Após as turbulências de 2015 e 2016, período no qual a restrição de boi gordo e a recessão da economia provocaram o fechamento de mais de 50 frigoríficos e a demissão de 7,9 mil pessoas, a indústria de carne bovina parece ter entrado em nova fase, embalada pela inversão do ciclo da pecuária e pela retomada da economia.
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) compilados pelo Valor, o saldo de empregos nos abatedouros de bovinos do país ficou positivo em 8,7 mil vagas entre janeiro e novembro – o dado de dezembro ainda não foi divulgado. Trata-se do melhor desempenho desde 2012, quando os frigoríficos geraram 10,2 mil vagas. Dono do maior rebanho do Brasil, Mato Grosso lidera o movimento, seguido por Rondônia, Mato Grosso do Sul, Goiás e Pará (ver infográfico).
As vagas criadas no último ano representam um crescimento de 7,5% ante com o estoque de 113,1 mil empregados em abatedouros de bovinos em dezembro de 2016, de acordo com os dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho.
A tendência é que o saldo de empregos do setor cresça ainda mais, incluindo unidades que serão reabertas neste ano pelo Frigol em Juruena, pela Marfrig em Pontes e Lacerda e pelo Frigoestrela em Rondonópolis, ambos em Mato Grosso. Aos dados também devem ser acrescidos o frigorífico do Rodopa em Cachoeira Alta (GO), que foi arrendado pelo Frigol e voltou a funcionar em dezembro, gerando 380 vagas, segundo o presidente da empresa paulista, Luciano Pascon.
Além da conjuntura econômica favorável e da maior oferta de bois, o ressurgimento de frigoríficos reflete o rearranjo provocado pela delação premiada dos irmãos Batista, donos da JBS. Ao longo do último ano, a empresa entregou três frigoríficos em Mato Grosso que estavam alugados e fechados há alguns anos. Entre as plantas estavam as de Juruena e Pontes e Lacerda – que agora serão reabertas.
“Com essa saída da JBS, você traz um novo cenário a essas regiões”, avalia o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), vinculado à Escola de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Thiago Bernardino de Carvalho. Para ele, a concentração do setor restringia as alternativas aos pecuaristas do país.
No Mato Grosso, a JBS chegou a ter mais de 50% da capacidade de abate – incluindo unidades abertas e fechadas – conforme o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Frigoríficos da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, concluído em 2017.
Conforme o pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UMFT), Ernani Pinto de Souza, a maior concorrência no setor é positiva, mas exige competência dos novos entrantes. “A JBS está tentando retomar a credibilidade”, diz.
Fonte: Valor Econômico com edição do BeefPoint