Incêndios castigam agronegócio no Estado de São Paulo

Quase 4 mil propriedades rurais foram atingidas em 144 municípios, causando perdas na ordem de R$ 1 bilhão para agricultura e pecuária. Foto: Pixabay

Devastação agrava preocupações com a safra de cana-de-açúcar

Poucos meses após as fortes chuvas que devastaram áreas agrícolas no Rio Grande de Sul, causando perdas materiais que afetaram drasticamente o setor, uma onda de incêndios no interior paulista, em especial na região de Ribeirão Preto, vem causando mais destruição. O cultivo da cana-de-açúcar é, até o momento, o mais afetado, ainda que o fogo tenha chegado também a plantações de frutas, seringueiras e pastos onde animais de criação como bois e vacas pereceram.

Segundo o governo paulista, quase 4 mil propriedades rurais foram atingidas em 144 municípios, causando perdas na ordem de R$ 1 bilhão para agricultura e pecuária. Mais de 800 pessoas tiveram que deixar suas casas. Seis suspeitos foram presos, o que reforça a teoria de que a ação humana é o principal fator para explicar o alcance destrutivo das chamas em tão pouco tempo, aliada à seca que já vinha afetando a região. Mesmo antes do fogo, essa estiagem já preocupava produtores, pessimistas quanto à safra que começou a ser plantada em abril.

A falta de chuvas foi reduzindo as projeções de colheita, que, após os incêndios, deve ficar em torno de 370 milhões de toneladas, 50 milhões (12%) abaixo da estimativa inicial. Os mais de 2 mil focos de fogo entre sexta-feira (23) e sábado (24) queimaram cerca de 5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar em 59 mil hectares, o que corresponde a cerca de 1,5% da produção total de SP, principal polo canavieiro do país. Os números são da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana).

Os incêndios também afetaram a técnica de rebrota das plantas, isto é, a capacidade de crescer novamente e render várias safras. Isso significa que muitos agricultores terão que plantar de novo ou obter menos colheitas por cada pé de cana, aumentando custos de produção, que naturalmente serão repassados ao consumidor, pressionando assim os preços de açúcar e etanol. Apesar de prisões efetuadas, o governo ainda não crê em ação orquestrada, nem na hipótese de ação dolosa por parte de quem trabalha nas lavouras. Atos descuidados e fortuitos como bitucas de cigarro jogadas em ferrovias podem desencadear vastas chamas.

A Orplana lembra que, no passado, era comum queimar a palha dos canaviais para facilitar a colheita, mas isso mudou em 2007, quando produtores e usinas paulistas assinaram, junto ao governo de SP, um acordo que proibiu a prática. Esse documento é conhecido por Protocolo Agroambiental – Etanol Mais Verde. Além disso, a colheita e processamento mecanizados reduzem os riscos, contando com monitoramento por satélites de eventuais focos de incêndios que podem ser combatidos em conjunto mediante alerta emitido por autoridades ou unidades de produção. Essa dinâmica é conhecida como plano de auxílio mútuo, ou PAM.

Autoridades dimensionam danos e prometem auxílio

O governo paulista anunciou que irá liberar crédito pelo Fundo de Expansão Agropecuário Paulista (FEAP) sem juros e carência de dois anos para os produtores atingidos pelos incêndios no Estado de São Paulo. A gestão estadual também abriu um canal de WhatsApp e um formulário para preenchimento dos afetados pelas chamas. Os que perderam suas moradias serão ajudados pelo Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) para que obtenham uma nova residência.

Já o Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, cobrou apuração rigorosa durante participação no 11º Congresso Brasileiro de Fertilizantes, promovido pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Segundo ele, o governo federal também está disposto a trabalhar por uma proposta com taxas de juros e carência para que esse recomeço seja feito por todos que foram afetados, e que linhas de crédito serão criadas especificamente para a recuperação das áreas atingidas.

Os incêndios reabrem delicado debate político que espelha o ocorrido em 2022, quando chamas castigaram biomas como Cerrado e Amazônia. Na época, o agronegócio foi apontado por muitos, de forma leviana e sem provas, como causador dos episódios de queimadas que repercutiram inclusive no exterior e ajudaram a acirrar o clima de polarização política que marcou aquele ano.

Cabe salientar aqui que ao produtor rural só interessa a preservação, pois a terra é o seu meio de trabalho e de sustento.

Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb 13.9290) marcelosa@sna.agr.br

 

 

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