Os Fundos de Investimentos nas Cadeias Agroindustriais (Fiagro) movimentaram R$ 7.5 bilhões em valor de emissão no intervalo entre julho, quando foram regulamentados provisoriamente pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e novembro de 2021, segundo nota informativa da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia. No período, foram registrados 31 fundos (24 de investimentos imobiliários e sete de direitos creditórios), a maioria ainda em fase pré-operacional.
A expectativa é que o montante ultrapasse R$ 10 bilhões até o meio deste ano. Apesar das cifras elevadas, os valores das ofertas desses fundos ficaram em R$ 5.5 bilhões. Considerando apenas os sete Fiagro em pleno funcionamento, o número cai para R$ 1.4 bilhão, metade da estimativa inicial do mercado.
O desempenho aquém das expectativas das gestoras financeiras se deve, em parte, a mais um ano tumultuado na economia e à resistência de alguns investidores. Mas os Fiagro seguem sendo vistos com otimismo pelo governo e pelo mercado de uma forma geral, tanto para fomentar investimentos quanto para atenuar problemas estruturais do setor rural.
Para o Subsecretário de Política Agrícola e Negócios Agroambientais, Rogério Boueri, o esgotamento de recursos a juros controlados na safra 2021/22 e a expectativa de aumento de taxas no próximo ciclo podem ajudar os fundos a deslanchar. “O Fiagro é uma alternativa, já que tem taxas flutuantes”, disse. “É um instrumento sem exigibilidade nem subsídio do governo. Está sendo um sucesso”.
Segundo Boueri, a criação de mais alternativas de crédito e o aumento da competição nesse mercado vão reduzir o custo dos empréstimos na ponta. O movimento não foi plenamente observado em virtude da alta expressiva da taxa base. “Quanto maior a concorrência, menor será o spread que o produtor vai pagar no crédito. Nossa convicção é que o produtor estaria sentindo mais ainda a alta dos juros se não existissem essas válvulas de escape (…) Quando a Selic baixar, vamos ver realmente a força desse instrumento”, disse.
Na nota informativa, o Ministério da Economia indicou que os Fiagro abrem oportunidade para que pequenos investidores façam aportes e possam usufruir do crescimento do agro, com “maior dinamismo e transparência ao mercado de terras rurais, um mercado mais competitivo na formação de preços de terras, e maior liquidez ao estoque de terras como ativo do produtor rural”.
O documento realça o potencial desses fundos na atração de capital para o campo e de investimentos estrangeiros ao país. “O Brasil terá que elevar em 40% a produção nesta década, e investidores estrangeiros podem achar que essa é uma boa oportunidade. Mas a Constituição não permite que eles comprem terras aqui. Agora, eles podem, com o Fiagro imobiliário, apostar no crescimento, na valorização das terras, sem que o país abra mão da sua soberania”.
A equipe econômica aposta também nos efeitos positivos do melhor aproveitamento de terras mal administradas e de baixa eficiência, que inclusive fazem o Estado perder arrecadação. Como os imóveis precisam estar totalmente legalizados para integralizar esses fundos, a tendência é que os Fiagro ajudem no processo de regularização fundiária e de melhoria da gestão no campo. Entre um terço e metade das propriedades não estão plenamente regularizadas, segundo Boueri.
Outras vantagens dos Fiagro listadas na nota estão o diferimento no recolhimento do imposto, para o momento de venda das cotas ou na liquidação do fundo, e a liberdade do gestor para definir a forma de distribuição de rendimentos. Ainda não houve registro de Fiagro Participações. Essa modalidade permite compor fundos com participações de empresas do agro em suas carteiras. Com isso, o ganho econômico da atividade rural torna-se dividendo para os cotistas.
“É o private equity do agro, tem que estudar bem isso. Mas essa modalidade pode alavancar esses movimentos de grande consolidação e IPOs das empresas do setor no mercado de capitais”, disse Boueri.
Fiagro no Brasil