Fenômenos climáticos pontuais como o El Niño e a La Niña, além das constantes mudanças no clima têm interferido na produtividade e também na qualidade dos alimentos.
O pesquisador da Embrapa Hortaliças, Carlos Pacheco, explicou que existem projeções de futuro mostrando que esses fenômenos vão se tornar cada vez mais comuns com a decorrência das mudanças climáticas. “Dentre muitos aspectos possíveis de influenciar, eu destaco uma perda da qualidade em razão de possíveis ocorrências de doenças fúngicas e bacterianas. Também podem haver impactos físicos com a presença de chuvas e ventos intensos; e até granizo, que tendem a danificar as folhas das hortaliças. No caso da seca, o impacto pode ocorrer com a baixa nos reservatórios de água, ocasionando uma menor disponibilidade de água para irrigação”.
O pesquisador ressaltou que, ao contrário de muitas culturas de grãos, onde a produtividade é o que predomina, o comércio das hortaliças está muito associado ao aspecto visual daquele alimento. “Via de regra, o consumidor tende a escolher folhosas, tubérculos ou demais produtos pela aparência; o que pode acarretar em impacto na economia caso os efeitos naturais sejam severos nas produções”.
Segundo Carlos Pacheco, existem trabalhos mostrando que tanto o excesso de água quanto a falta dela, podem acarretar diferentes tipos de deficiências nutricionais nas plantas cultivadas. “Quando se pensa na seca, por exemplo, é muito comum a ocorrência de redução no fluxo de nutrientes na zona radicular da planta. Uma planta que absorve menos nutrientes, vai ser mais pobre realmente em alguns compostos nutracêuticos. No caso do calor intenso, é muito comum a deficiência de cálcio, levando à queima de bordas”.
Adaptação da agricultura
Existem várias estratégias para a adaptação da agricultura às mudanças climáticas que vão desde processos relativamente mais simples e baratos, como a conversão dos sistemas convencionais de produção para sistemas conservacionistas, onde se tem um impacto expressivo na redução da amplitude térmica, na maior manutenção de umidade no solo, e diminuição significativa da erosão do solo; até processos mais complexos e onerosos, como o cultivo em estufas, ou indoor, a exemplo das fazendas verticais.
Sequestro de carbono
A Embrapa Hortaliças tem trabalhado em estudos na linha de agricultura de baixo carbono e, por meio desses, concluiu que sistemas que revolvem menos o solo, que rotacionam as culturas tendem a sequestrar mais carbono que os sistemas convencionais de produção.
“O uso do sistema de plantio direto, durante seis anos, em nossa área experimental, resultou num sequestro de carbono no solo de cinco toneladas por hectare a mais do que o sistema convencional. Também temos observado que o uso de insumos orgânicos e de bioinsumos, apresentam potencial para aumentar o sequestro de carbono em solos cultivados com hortaliças. O uso desses produtos também potencializam a redução dos impactos das altas temperaturas sobre a ocorrência de danos às culturas. Ou seja, existe um potencial de promoção da adaptação desses sistemas de produção a essas novas condições climáticas projetadas”.
Outra linha de pesquisa, em andamento, desta Embrapa é coordenada pela Doutora Mariana Fontenelle, que está desenvolvendo bioinoculantes e avaliando o potencial de uso desse material de modo a também reduzir esses impactos relacionados ao clima, à alta demanda por fertilizantes e ainda com o potencial de promoção do sequestro de carbono.
Reuso da água
O reuso do esgoto sanitário tratado para irrigação de hortaliças é uma outra técnica desenvolvida pela Embrapa. “Esse reuso acaba sendo conduzido como uma forma de fértil irrigação, porque aquela água, aquele fluente final que se obtém, é muito rico em alguns nutrientes como nitrogênio, fósforo e cálcio. E aquela planta bem alimentada somado ao aporte dessa água no solo, aparentemente, tem o potencial de ativação da biomassa microbiana e de aumentar essa promoção da fixação de CO2 atmosférico em solo. Existem ainda estratégias já registradas como sistemas integrais e agroflorestais”, explicou Carlos Pacheco.
O representante da Embrapa finalizou afirmando que “o desenvolvimento, a pesquisa, a inovação e a adoção de práticas conservacionistas e de adaptação a essas mudanças climáticas devem ser iniciadas já para que, no futuro, não soframos as consequências desses eventos climáticos extremos”.
Veja na íntegra a entrevista com Carlos Pacheco, pesquisador da Embrapa Hortaliças.
Por Larissa Machado