A raça bovina Wagyu é de origem japonesa e foi, inicialmente, desenvolvida pra ser utilizada no serviço de tração auxiliando nas lavouras arrozeiras do Japão. Para tanto, são animais que precisavam ter rápida disponibilidade de energia e, consequentemente, de bastante força pra puxar os arados. Indiretamente, nessa seleção, começaram a selecionar os animais que tinham maiores níveis de marmoreio, aspecto diretamente ligado à maior qualidade da carne em relação a outras mais comuns como a Angus, por exemplo.
Grau de marmoreio
O grau de marmoreio pode variar de 0 a 12. A média de marmoreio dos animais da raça Wagyu no Brasil gira em torno de 4, que é um número alto se comparado com a média de outras raças, como que é o caso da raça Angus, que tem bastante marmoreio, porém possui grau em torno de 2 a 2,5.
Maior qualidade
A carne da raça Wagyu possui mais ácidos graxos monoinsaturados, ômega 3 e ômega 6, sendo uma gordura, nutricionalmente, de melhor qualidade. Além disso, devido seu alto grau de marmoreio, esta carne contém elevados níveis de maciez.
Cruzamentos industriais
De acordo com o diretor da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Wagyu, Ricardo Zanella, esta raça está sendo bastante utilizada no Brasil para cruzamentos industriais com outras raças, principalmente com foco no aumento da qualidade da carne para produzir cortes nobres. “Temos a linha de animais puros e temos também a linha de animais cruzados, onde o cruzamento com raças de origem taurina estão melhorando bastante a qualidade do produto, principalmente nos níveis de marmoreio”.
“Iniciamos um projeto em parceria com a prefeitura municipal de Paim Filho (RS), onde vamos disponibilizar genética dos animais da raça Wagyu para inseminação de bovinos de corte e também bovinos de leite com o intuito de produzir terneiros com valor agregado”, explicou Ricardo Zanella.
Alto valor agregado
Investir em bovinos da raça Wagyu é vantajoso por se tratar de uma carne com alto valor agregado. “Se nós formos considerar um terneiro de raça Angus e comercializarmos ele para ir para um confinamento, o retorno será de um valor de X. No caso do bovino da raça Wagyu meio sangue, em cima de uma vaca Angus, podemos lucrar até 45% a mais do valor do terneiro por essa bonificação dos animais”, enfatizou o diretor.
A raça bovina japonesa também tem a habilidade de implementar a qualidade da carne em raças índicas como o Nelore, o Guzerá, o Tabapuã, por exemplo, adquirindo uma melhoria bastante expressiva no produto final.
O quilo da carne bovina Wagyu pode ultrapassar os R$ 1 mil, dependendo do corte e da classificação de marmoreio.
Aumento na procura
No Brasil, é crescente a procura de produtores querendo utilizar o cruzamento terminal ou industrial com o bovino Wagyu, justamente com o intuito de melhorar a qualidade da carne, de acordo com o representante da Associação.
“Vejo esta atividade como uma alternativa bastante interessante para pequena e média propriedade rural, onde o produtor tem um espaço limitado e não consegue ter muitos animais. Entretanto com poucos animais já é possível ter um aumento na sua rentabilidade. E é assim que funciona no Japão. Lá, as propriedades são muito pequenas, então os produtores acabam conseguindo agregar valor aos seus produtos quando optam por esta raça”.
Manejo diferenciado
A produção de carnes nobres requer um cuidado nutricional. No caso da raça japonesa, o primeiro trimestre gestacional da fêmea é de extrema importância para a deposição e para a formação dos adipócitos e também das fibras musculares. Para isso, é oferecida a esta fêmea prenhe uma dieta balanceada.
Logo nos primeiros dias de vida, o animal macho da raça Wagyu é submetido à orquiectomia (castração), porque existem alguns trabalhos científicos mostrando que a produção de testosterona pelas células de leite acaba interferindo na deposição do marmoreio. Geralmente, os animais ficam com a mãe até em torno dos cinco meses recebendo também um creep-feeding, ou seja, uma alimentação suplementar, porque as fêmeas da raça Wagyu não têm uma grande produção de leite.
Até os 12 meses, os animais ficam no campo e depois dos 16 meses vão, inicialmente, para um semi-confinamento e depois para um confinamento onde recebem uma dieta balanceada com elevados níveis de energia para implementar a deposição de marmoreio. “É fundamental cuidar da a parte nutricional, do manejo, do bem-estar deles para que consigam expressar todo o seu potencial genético”.
Aumento de criadores e animais
Em relação ao número de animais e criadores, o Brasil está crescendo anualmente. Atualmente, são 65 criadores registrados e mais de 10 mil animais puros. Animais cruzados marcam, aproximadamente, 25 mil animais. No ano passado, foram comercializadas mais de 30 mil doses de bovinos da raça Wagyu no Brasil.
Em relação ao ranking da produção desta raça, o Brasil ainda é bastante modesto. Os grandes players são a Austrália, os Estados Unidos e o próprio Japão. “Acredito nós estamos entre os seis maiores produtores de Wagyu e temos bastante potencial de crescimento”, finalizou Ricardo Zanella.
*Ricardo Zanella é também médico veterinário, mestre PhD em Ciência Animal, professor do curso de Medicina Veterinária do programa de pós-graduação em Bioexperimentação da Universidade de Passo Fundo (RS).