Fundo da ONU eleva aporte em projetos para pequeno produtor

A região de Manoel Vitorino, no sudoeste da Bahia, é conhecida por concentrar no País a produção de umbu, um fruto nativo da Caatinga. Pequeno e verde, à semelhança de um limão, e de sabor também um tanto azedo, o produto tem embalado a renda de famílias pobres do sertão, por meio de um projeto que estimula a industrialização da matéria-prima.

A Cooproaf, cooperativa local constituída em 2010 e formada por 74 associados, é um símbolo da profissionalização que abriu portas no mercado para a venda de doces, compotas e geleias de umbu. Com um faturamento de R$ 500.000,00 no ano passado e expectativa de chegar a R$ 1.5 milhão em 2015, a Cooproaf já conta com quatro agroindústrias e deve muito desse avanço ao Fundo Internacional para Desenvolvimento Agrícola (FIDA), braço de financiamento rural da Organização das Nações Unidas (ONU).

“O investimento para toda essa estrutura da Cooproaf passa de R$ 6 milhões, incluindo assistência técnica, legalização, certificações. E metade veio do FIDA”, disse Egnaldo Gomes Xavier, que trabalha para a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), órgão do governo baiano responsável pela operacionalização desses recursos.

Com atuação ainda discreta, mas colhendo resultados animadores, o FIDA chegou ao Brasil na década de 1980. Entretanto, foi a partir de 2008 que o fundo fortaleceu seus investimentos com um plano que privilegiou o Nordeste e esteve vigente até o ano passado. A entidade participa atualmente de aportes que totalizam em torno de US$ 450 milhões, entre recursos próprios e dos governos estaduais e federal – o sistema é de cofinanciamento.

Além do umbu, a busca do FIDA é pelo fortalecimento das cadeias produtivas de outras atividades tradicionais do Nordeste, caso da produção de mel, caju, mandioca e da criação de pequenos animais. O Brasil pesa com quase um terço de todo o investimento que o Fida participou na América Latina e no Caribe no ano passado, de cerca de US$ 1.5 bilhão, detalhou ao Valor o italiano Paolo Silveri, que desde outubro de 2014 está à frente das operações do fundo no Brasil.

O FIDA estimula iniciativas que permitem o ingresso de organizações de pequenos produtores no mercado, com o objetivo de movê-los da subsistência para um nível comercial. “Buscamos assegurar que esses grupos estejam em condições de seguir com sua autonomia econômica quando os projetos terminam”, acrescentou Silveri, que trabalha na entidade há mais de 20 anos.

A Cooproaf é um dos ícones do sucesso do FIDA no País, e especificamente, na Bahia. “O trabalho na Bahia é particularmente interessante porque se manteve a mesma equipe ao longo de todos esses anos. Um projeto normalmente leva seis anos, ou um pouco mais, e estamos no terceiro projeto seguido, que vai mudando de áreas dentro do Estado, mas segue focalizando no Semiárido e na redução da pobreza”, explicou Silveri.

Não por acaso o FIDA instalou seu primeiro escritório do país na capital baiana, em 2011. A partir de Salvador, coordenam-se projetos em desenvolvimento em Estados como Piauí, Ceará, Sergipe e na Paraíba. Em toda a sua trajetória no Brasil, esse braço da ONU já ajudou a financiar 11 projetos, que totalizaram US$ 830 milhões (sendo US$ 259.7 milhões financiados diretamente pelo FIDA), beneficiando 365.400 famílias.

Silveri ressaltou que há muitos programas federais com uma oferta de recursos maior que a do FIDA. Então, como a entidade se destaca? Para o italiano, o Fida tem uma característica “relativamente única”: ser uma mescla de fundo de investimento e agência das Nações Unidas. “De agência das Nações Unidas, tem o mandato humanitário de erradicação da pobreza rural. De fundo de investimento, tem o perfil de banco, trabalhando sobretudo com empréstimos, que têm de ser devolvidos com juros, ainda que muito baixos, obviamente”, disse. Esses empréstimos não se justificam, acrescentou ele, se não geram no país um benefício econômico pelo menos equivalente, mas em princípio muito maior que o custo desse dinheiro.

Ao longo desta primeira metade de 2015, estão sendo feitas avaliações de desempenho em relação à estratégia anterior. No segundo semestre, a expectativa do FIDA é elaborar junto aos governos estaduais e federal e às organizações de produtores um novo plano de ação, que deve ser aprovado até abril do ano que vem. “Este ano [de 2015] será uma etapa de reflexão estratégica. Não está decidido, mas o período de 2016 a 2018 deve começar com uns US$ 50 milhões, e a partir disso se levanta uma cifra muito maior”, adiantou Silveri.

 

 

Fonte: Valor Econômico

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