Os importadores europeus de carne bovina cozida brasileira estão pedindo, na prática, para a União Europeia (UE) rever os controles sistemáticos ao produto, que aumentam os custos e retardam em até três semanas os carregamentos, e que foram aplicados como desdobramento da operação Carne Fraca.
A União Europeia do Comércio de Bovinos e de Carnes (conhecido pela sigla francesa UECBV), que reúne os importadores, enviou carta à Comissão Europeia, o braço executivo da UE, questionando a coerência científica dos controles rígidos sobre as carnes brasileiras que passaram por um tratamento térmico e são condicionadas em embalagem fechada como o “corned beef” e a carne bovina cozida congelada.
O questionamento visa principalmente aos controles prévios na exportação, no Brasil, mas vale também para os exames laboratoriais de 20% desse tipo de carne que chega aos portos europeus. “A interrogação dos operadores é puramente científica e não constitui uma opinião sobre as recomendações da UE para o Brasil”, afirmou Jean-Luc Meriaux, secretário-geral da UECBV.
“No entanto, é evidente que os controles sistemáticos prévios na exportação aumentam os custos e atrasos na expedição da carne brasileira para a Europa, pesando tanto sobre os exportadores como sobre os importadores”.
Segundo fontes técnicas, a própria UE sabe que não tem sentido o controle laboratorial de carne enlatada, por exemplo, porque não haveria hipótese de risco para a saúde. A legislação europeia não abrange a carne enlatada para efeito de controle, como o que está sendo feito sistematicamente contra o Brasil desde a operação Carne Fraca.
O problema é que o comissário de Saúde e Segurança de Alimentos da UE, Vytenis Andriukaitis, disse no Parlamento Europeu que toda a carne brasileira seria submetida a controle reforçado, o que acabou constrangendo o espaço dos técnicos.
Na prática, o que os importadores querem é que seja revertida a exigência de 100% do controle prévio desse tipo de produto no Brasil e do controle de 20% do carregamento quando chega à Europa.
A expectativa é de que a Comissão Europeia termine por atender positivamente ao questionamento dos operadores, inclusive no contexto de concessões que o Brasil anunciou recentemente à entrada de produtos agrícolas europeus no mercado brasileiro.
Brasília concedeu autorizações sanitárias para a UE que vão facilitar a entrada de uma série de produtos de origem animal do bloco no mercado brasileiro, com impacto econômico importante. Os produtos favorecidos são carne e produtos cárneos de aves, bovinos e suínos, envoltórios naturais de bovinos e suínos, gelatina e colágeno, leite e produtos lácteos e mel e produtos apícolas e ovos.
Os países do Mercado Comum Europeu estão preparando suas respectivas listas de produtos, que Bruxelas enviará depois ao Brasil, para assegurarem o acesso ao mercado brasileiro. Por outro lado, a UE mantém cobranças sobre o controle sanitário no Brasil. E enviará nova comissão ao país até o fim do ano. Depois virão novos questionamentos, que Brasília terá de responder.
Em 2016, as exportações brasileiras de carne bovina industrializada (o que inclui carne cozida enlatada) à União Europeia totalizaram US$ 197 milhões, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC). Em volume, foram 42 mil toneladas de carne bovina industrializada em 2016. Em média, do volume total exportado para os europeus, cerca de 70% é vendida enlatada e o restante é carne cozida congelada.
Fonte: Valor Econômico