Idec continua contrário e reforça que consumidor não quer trigo transgênico

O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) continua a discordar da aprovação do trigo transgênico no Brasil. “As pessoas estão cada vez mais reticentes ao uso de produtos geneticamente modificados, e essa aprovação vai contra essa tendência”, disse ao Valor Rafael Arantes, coordenador de consumo sustentável do instituto.

Ele lembrou que, na ocasião do pedido de análise da variedade transgênica pela Tropical Melhoramento e Genética, foi enviada à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) uma petição com a assinatura de 17.000 consumidores contrários a aprovação.

“É um número expressivo de consumidores e muito maior que o usado em pesquisas. Além disso, 377 organizações e institutos de pesquisa também assinaram o documento.”

Com a aprovação da comercialização da variedade resistente à seca pela CTNBio, o Idec recomenda que os consumidores se atentem às embalagens e que as empresas cumpram a lei, informando o uso de matérias-primas oriundas de GMO. “Essa é a forma que os consumidores poderão identificar e optar por comprarem ou não tais produtos”, disse Arantes.

Sem apoio

A utilização de farinha feita com o trigo transgênico já era permitida no País desde novembro de 2021. Na ocasião, vários órgãos de defesa do consumidor e representantes dos moinhos rechaçaram a decisão da CTNBio, alegando que os consumidores brasileiros não tinham interesse em consumir derivados do cereal geneticamente modificado. 

Abertura de mercados

“A aprovação se baseia em uma resolução anterior do Brasil para o uso de farinha de trigo HB4 em alimentos e rações em novembro de 2021. Além de abrir o mercado brasileiro para a tecnologia, a decisão abre caminho para a comercialização na Argentina”, informou a Bioceres, em nota. 

A aprovação também permite acelerar a colaboração da empresa com a Embrapa para desenvolver variedades subtropicais de trigo, complementou a empresa argentina. 

Nesta semana, a Bioceres divulgou que ensaios na Argentina provaram que a variedade HB4 teve rendimento até 40% maior em 2022/23, dependendo da região do País. 

Indústria de biscoitos  

A Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) comemorou a aprovação do cultivo de trigo transgênico no Brasil.

“Ótima notícia. Vislumbro que seremos autossuficientes em trigo em três ou quatro anos e poderemos nos tornar exportadores”, disse ao Valor Cláudio Zanão, presidente da entidade. 

A variedade HB4 resistente à seca, da argentina Bioceres, permitirá que o cereal seja cultivado em diversos locais do país. “Para indústria, isso significa redução de custo, com uma farinha mais barata”, disse Zanão.

Mudança de opinião

A Abimapi chegou a ser contrária ao uso do trigo geneticamente modificado no Brasil, porque via uma rejeição dos consumidores. No entanto, mudou de posição no fim de 2021, após uma pesquisa identificar que o consumidor não se importa com o tema. 

A sondagem foi feita pela Indexsa a pedido da Abimapi em dezembro de 2021. Dos 3.135 consultados de 12 capitais do país, 72% disseram não ver problemas em comer farinha transgênica. 

A pesquisa mostrou também que 57% dos que responderam sabiam o que era um alimento geneticamente modificado e 73,40% tinham conhecimento de consumir alimentos transgênicos. 

Fonte: Valor 
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