Índia e crise ucraniana impulsionam exportações de óleo de soja do Brasil para recordes

As exportações de óleo de soja do Brasil deverão dar um salto em 2022, com uma demanda recorde da Índia, que é o maior importador global, mas enfrenta problemas de fornecimento relacionados ao óleo de girassol vindo de Ucrânia e Rússia, além da escassez do produto de palma na Indonésia, informaram especialistas e dados do governo.

E com essa demanda externa adicional sustentando o processamento de soja, as exportações do grão brasileiro, que tem a China como principal comprador, deverão ser pressionadas, segundo o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e analistas do setor.

André Nassar, presidente da Abiove, acredita em processamento maior que o estimado, por margens relativamente boas para óleo e farelo, o que reduzirá mais a oferta do grão para exportação, já severamente atingida pela quebra de safra devido à seca, que afetou também Argentina e Paraguai.

“Eu acho que vamos exportar menos soja,” afirmou o executivo da Abiove, citando a consequência de um esmagamento forte. “Este ano vai nos surpreender positivamente a exportação de óleo e farelo de soja”, disse Nassar à Reuters, observando que os embarques totais de óleo do Brasil podem superar o recorde, ficando acima das estimadas 1.7 milhão de toneladas.

Demanda

Entre os fatores citados ao lado da demanda, está a maior procura da Índia por óleo de soja no início de 2022, movimento acentuado pela crise da Ucrânia, grande exportador de óleo de girassol. Essa conjuntura leva os indianos a buscar fornecedores alternativos.

“A índia está muito ativa, pode ser até mais (do que 1.7 milhão de toneladas de óleo). Seria um grande recorde, e o mercado de farelo está bom também”, afirmou Nassar.

As exportações brasileiras de óleo de soja em janeiro totalizaram 170.300 toneladas, contra apenas 8.500 toneladas no mesmo período do ano passado, com a Índia comprando quase 140.000 toneladas, maior volume em pelo menos 20 anos, segundo dados do governo.

Só no primeiro mês do ano, esses embarques para o país asiático representam mais de 20% dos volumes de todo o ano passado para o destino.

Participação

“A Índia este ano está no mercado. Foi para a Argentina, para os EUA, veio para o Brasil, estão falando com todo mundo. Primeiro tem a questão da Ucrânia, expressivo fornecedor de óleo de girassol, e tem ainda a  Indonésia, onde estão consumindo muito óleo internamente”, informou o executivo da Abiove.

Segundo ele, a Índia quer aumentar a participação do óleo de soja na matriz de consumo, porque está se sentindo “insegura” com a oferta de óleo de palma da Indonésia e agora com o óleo de girassol, da Ucrânia e Rússia.

Vendas de soja

Do lado da oferta, um dos fatores que também beneficiam o Brasil é a quebra da safra de soja na Argentina, maior exportador global de óleo e farelo de soja. No Paraguai, as “indústrias estão paradas” pela escassez da matéria-prima, disse Nassar.

Apesar de acreditar em um forte processamento de soja no Brasil, o executivo comentou que alguns traders ainda têm dúvidas sobre quem ganhará a quebra de braço: o esmagamento ou a exportação do grão.

Pelos números do balanço de oferta e demanda da Abiove, atualizados pela última vez ao final de janeiro, as exportações de soja em grão do Brasil ainda seriam recorde de 86.9 milhões de toneladas, mas isso considerando uma safra de 135.8 milhões de toneladas, o que deve ser revisto.

Durante entrevista à Reuters, Nassar chegou a citar a possibilidade de uma safra de 125 milhões de toneladas, número próximo do estimado por consultorias privadas após as últimas contabilizações das perdas na colheita em andamento.

Corte

A seca ocorrida no Sul do Brasil levou a consultoria Céleres a reduzir a sua estimativa para a safra nacional 2021/22 de soja, de 145 milhões de toneladas estimados no início da temporada, para as atuais 126 milhões de toneladas. O corte impactou diretamente a estimativa de exportações do grão, que caiu de 96 milhões de toneladas para 78 milhões, informou à Reuters o analista da Céleres, Enilson Nogueira.

“Nossa previsão de oferta caiu 19 milhões de toneladas. Do lado da demanda, a estimativa para embarques diminuiu 18 milhões, enquanto a expectativa de processamento caiu apenas 1 milhão de toneladas”, disse ele, citando que o esmagamento deve totalizar 47 milhões de toneladas neste ano.

Em temporada de quebra de safra, como a que está sendo colhida agora no Brasil, a tendência é que o grão fique no país, afirmou o especialista, explicando que as tradings, na ausência de oferta para fechar lotes nos navios, podem buscar o produto em outras origens, deixando mais grãos no mercado local.

Processadores e margens

A Abiove, que deverá ter novos números em março com base nas avaliações dos associados, apontou em sua última estimativa o processamento de 48 milhões de toneladas, o que ainda seria um recorde, e exportações de farelo e óleo avançando para 18.3 milhões e 1.7 milhão de toneladas, respectivamente.

“Acho que vai ser mais alto este número, temos levantado informações, mas temos chance de aumentar”, afirmou Nassar.

No ano passado, o esmagamento foi de 47 milhões de toneladas, enquanto as exportações de farelo e óleo totalizaram 17.2 milhões e 1.65 milhão, respectivamente, segundo dados da entidade.

Nassar admitiu que as margens já não estão tão boas como estavam, após a disparada do preço do grão. Mas ele avalia que, se houver liquidez para óleo e farelo, elas se equilibrariam.

Na mesma linha, o analista da Céleres disse que a participação do óleo na margem do esmagador se tornou relevante, antes pela destinação como matéria-prima do biodiesel e agora devido à exportação do óleo em si.

“O funcionamento da demanda fez com que os preços do óleo de soja subissem no mercado internacional. Agora, o tema do biodiesel está menor do que em anos anteriores no mercado interno, mas a demanda externa está elevada”, disse Nogueira.

Oferta

Nesta quinta-feira, o vencimento março do óleo de soja na bolsa de Chicago registrou a máxima de 74,72 centavos de dólar por libra-peso, com preocupações sobre o fornecimento global de óleo vegetal em meio ao conflito na principal região produtora de óleo de girassol.

“No caso de ruptura na cadeia logística do óleo de girassol, outros óleos devem ver sua demanda reforçada (com destaque para os de soja, palma e canola), num momento em que o balanço mundial de óleos vegetais não está folgado, com a demanda forte e problemas pelo lado da oferta”, indicou a StoneX em relatório.

Além da Índia, o Brasil também exporta grandes volumes de óleo de soja para a China, que comprou 427.300 toneladas do produto brasileiro em 2021.

 

 

Fonte: Reuters

Equipe SNA

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