Índia reduz exportações, e preço do arroz deve subir para o consumidor

Restrições indianas nas exportações de arroz e a guerra entre Rússia e Ucrânia afetam o mercado internacional do cereal, com reflexo nos preços para os consumidores. A boa notícia é que o Brasil deverá ampliar a área de produção.

Após muitos anos perdendo área de plantio para a soja, o arroz poderá recuperar até 150.000 hectares nas lavouras brasileiras da safra 2023/24, segundo Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.

“O aumento de área elevará em até 1 milhão de toneladas a produção brasileira, o que dá maior fôlego para as exportações e para a oferta interna”, disse ele.

A limitação das exportações indianas ocorre em um período de menor oferta de arroz em várias das principais regiões produtoras, devido aos recentes efeitos climáticos.

Índia, China, Tailândia, Vietnã e países do MERCOSUL, estes tradicionais fornecedores do Brasil, reduziram a produção na safra 2022/23. Com isso, a oferta global do cereal vai ser menor.

A Brandalizze Consulting estima uma produção mundial de 510 milhões de toneladas, abaixo da demanda de 525 milhões. Esse déficit de 15 milhões de toneladas ocorre após uma oferta menor do que o consumo também na safra anterior.

A interferência da guerra entre a Rússia e a Ucrânia ocorre porque arroz e trigo são os cereais mais consumidos, e a redução de oferta de um impulsiona os preços do outro. Com restrições de oferta de países exportadores, os preços se aquecem ainda mais, segundo Brandalizze.

A queda da produção de trigo na Ucrânia e o fim do acordo do corredor de exportação entre os dois países pelo Mar Negro, rompido pela Rússia, aceleram ainda mais a demanda por arroz.

Para Brandalizze, tanto Índia como China vão afetar o mercado mundial nesta safra. Os indianos são os maiores exportadores e detém 40% do mercado internacional de arroz.

Os chineses, embora sejam os maiores produtores mundiais do cereal, também são os maiores consumidores e vão importar próximo de 10 milhões de toneladas, aquecendo ainda mais o mercado mundial.

A produção da China, afetada pelo clima, deverá ficar entre 225 milhões e 230 milhões de toneladas do produto base casca, mas o consumo atingirá 240 milhões de toneladas, indica o consultor.

A Índia, com produção de 130 milhões de toneladas, mesmo com a redução das exportações, deverá zerar seus estoques internos. O governo indiano impôs restrições às vendas externas de arroz para evitar novas altas internas de preço.

Essa mudança no cenário mundial abre portas para um aumento das exportações brasileiras, disse Brandalizze. Ele estima que o País coloque até 1.7 milhão de toneladas de arroz no mercado externo. Até junho, o volume foi de 1 milhão de toneladas.

Os preços internacionais do cereal sobem, e o custo vai chegar ao prato dos brasileiros, assim como no dos consumidores de outros países. Para o consultor, 2024 será um período de preços mais firmes tanto para arroz como para trigo.

O preço do arroz no MERCOSUL, com base no produto consumido no Brasil, está entre US$ 510,00 e US$ 560,00 a tonelada para o cereal beneficiado. Na Tailândia, a segunda maior exportadora mundial e que detém 15% da comercialização internacional, a tonelada já chega aos US$ 600,00.

“Após as restrições da Índia, os exportadores sumiram”, disse Brandalizze. Para ele, Vietnã, Tailândia e Paquistão deverão aumentar a participação no mercado internacional, inclusive no Oriente Médio e na África.

O Brasil também conseguirá um espaço maior no mercado internacional. O aumento da produção de arroz, portanto, é importante para que o País tenha fôlego no mercado externo, sem deixar desabastecido o interno, disse Brandalizze.

O consultor estima um aumento de 10% na produção da próxima safra brasileira. O preço do cereal está favorável, e o dos insumos caiu nos últimos meses. “Será uma oportunidade para o produtor”, disse.

A produção brasileira de arroz registrou o menor patamar dos últimos 25 anos. Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), o Brasil produziu 10 milhões de toneladas em 2022/23, deverá consumir 10.3 milhões, importar 1.3 milhão e exportar 1.5 milhão de toneladas.

O preço da saca do cereal em casca voltou a subir e fechou esta segunda-feira (24) a R$ 85,37 no Rio Grande do Sul. Há um ano estava a R$ 77,21, segundo acompanhamento do CEPEA.

Por Mauro Zafalon
Fonte: Folha de SP
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