Os portos brasileiros voltaram a registrar aumento na movimentação de navios chegando ao país com etanol, principalmente dos Estados Unidos. Em novembro, foram importados 137.7 milhões de litros do biocombustível, quase 2,8 vezes mais que no mesmo mês de 2017, segundo a União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica). Mais dois navios deverão atracar até o fim do ano com mais 100 milhões de litros, segundo traders.
De acordo com fontes consultadas pelo Valor, um desses navios deverá atracar no porto de Santos, com 50 milhões de litros destinados ao abastecimento do centro-sul, região que está encerrando uma safra alcooleira recorde. O outro deverá abastecer o Norte e o Nordeste, regiões em que a safra de cana está no auge atualmente.
O volume de novembro surpreendeu o mercado. Com isso, de setembro e novembro, as importações somaram 187.6 milhões de litros, acima da cota trimestral estabelecida de 150 milhões de litros isenta de imposto. Isso significa que quase 40 milhões de litros de etanol foram comprados pagando tarifa de importação de 20%.
O aquecimento das importações neste fim de ano ocorre após meses de compras mais modestas no exterior. De abril, quando começou a safra 2018/19 no centro-sul, até novembro, foram importados 936 milhões de litros de etanol, abaixo da marca de um bilhão de litros recebidos do exterior no mesmo período do ciclo anterior.
Para Martinho Ono, sócio da SCA Trading, esse aumento recente de importações não sinaliza uma retomada mais vigorosa das aquisições externas de etanol ao longo da entressafra do centro-sul e não deverá comprometer as expectativas de que o Brasil volte a registrar superávit na balança comercial de etanol este ano.
“Em dezembro, começou o período (trimestral) para a cota nova (com isenção de tarifa)”, observa Ono. Ele estima que o Brasil deverá encerrar a safra 2018/19, em março, com, no máximo, 1.3 bilhão de litros de etanol importados, enquanto as exportações devem atingir 1.5 bilhão de litros.
No momento, o etanol que é importado fora da cota não é competitivo em relação ao produto doméstico, que tem sido pressionado pelas quedas recentes do petróleo no mercado internacional, e parte delas está sendo repassada para a gasolina vendida no país.
Segundo cálculos da consultoria FCStone, o etanol que entra pagando tarifa chega em Paulínia (SP) por cerca de R$ 2,36 o litro, enquanto o etanol anidro (que compete com o importado) produzido pelas usinas do país, conforme indicador Cepea/Esalq de terça-feira, estava em R$ 1,745 o litro.
Mesmo o etanol importado dentro da cota ainda teria dificuldade para ser competitivo. Segundo a FCStone, o produto chegaria em Paulínia por cerca de R$ 1,99 o litro.
João Paulo Botelho, analista da consultoria, disse que o etanol importado só deverá ganhar mais competitividade em meados da entressafra. “Mas, considerando os contratos futuros de etanol da BM&F e da CBOT (Bolsa de Chicago) não está valendo importar fora da cota em nenhum momento”.
Segundo Ono, as importações só deverão aumentar no fim da entressafra do centro-sul, quando a safra do Nordeste começará a chegar ao fim e as usinas serão obrigadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a manter volumes mínimos de estoques de passagem.
Fonte: Valor Econômico