Os Estados Unidos passam agora pelo pior surto de gripe aviária em 30 anos. A doença apareceu no início do ano e já se alastrou até o momento por 12 estados. A pior situação está sendo registrada no estado de Iowa, onde de acordo com informações do site internacional The Des Moines Register, cinco milhões de aves terão que ser abatidas.
Diante de um grave surto de gripe aviária que já infectou milhões de frangos e perus nos EUA, o USDA deverá voltar suas atenções, novamente, ao desenvolvimento de uma vacina para combater a doença, segundo a Reuters.
Até agora, o USDA informou que prefere não permitir que os produtores vacinem seus planteis, já que isso poderia resultar em mais sanções aos produtos norte-americanos, incluindo a carne de frango e também ovos, em um mercado de exportações que trabalha com uma cifra de US$ 5.7 bilhões. Afinal, a vacinação poderia dificultar a apuração para saber se o animal realmente tinha o vírus ou se somente foi vacinado.
Com esse cenário, porém, o veterinário chefe do USDA, John Clifford, disse à Reuters que uma vez que essa vacina estiver pronta – o que ainda pode levar alguns meses – as circunstâncias podem levar a aprovação da vacinação em áreas onde o número de casos é bastante elevado.
A China, a Coreia do Sul, a África do Sul, o Canadá e o México já instituíram uma proibição total nas importações de produtos avícolas dos EUA, o que poderia resultar em um prejuízo anual de US$ 430 milhões, de acordo com o presidente do Conselho de Avicultura e Ovos dos EUA, James Summer.
Cientistas e profissionais do governo acreditam que o vírus esteja se espalhando pelas fezes de pássaros que estão fazendo a migração de áreas próximas ao rio Mississipi, onde os primeiros e mais graves casos foram identificados.
Para o analista Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, o impacto dessa epidemia de gripe aviária nos Estados Unidos ainda é bastante limitado sobre a demanda tanto de farelo de soja, quanto de milho, que são os principais componentes da ração de aves. “Ainda não há mudanças em seu quadro do consumo interno. Os impactos são localizados”, disse.
Além disso, o consultor afirmou ainda que também é limitada a possibilidade de compradores do produto norte-americano se voltarem para o mercado do Brasil, “mas, pode acontecer”. Isso acontece porque o mercado de exportações norte-americano conta com linhas de crédito bastante sólidas com seus importadores e a burocracia poderia mudar esse quadro no curto prazo.
Brandalizze explicou também que a gripe aviária é uma doença típica do inverno e que o impacto poderia ser mais grave, principalmente no médio e longo prazo, caso os EUA estivesse entrando nessa estação do ano, mas o momento é contrário. “A situação pode ser amenizada nos próximos dias com as temperaturas voltando a subir. Apesar de grave, a situação está sendo controlada, já que as questões sanitárias no país são tratadas com muita seriedade”, disse.
Apesar disso, o mercado internacional tanto da soja em grão, como do farelo e também do milho sentem a pressão, embora bem leve ainda, dessas notícias do agravamento da gripe aviária nos EUA e acabam comprometendo o avanço das cotações na Bolsa de Chicago.
Nesta quarta-feira (22), os três produtos operam em baixa e, ainda, segundo analistas internacionais, com os fundos vendendo parte de suas posições em função dessas notícias, entre outros fatores. Entretanto, essa também pode ser uma pressão passageira sobre as cotações, segundo o consultor. Desde 30 de março, quando as notícias sobre a gripe começaram a se agravar, os dois primeiros vencimentos do farelo já caíram um pouco mais de 2% na Bolsa de Chicago.
De acordo com números do USDA em seu boletim mensal de oferta e demanda de abril, o consumo de farelo de soja dos Estados Unidos na safra 2014/15 deverá ser 27.67 milhões de toneladas, contra 26.28 milhões da temporada anterior. E, os últimos números da NOPA (Associação Nacional dos Processadores de Oleaginosas dos EUA), o esmagamento de soja no país aumentou em março em relação a fevereiro e ao mesmo mês de 2014, para 4.431 milhões de toneladas, um recorde para o período.
Para o Brasil
Segundo o vice-presidente de aves da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), Ricardo Santin, o surto de gripe aviária nos Estados Unidos poderia ter impactos sobre o mercado avícola do Brasil. O quadro abre espaço para a exportação não só de carnes, mas também de materiais genéticos brasileiros.
“O Brasil não festeja a desgraça alheia, porém, as consequências não podem ser descartadas e essas serão benéficas em termos de mercado para o Brasil no médio prazo. O Brasil será chamado a suprir esses locais que estão sofrendo episódios de gripe aviária ou as necessidades daqueles países que não poderão comprar dos Estados Unidos por precaução”, disse Santin.
Atualmente, o Brasil é um grande exportador do setor avícola com mais de vinte clientes e tornou-se uma das referências do mercado, ainda de acordo com o representante da ABPA. Mercados como a Nicarágua e a Costa Rica, onde as relações estavam sendo abertas, agora se estreitam – depois de uma resistência dos importadores em potencial – e sinalizam essas novas oportunidades.
“O Brasil tem condições de ser um grande exportador de material genético. Já é para muitos países do Mercosul e mais a África, e agora tentaremos conquistar também a Ásia. No caso do frango, são mercados que são supridos pelos EUA e o Brasil está sendo chamado para suprir esse volume norte-americano”, disse Ricardo Santin.
Fonte: Notícias Agrícolas