Florestas nativas avançam mais de 80% no Vale do Paraíba paulista, aponta estudo

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Área de Preservação Permanente (APP) recuperada no Vale do Paraíba paulista: florestas nativas fornecem alimento e abrigo para a fauna e ainda constituem barreiras naturais contra a disseminação de pragas e doenças da agricultura. Foto: Divulgação Embrapa

O Vale do Paraíba paulista, nas últimas três décadas, registrou um crescimento de mais de 80% em sua vegetação nativa. Essa constatação foi feita por meio de estudo realizado pela Embrapa Monitoramento por Satélite (SP), durante cinco anos, na região.

“O aumento das áreas de florestas no Vale do Paraíba paulista não ocorre por meio do plantio de novas árvores, mas pela regeneração da vegetação em áreas onde a agricultura e a pecuária não são competitivas, principalmente sobre terrenos declivosos. Dessa forma, a floresta está tomando o lugar da pastagem”, afirma o pesquisador da entidade, Carlos Cesar Ronquim.

Para o especialista, os principais fatores que contribuem para o ressurgimento das florestas são diversos e estão interligados. Entretanto, a conformação acidentada do relevo em toda a região pode ser considerada, mesmo que indiretamente, o principal fator desencadeante de todo o processo de retorno da vegetação nativa.

“Em torno de 50,6 % da área da região de estudo, calculada em 1.395.975 hectares, é dominada por terrenos com grau de declividade acima de 20%. A irregularidade dos terrenos que culmina no chamado ‘mar de morros’ proporciona à agropecuária um retorno econômico insatisfatório ou nulo, devido à incapacidade de manejo adequado para as culturas agrícolas”, explica.

De acordo com o pesquisador, como as terras não são aptas à agricultura, a competitividade por área entre culturas agrícolas não existe na região. “A ausência de grandes empresas do agronegócio ou grandes empresários rurais investindo na produção agrícola própria ou arrendando terras causou aos pequenos e médios produtores, mais descapitalizados e com escassos recursos de investimento, certa fragilidade para se integrarem às cadeias agroindustriais e tornarem as propriedades rentáveis”, esclarece Ronquim.

Diante desse quadro, a região tornou-se apta preferencialmente para as pastagens extensivas responsáveis pela produção de carne e de leite. “Porém, nem mesmo a pecuária extensiva do Vale torna-se competitiva diante de relevo tão declivoso, inclusive algumas áreas nas propriedades, principalmente as inacessíveis ao gado, deixam de ser manejadas e favorecem o retorno da vegetação nativa”, comenta o pesquisador da Embrapa.

 

OUTROS FATORES

Ainda de acordo com Ronquim, a baixa rentabilidade do setor leiteiro, o aumento das exigências de padrão de qualidade por parte das indústrias de laticínios, a dificuldade em contratar e de encontrar mão-de-obra qualificada, entre outros fatores, têm dificultado a manutenção da atividade.

 

Pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite, Carlos Cesar Ronquim afirma que “o aumento das áreas de florestas na região do Vale do Paraíba paulista não ocorre por meio do plantio de novas árvores, mas pela regeneração da vegetação em áreas onde a agricultura e a pecuária não são competitivas, principalmente sobre terrenos declivosos”. Foto: Divulgação Embrapa
Pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite, Carlos Cesar Ronquim afirma que “o aumento das áreas de florestas na região do Vale do Paraíba paulista não ocorre por meio do plantio de novas árvores, mas pela regeneração da vegetação em áreas onde a agricultura e a pecuária não são competitivas, principalmente sobre terrenos declivosos”. Foto: Divulgação Embrapa

“A manutenção ou mesmo a ‘limpeza’ da pastagem também tem se tornado mais difícil e onerosa devido à falta de mão de obra rural. O menor investimento dos proprietários contribui para a diminuição do manejo de áreas menos aptas ao pastoreio pelos animais, como os topos de morros e encostas mais íngremes, além das vertentes de morro na face sul que são menos favoráveis para o desenvolvimento das pastagens, o que favorece o avanço das florestas”, diz.

O pesquisador informa ainda que, adicionalmente aos fatores anteriores, as leis ambientais em vigor provocaram restrições legais que dificultam o corte ou a queima da “capoeira” que se forma nas áreas sem manejo. Portanto, o abandono das áreas de pastagens mais restritivas ao pastejo do gado e ao manejo do produtor acaba favorecendo a volta da vegetação arbórea nativa. “Portanto, observa-se que nos municípios da região a regeneração ocorre por sucessão da mata secundária e não pelo plantio de árvores.”

 

AUMENTO DA PRODUÇÃO

Apesar das dificuldades, o pesquisador da Embrapa afirma que o retorno da vegetação nativa não afetou a produção pecuária. Além dos benefícios proporcionados pela vegetação nativa ao meio ambiente, as produções de leite e carne aumentaram nos últimos 30 anos (Figura 1).

 

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“Nos últimos 30 anos, a produção de carne passou de 731 mil para 2,9 milhões de arrobas e a produção leiteira saltou de 187 mil para 206 mil litros, mesmo com um rebanho leiteiro menor”, informa Ronquim e acrescenta que, apesar do menor número de produtores na região, os produtores que se mantiveram na atividade aumentaram a produtividade com investimentos em tecnologia.

 

SERVIÇOS AMBIENTAIS

O pesquisador da Embrapa também observou, durante o estudo, os serviços ambientais que regiões como o Vale do Paraíba paulista podem oferecer: “Além do sequestro de carbono, as florestas nativas prestam muitos outros serviços ecológicos ao ambiente e mesmo à agropecuária, tais como, regular a temperatura e umidade do ar; aumentar a infiltração da água no solo e suprir os lençóis freáticos; proteger o solo e reduzir a erosão, bem como o assoreamento e carregamento de sedimento para os cursos d’água; auxiliar a manutenção da qualidade da água e formar corredores que contribuem para a conservação da biodiversidade”.

Ronquim aponta outras vantagens proporcionadas pelas florestas nativas: fornecem alimento e abrigo para a fauna, constituem barreiras naturais contra a disseminação de pragas e doenças da agricultura, servem de refúgio para polinizadores e inimigos naturais das pragas agrícolas, formam paisagens sustentáveis que se constituem em mosaicos de áreas de vegetação nativa e áreas de produção e cultivo agrícola que maximizam os benefícios econômicos, ecológicos, socioculturais e turísticos.

Ele destaca ainda que muitas cidades do Vale desenvolvem o turismo e se favorecem ainda mais desse fenômeno do retorno da vegetação nativa ampliando ainda mais a vocação turística.

 

Por equipe SNA/SP

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