Com seus lucros pressionados por três anos de queda nos preços de produtos agrícolas, algumas das maiores empresas de agronegócio do mundo estão cogitando se unir umas às outras, no que pode ser a primeira grande transformação do setor em pelo menos uma década.
A Syngenta está negociando uma potencial fusão com a divisão agrícola da DuPont, dizem pessoas a par das conversas. A DuPont também está discutindo um outro possível acordo na área agrícola com a Dow Chemical, que está explorando a venda de sua unidade de sementes e pesticidas, disse uma pessoa a par do assunto.
As discussões estão nos estágios iniciais e podem não resultar em negócios, dizem as fontes.
Mas essas conversas ganharam força desde que a Monsanto desistiu, em agosto, de tentar adquirir a Syngenta por até US$ 46 bilhões, depois de ter sido rejeitada pela empresa suíça. Se tivesse sido fechado, o negócio teria criado a maior fornecedora mundial de sementes e pesticidas. Agora, porém, a Monsanto pode enfrentar a ameaça de concorrentes muito maiores se suas rivais acabarem se unindo, dizem analistas.
Os executivos têm indicado publicamente seu interesse na consolidação do setor, sem serem específicos. Edward Breen, que se tornou diretor-presidente da DuPont em 16 de outubro, depois da saída de Ellen Kullman, disse na semana passada que vem discutido acordos com outras empresas do setor.
“Todo mundo está conversando com todo mundo”, disse o diretor-presidente da Dow Chemical, Andrew Liveris, numa teleconferência em 22 de outubro, quando a empresa anunciou que estava estudando possibilidades de negócios para sua divisão agrícola.
A renda agrícola dos Estados Unidos deve atingir seu nível mais baixo em quase dez anos, reduzindo os lucros no mercado global de sementes geneticamente modificadas e produtos químicos para matar ervas daninhas e insetos.
As empresas de agronegócio também estão às voltas com pragas que vêm desenvolvendo resistência aos produtos comumente utilizados. Outro desafio é o aumento das preocupações dos consumidores em relação ao uso de produtos químicos e de sementes modificadas na lavouras.
“A evolução natural é elas se unirem, cortarem custos, juntarem esforços de pesquisa e desenvolvimento e ganharem escala”, disse Ari Gendason, diretor sênior de investimentos corporativos da Continental Grain, holding que se concentra no setor agrícola e possui ações de fabricantes de sementes. “Caso uma [fusão] aconteça, então mais de uma vai acontecer.”
As recentes negociações estão ocorrendo em meio a uma crescente pressão dos investidores por retornos melhores. O fundo ativista Trian Fund Management brigou por mudanças na DuPont, assim como seu par Third Point fez com a Dow Chemical. Em outubro, alguns acionistas da Syngenta formaram um grupo para protestar contra a recusa da oferta da Monsanto. A Syngenta, cujo diretor-presidente pediu demissão inesperadamente em outubro, afirma que está vendendo sua unidade de sementes de hortaliças e flores e examinando as outras divisões de sementes.
Crédito barato, pressão competitiva para garantir parceiros e outros fatores têm alimentado um boom de grandes negócios que deve tornar 2015 um ano recorde de fusões e aquisições.
No inicio da década passada, uma série de acordos de bilhões de dólares formou o grupo das “seis grandes” empresas — que também inclui a Bayer e a BASF — que continuam a dominar o setor global de sementes e pesticidas. O último negócio expressivo do setor foi fechado em 2007, quando a Monsanto adquiriu a fornecedora de sementes de algodão Delta & Pine Land por US$ 1.5 bilhão, segundo dados compilados pela Dealogic.
Na época, produtores viviam um período próspero, graças em parte ao aumento da demanda por grãos pela pecuária em expansão e pelo setor de biocombustíveis. Isso ajudou a elevar de forma expressiva a renda agrícola e possibilitou que as fabricantes de sementes e pesticidas obtivessem margens consideráveis para seus produtos.
Mas três anos consecutivos de safras excepcionais aumentaram os estoques mundiais e pressionaram os preços dos grãos e oleaginosas. O Departamento de Agricultura dos EUA espera que a renda agrícola do país recue 36% neste ano, para seu menor nível desde 2006.
Uma fusão da Syngenta com a unidade agrícola da DuPont controlaria cerca de 27% das vendas globais de pesticidas, segundo dados compilados pelo Morgan Stanley.
Analistas dizem que essa fusão pode exigir da Syngenta a venda de sua unidade americana de sementes para facilitar a aprovação do negócio pelos reguladores, uma vez que a DuPont já controla 35% e 33% dos mercados americanos de sementes de milho e soja, respectivamente.
A DuPont e as operações agrícolas da Dow combinadas controlariam cerca de 17% do mercado global de pesticidas, tornando a empresa resultante na terceira maior do mercado, atrás da Syngenta e da Bayer, segundo o Morgan Stanley. A unidade de sementes da Dow também poderia ter que ser vendida no caso de uma fusão.
No ano passado, o Trian pressionou a DuPont a desmembrar sua unidade agrícola, mas Ellen Kullman descartou a medida, dizendo que seria muito caro e traria poucos benefícios claros.
A maioria dos executivos do setor diz que as safras gigantes e os baixos preços das commodities devem continuar, a não ser que uma grande seca ou uma epidemia ocorra, ampliando os desafios para os agricultores e para as empresas fornecedoras.
Brett Wong, analista da Piper Jaffray , disse que o período de preços baixos “pode ser mais longo que as pessoas pensam”.
Fonte: The Wall Street Journal