O aumento dos investimentos na criação de pescados em cativeiro vai fazer com que o segmento perca seu status de único remanescente do setor de alimentos que ainda depende, em sua maior parte, da natureza. A produção nas fazendas de aquicultura cresce de 4% a 5% ao ano, um ritmo que a levaria a superar a pesca extrativa talvez já em 2019, segundo projeções da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
A demanda por peixes nos países desenvolvidos e em desenvolvimento vem crescendo, uma vez que avança o número de consumidores que dão mais valor a seus benefícios à saúde. A demanda por peixe para fabricação de ração animal também cresceu ao mesmo tempo em que o volume de peixes capturados em estado selvagem está estagnado desde o início dos anos 1990.
“Isto é similar ao que aconteceu na agricultura há muitos séculos”, disse Audun Lem, diretor-adjunto do departamento de pesca e aquicultura da FAO. “O impacto geral na nutrição, segurança alimentar e desenvolvimento humanos será igualmente grande”.
A tendência levou uma série de empresas a investir na aquicultura. A Cargill, maior empresa de agronegócios do mundo, comprou há dois anos a Ewos, uma fornecedora de ração feita de peixe, por € 1.35 bilhão. O grupo japonês Mitsubishi pagou US$ 1.4 bilhão pela Cermaq, uma produtora norueguesa de salmão.
A nova estimativa da FAO mudou bastante em relação à que havia divulgado há três anos, quando a agência da ONU projetava que a produção da aquicultura superaria a tradicional apenas em 2021. O aumento no uso dos peixes para produzir rações animais levou a FAO a rever os cálculos. As fazendas tornaram-se a principal fonte de peixe consumido por humanos em 2014.
A produção anual das fazendas de peixes vai superar a marca de 90 milhões de toneladas em dois anos, de acordo com a FAO. A agência estima que cerca de 30% das áreas de pesca em estado selvagem já foram exploradas além dos limites sustentáveis.
O salmão e o camarão de cativeiros foram atingidos por doenças. Os preços do salmão atingiram recorde em 2016 por problemas com o “piolho do mar”. Os preços ainda estão altos e mesmo que a oferta suba nos próximos dois anos os preços não vão cair, segundo a FAO.
Fonte: Financial Times/ Valor