O governo brasileiro teme novas suspensões de frigoríficos pela China, além dos três já impedidos de exportar por determinação do país asiático e de outro barrado pelo próprio Ministério da Agricultura. O temor ocorre em um momento em que os chineses vêm endurecendo as restrições sanitárias à importação de alimentos, diante de sinais de um novo surto de casos da Covid-19 naquele país.
O Valor apurou que mais duas unidades podem entrar na lista de Pequim, que vem pedindo informações sobre casos de contaminação de funcionários nas fábricas do segmento. Além de estabelecimentos de carnes bovina e frango, os chineses também fizeram questionamentos sobre plantas de abate de suínos, de grandes empresas e de frigoríficos de menor porte.
Antes das suspensões, 102 frigoríficos do Brasil estavam habilitados a exportar à China, principal destino das exportações de carnes do país. Ainda que o número de plantas suspensas seja pequeno até agora, Brasília ainda busca entender quais critérios técnicos vêm sendo usados pela China para suspender as plantas, mesmo que temporariamente.
Por ora, o esforço é para afastar a questão ideológica do debate comercial com a China e levantar as suspensões de forma “clara e técnica”. O governo brasileiro vê a ação da China como um movimento global, já que Pequim também suspendeu a importação de carnes de unidades de países como Reino Unido, Holanda, EUA, Canadá e Austrália.
Mas há uma percepção de que ruídos recentes vêm tornando a relação bilateral com a China mais delicada, como ofensas de integrantes do governo Bolsonaro aos chineses e a intenção do Itamaraty de banir empresas chinesas do leilão da tecnologia de 5G no Brasil. “Antes da crise, a relação era excelente; agora está apenas normal”, disse uma fonte.
Ontem, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, sustentou, em conversa com parlamentares da bancada ruralista e diretores de mais de 40 associações de produtores e exportadores, que não há “problema de relação” com a China. Segundo informações de outra fonte, ela teria pedido para que sejam evitadas declarações à imprensa sobre o assunto.
Na segunda-feira, o Ministério da Agricultura informou, em nota, que a China suspendeu a importação de carnes de três frigoríficos brasileiros, após tomar conhecimento de casos de funcionários infectados com o novo Coronavírus por notícias veiculadas na imprensa brasileira. “É uma questão de segurança alimentar. A população chinesa está com medo de um novo surto e eles têm de dar uma resposta”, afirmou a fonte.
No entanto, paira a dúvida sobre os critérios científicos usados para as suspensões, uma vez que não há comprovação ou evidências científicas de que o novo Coronavírus seja transmitido por meio de alimentos in natura ou processados. É isso que aumenta o temor entre as empresas exportadoras.
Entre as plantas suspensas estão as unidades mato-grossenses de abate de bovinos de Várzea Grande, da Marfrig, e de Rondonópolis, que é da Agra (Grupo Alibem). Na indústria avícola, foram suspensas as exportações do frango processado pela Minuano em Lajeado e pela JBS em Passo Fundo, ambas no Rio Grande do Sul, esta última vetada pelo próprio Ministério da Agricultura.
“Não há fundamento técnico algum nessa suspensão. O produto está chegando lá, sendo analisado sem problema de qualquer natureza, sem Covid-19. Mas é uma forma de dar satisfação ao consumidor chinês”, disse o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra.
Analistas consultados pelo Valor também observaram que as suspensões ocorrem depois das importações firmes chinesas de grãos e carnes nos últimos meses.
Fonte: Valor Econômico