“Greening” já ameaça tirar a Flórida do mapa citrícola

Os turistas fluem para a Flórida em seus carros para passar uma semana na Disney, uma temporada à beira-mar ou para curtir uma das festas sem fim que agitam South Beach. Cansados e com sede, chegam a um dos cinco centros oficiais de boas vindas e logo se deparam com cartazes que destacam, em letras garrafais, o suco de laranja local, um dos principais produtos da economia do Estado americano.

No passado, um tapete verde-esmeralda formado por pomares de citros cobriam mais da metade da Flórida – de Jacksonville, no nordeste, à Miami, na costa, passando pelos parques de Orlando. Especialmente as laranjas se tornaram sinônimo de uma Flórida quase mágica. Durante décadas, a citricultura resistiu a geadas, furacões e ao desenvolvimento econômico desenfreado.

Mas, agora, essa cadeia produtiva de US$ 9 bilhões enfrenta seu maior desafio: o greening, doença bacteriana batizada na China, onde foi identificada pela primeira vez, como “dragão amarelo” (huanglongbing, em chinês), cujo vetor é um inseto não maior do que as borrachas que ficam na ponta dos lápis. O psilídeo em questão não é nativo da Flórida e provavelmente chegou ao Estado “carregada” por algum viajante.

Na Flórida, o “asian citrus psyllid” foi identificado pela primeira vez em 1998, e sua proliferação pode ter sido facilitada pelos fortes ventos e furacões que costumam castigar o Estado. A doença em si, que prejudica o sistema vascular das plantas e normalmente causa sua morte, emergiu em 2005. Ainda não há cura conhecida contra o greening – que também prejudica pomares no Brasil.

Praticamente todo o cinturão citrícola da Flórida atualmente está afetado, em diferentes intensidades, pelo greening. Pesquisadores, produtores e especialistas concordam que a crise já começa a comprometer o peso e a imagem de destaque do Estado no segmento.

Na safra passada (2013/14), a colheita de laranja na Flórida rendeu 104 milhões de caixas de 40,8 quilos, e a tendência para 2014/15 é que o volume seja ainda menor. Em 2003, dois anos antes da descoberta do greening em suas fronteiras, foram 243 milhões de caixas.

“Isso afeta o Estado como um todo, com forte impacto econômico”, afirma Adam Putnam, comissário de Agricultura da Flórida, cuja família produz laranja desde o início do século XX. Conforme especialistas, se uma solução não for encontrada, toda a indústria local de citros entrará em colapso.

Se isso acontecer, estima-se que “packing houses” e unidades de processamento para a produção de suco terão de fechar por causa da falta de frutas. No total, são cerca de 75 mil empregos em jogo.

O avanço da doença coincide com a insistente queda da demanda global por suco de laranja, em parte por causa do avanço de bebidas concorrentes mais baratas no mercado. No grande varejo americano, por exemplo, o consumo já recuou ao menor nível em 12 anos. Os dois fatores – greening, que afeta a oferta, e consumo americano têm “duelado” na formação das cotações do suco de laranja concentrado e congelado (FCOJ) na bolsa de Nova York nos últimos tempos.

“Estamos lutando por nossa vida”, afirma Michael Sparks, CEO do Florida Citrus Mutual, braço de marketing e lobby dos citricultores do Estado americano. Desde 2008, já foram gastos US$ 90 milhões em pesquisas sobre o greening, e boa parte desses recursos saiu do bolso dos próprios produtores. Em 2014, o orçamento federal também incluiu outros US$ 125 milhões para pesquisas nessa frente.

Fonte: Valor

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