Fim do embargo russo a carnes está próximo

Após praticamente um semestre, o embargo da Rússia às carnes bovina e suína brasileiras pode ser levantado neste mês. A sinalização positiva de Moscou foi repassada pelo Ministério da Agricultura do Brasil aos exportadores.

Segundo o vice-presidente de mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, as dúvidas técnicas que restavam foram dirimidas na última reunião entre representantes do serviço sanitário russo (Rosselkhoznadzor) e do Ministério da Agricultura. Realizado em Bruxelas no dia 24 de abril, o encontro teve a participação do diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) do ministério, José Luis Vargas. “Entregamos tudo e estamos esperando a reabertura. Não estamos devendo nada”, disse Vargas ao Valor.

Sem problemas técnicos, a última pendência seria de ordem política. Entre os exportadores, aguardava-se com ansiedade a posse de Vladimir Putin para seu novo mandato (o que ocorreu em 7 de maio) e a definição do novo ministro da Agricultura da Rússia. Na sexta-feira, Dmitry Patrushev assumiu o ministério. Com isso, os exportadores de carnes do Brasil se animaram com as chances de que reabertura russa seja anunciada em breve.

Em Paris, onde o Ministro Blairo Maggi participa da assembleia da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), houve até quem se animasse com a possibilidade de Blairo aproveitar a brecha que terá na agenda no dia 23 para se reunir com o ministro russo a fim de sacramentar a reabertura. Até a noite de ontem, porém, o encontro não estava confirmado.

A retomada das vendas à Rússia é particularmente importante para a indústria de carne suína. Até novembro, quando Moscou anunciou o embargo alegando ter detectado resíduos do promotor de crescimento ractopamina em lotes de carnes do Brasil, a Rússia era o principal destino dos embarques de carne suína do país. Os russos respondiam por 40% do volume exportado e 50% das receitas.

Com o embargo, os principais frigoríficos de carne suína (BRF, Seara/ JBS e Aurora) amargaram sobras de produtos. De janeiro a abril, as exportações totais de carne suína do Brasil caíram 14%, para 194.700 toneladas. Em faturamento, a redução foi de 22%, a US$ 411.7 milhões, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pelo Ministério da Agricultura.

No caso da carne bovina brasileira, a Rússia também é relevante, mas a dependência é menor. O mercado russo representava cerca de 10% das exportações dos frigoríficos brasileiros até o embargo. Além disso, como a demanda da Ásia, sobretudo da China, vem se mostrando aquecida, as exportações registraram forte alta mesmo sem a Rússia. No primeiro quadrimestre, o Brasil exportou 504.400 toneladas de carne bovina, incremento de 21% na comparação anual. Em receita, o aumento chegou a 20% para US$ 1.943 bilhão.

Uma das três maiores exportadoras de carne bovina do Brasil, a Minerva Foods também trabalha com a expectativa de que Moscou anuncie a reabertura do mercado russo “muito em breve. No entanto, a empresa admitiu que a decisão russa não será totalmente positiva.

Em teleconferência com analistas na semana passada, o presidente da Minerva, Fernando Galletti de Queiroz, disse que a Rússia deve promover uma reabertura “limitada”. Na prática, o número de frigoríficos autorizados a vender aos russos será menor do que o observado até novembro. Nesse cenário, as restrições à carne suína podem ser maiores do que para a carne bovina do Brasil, segundo uma fonte. A questão é que a Rússia busca há anos se tornar autossuficiente na produção de carne suína.

Valor

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