Encurtar o caminho da seleção de bovinos e do melhoramento genético na pecuária brasileira, atingindo melhores resultados em campo, principalmente no que diz respeito à qualidade do leite produzido no país, e ainda poupando três gerações de bovinos ou cerca de dez anos de seleção.
Esses são os principais resultados já observados por cientistas da Embrapa Cerrados, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária localizada em Planaltina (DF), em relação ao desempenho da técnica de Fertilização In Vitro (FIV). Agora, o objetivo é atestar que esse método, mesmo que seja mais caro inicialmente, pode ser o melhor investimento para os pecuaristas que pretendem obter um excelente padrão genético de seus rebanhos.
Conforme os pesquisadores envolvidos nesse trabalho, considerando hipoteticamente um rebanho de produção média de quatro mil quilos de leite por lactação, se fosse utilizada a inseminação artificial com sêmen de um touro que adicione 500 quilos de leite por lactação às filhas, seria necessária cerca de 30 anos para obter uma fêmea, com produção de nove mil quilos de leite por lactação.
Pela FIV, utilizando uma fêmea superior de outro rebanho (de nove mil quilos por lactação) e o sêmen sexado do touro, segundo exemplo anterior, já na primeira geração (três anos) seria possível reproduzir uma fêmea com produção média de 9,5 mil quilos por lactação.
De acordo com a Embrapa Cerrados, a produção de leite da primeira lactação dessa fêmea já pagaria o investimento com a compra de genética, por meio de prenhezes de fertilização in vitro.
CUSTOS
Embora o custo seja maior que a tradicional técnica de Inseminação Artificial por Tempo Fixo (IATF), o investimento aplicado na FIV, com sêmen sexado de um touro de elevado valor genético, é inferior ao de um animal arrematado em leilão e que pode não ter sido avaliado em provas de genética, não disponibilizando a garantia quanto ao nascimento de filhas mais produtivas.
Médico veterinário e doutor em Biologia Molecular, o pesquisador Carlos Frederico Martins, do Centro de Transferência de Tecnologias de Raças Zebuínas com Aptidão Leiteira da Embrapa Cerrados, ressalta que o pecuarista pode adquirir uma prenhez de alto valor genético, produzido com espermatozoide de um touro bem ranqueado em teste de progênie e com oócito de vaca provada.
“O produtor não consegue comprar bons animais em um leilão por esse preço. Por isso, trata-se de um investimento com retorno rápido e assertivo, com quase 100% de chance de inserção de uma boa genética no rebanho”, afirma o especialista.
Martins comenta que, por falta de conhecimento adequado, muitos pecuaristas não incorporam a genética de qualidade aos rebanhos. No entanto, garante que “a FIV está mais acessível, a cada dia, sendo realizada por um crescente número de laboratórios”.
LIDERANÇA DO BRASIL
A International Embryo Transfer Society (IETS) aponta que o Brasil lidera o ranking mundial da produção de embriões bovinos por meio da fertilização in vitro. No ano de 2013, quando foi divulgado o último relatório da instituição internacional, o país produziu mais de 366 mil embriões bovinos pela técnica, ou 70,8% do total em todo o planeta.
“Talvez os criadores não saibam que podem comprar um processo de tecnologia ou genética por um preço mais baixo que há alguns anos”, pondera Martins.
Segundo ele, “é possível financiar a aquisição de prenhezes de animais extremamente produtivos e premiados e obter retorno imediato, já que as mães e os pais são provados (avaliados em provas de genética) e a chance de as filhas serem grandes produtoras de leite é bastante elevada”.
O Brasil já se firmou como um importante exportador de genética tropical, ao registar um crescimento de mais de 30% nas vendas de sêmen das raças de corte e em torno de 36% das raças leiteiras, em 2016.
Segundo relatório da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), as vendas externas de sêmen cresceram 33,1% no ano passado, totalizando 296.371 doses (corte e leite)”. Leia mais na reportagem “Exportações e vendas internas de sêmen bovino sinalizam recuperação do setor”, elaborada pela equipe SNA/SP: sna.agr.br/?p=47377.
BAIXA QUALIDADE
Na região do Distrito Federal, onde fica a sede da Embrapa Cerrados, a maioria dos produtores de leite é de pequeno e médio porte, sendo que 80% das propriedades têm área de até 20 hectares. Para os especialistas, o fraco desempenho produtivo na região está estreitamente ligado à qualidade genética dos rebanhos, a maior parte formada por mestiços das raças Gir e Holandês e sem registro de genealogia.
“A monta natural ainda é muito utilizada, principalmente por pequenos produtores. Isso atrasa a seleção genética, pois os cruzamentos são feitos sempre com os mesmos touros, e esses animais normalmente não são provados”, aponta o pesquisador.
A TÉCNICA
Para entender melhor a técnica, a Embrapa Cerrados destaca que, na FIV, as células sexuais femininas (oócitos) aspiradas dos folículos ovarianos de uma vaca são fecundadas, em laboratório, por espermatozoides contidos no sêmen de um touro.
Por meio dessa técnica, uma fêmea pode produzir, em média, dez embriões, levando em conta a taxa de 50% de sucesso na fecundação. Os embriões originados desse processo são transferidos a uma fêmea receptora, que deve ser preferencialmente novilha ou vaca de primeira cria.
Conforme Martins, isso permite que a triagem dos animais seja mais rápida em comparação à técnica de Inseminação Artificial por Tempo Fixo (IATF), que costuma gerar apenas um embrião por inseminação. A cada 15 dias, uma nova aspiração folicular pode ser feita, alcançando mais prenhezes. Como o sêmen de vários touros pode ser usado, a FIV permite uma variabilidade genética.
“Mesmo se a vaca doadora ficar prenha é possível fazer aspirações, durante os cinco primeiros meses de gestação. Com oito aspirações em apenas quatro meses, por exemplo, podemos obter cerca de 80 embriões, e de 32 a 40 prenhezes contra apenas uma prenhez para cada IATF, que vai imobilizar a fêmea por quase um ano”, explica o pesquisador da Embrapa Cerrados.
VANTAGENS
O especialista também garante que, para quem seleciona genética, o uso da FIV permite um salto de três gerações em comparação à monta natural e à Inseminação Artificial por Tempo Fixo: “É o tempo de o animal crescer e ter a primeira lactação. Para quem está formando o rebanho, a técnica é ainda mais indicada, porque você vai direto ao que há de melhor em genética, juntando a melhor fêmea provada com o melhor touro e produzindo embriões em escala”.
De acordo com Martins, outra vantagem é a maior eficiência na utilização do sêmen sexado para a fêmea, ferramenta muito importante para a pecuária de leite. Isso proporciona cerca de 90% de chances de nascimento de animais do sexo feminino.
“Você dirige o melhoramento. Com o sêmen não sexado, a chance de nascer fêmeas é de apenas 50%. Já com o sêmen sexado, aumenta a chance de o produtor obter mais fêmeas extremamente melhoradas na propriedade sem a necessidade de descartar ou vender os machos”, ressalta o médico veterinário, doutor em Biologia Molecular.
Por equipe SNA/RJ com informações da Embrapa Cerrados