O cenário do agronegócio no Brasil será complicado em 2016, mas ainda muito melhor do que o de setores como a indústria, a construção civil e tantos mais.
Essa a avaliação de Alessandro Maritano, vice-presidente da New Holland para a América Latina. Há 60 anos participando da agricultura brasileira -há 40 instalou a primeira fábrica no país-, a empresa já viveu vários momentos de instabilidade econômica como este.
A situação exige cuidados não só para a empresa como para todos os fornecedores do setor.
“Mas é claro que uma multinacional como a nossa não faz plano de investimentos baseado em 12 ou 18 meses.”
Olhando a médio e longo prazos, o Brasil vai ser um player importantíssimo na produção de bens agrícolas, acrescenta. “Aqui queremos estar e aqui é onde queremos crescer”, diz Mauritano.
O executivo da New Holland admite que em 2015 o mercado brasileiro esteve muito nervoso, o que poderá se estender para 2016. No ano passado, as vendas de máquinas agrícolas e rodoviárias recuaram 35%. Neste ano, a queda deverá continuar, podendo ser de 10%.
Mauritano diz que essas oscilações de mercado trazem um impacto sobre a gestão de toda a cadeia, mas também são um período de reorganização de alguma ineficiência.
“É um momento para aproveitar e resolver as coisas que deixamos de fazer nos últimos dois anos porque estávamos correndo atrás do mercado.”
Os 60 anos da empresa no Brasil já permitiram várias mudanças de rumo, conforme as exigências da agricultura. O início foi no Sul. Daí veio a expansão, com avanços cada vez mais para o Norte. Agora, os caminhos levam para o Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
Esse caminho da agricultura determinou uma mudança das necessidades da mecanização agrícola e das exigências dos agricultores, que tinham dois objetivos centrais: abrir novas áreas e aumentar a produtividade.
As máquinas se tornaram, ainda, equipamentos com mais potência, mais capacidade de produtividade e redução do custo de mão de obra, segundo ele.
Mais recentemente, tiveram de se adaptar à apertada “janela [período] de plantio”, aos encurtamentos dos períodos de colheita e à agilidade na pulverização.
Mas ainda há muito por vir nos próximos cinco anos, segundo Mauritano. É uma integração dos equipamentos de precisão -os chamados PLM (Precision Land Management)- aos equipamentos tradicionais.
Com isso, o crescimento da agricultura vai exigir mais parcerias no setor de máquinas. “Todas as empresas que querem participar desse mercado terão de olhar para as reais necessidades dos clientes e aumentar o grau de parcerias comerciais ou industriais”. É preciso entregar ao cliente o que ele precisa, diz.
Até mesmo os nichos de mercado -os que potencialmente estão em crescimento- despertam o interesse das multinacionais, segundo o executivo da New Holland.
Uma das saídas para as empresas é oferecer soluções integradas de sistema de produção, que incluam trator, plantadeira, pulverizador e colheitadeira, além de equipamentos de precisão e gestão de toda essa frota.
PARCERIA
Para o executivo, o futuro indica que o desafio e o crescimento das empresas no Brasil vão passar por parcerias e ampliação de oferta de produtos nos próximos anos.
Daí a necessidade de investimentos, independentemente dos momentos específicos do mercado, como o atual. E esse investimento deve ser focado em tecnologias de melhoramento da produtividade, com contenção de custos e colocação à disposição dos produtores de um sistema completo de produção.
Apesar da situação incerta do momento, “o Brasil que estamos olhando é o dos próximos 10 ou 15 anos. O país vai ser uma realidade excepcional de produção de bens agrícolas no mundo.”
Mauritano acredita que o Brasil vai passar os EUA na capacidade de produção e de exportação de soja.
Mas, se alguns segmentos do agronegócio não vão bem neste ano, Mauritano vê boas oportunidades no setor sucroenergético, tanto na geração de energia como nas recuperações de etanol e açúcar.
O problema é que o que hoje é uma boa perspectiva só vai se materializar em 2017, acrescenta.
Fonte: Folha de S. Paulo