamente anterior.
Fonte: Valor