FAO: alterações climáticas podem levar milhares de pessoas à pobreza

Intitulado “O estado da Alimentação e da Agricultura”, o relatório
Intitulado “O estado da Alimentação e da Agricultura”, o mais novo relatório da FAO/ONU aponta para riscos da fome no mundo. Foto: Divulgação

A Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO) das Nações Unidas alertou na segunda-feira, 17 de outubro, para a urgência de ajudar o setor agrícola a adaptar-se às alterações climáticas, que poderão deixar mais de 122 milhões de pessoas na pobreza.

“A menos que sejam tomadas medidas agora para tornar a agricultura mais sustentável, produtiva e resiliente, os impactos das alterações climáticas vão comprometer gravemente a produção alimentar em países e regiões que já enfrentam uma alta insegurança alimentar”, escreveu o diretor-geral da organização, José Graziano da Silva, no prefácio de um relatório publicado no dia 17.

Intitulado “O estado da Alimentação e da Agricultura”, o relatório sublinha que, se não houvessem alterações climáticas, a maioria das regiões deveria reduzir o número de pessoas em risco de pobreza até 2050.

Com as mudanças no clima e se nada for feito, estima-se que entre 35 e 122 milhões de pessoas entrem para a faixa de pobreza. Isto se deve, sobretudo, aos impactos negativos do aquecimento global no setor agrícola.

 

MAIS AFETADOS

Os mais afetados seriam as populações nas zonas mais pobres da África subsaariana e do Sul e Sudeste Asiático, especialmente os que dependem da agricultura para viver.

Graziano da Silva defende que a fome, a pobreza e as alterações climáticas têm de ser abordadas em conjunto, “por um imperativo moral, porque aqueles que hoje mais sofrem são os que menos contribuíram para as alterações climáticas”.

O relatório da FAO recorda que para manter o aumento da temperatura global abaixo do teto de 2°C, as emissões de gases de efeito estufa terão de diminuir 70% até 2050, o que só será possível com a contribuição dos setores agrícolas.

Estes setores são responsáveis por, pelo menos, um quinto de todas as emissões, principalmente devido ao desmatamento para converter florestas em terra cultivada e também devido à pecuária e à produção agrícola.

Escrevem os autores, no entanto, que os setores agrícolas enfrentam um duplo desafio: reduzir as emissões de gases de efeito estufa ao mesmo tempo e aumentar a produção de alimentos para saciar uma população crescente e cada vez mais rica.

Estima-se que a procura global por alimentos, em 2050, seja pelo menos 60% maior do que em 2006, mas o crescimento populacional será concentrado nas regiões onde hoje já há maior prevalência de subnutrição e maior vulnerabilidade às alterações climáticas.

 

REFORMULAÇÃO

O relatório reconhece que reformular a agricultura e os sistemas alimentares será um processo complexo, devido ao vasto número de partes envolvidas, à multiplicidade dos sistemas agrícolas e de produção alimentar e às diferenças nos ecossistemas.

Alerta, porém, que os esforços têm de começar agora, porque os impactos das alterações climáticas só piorarão com o tempo e se nada for feito os países mais pobres terão, no futuro, de enfrentar simultaneamente a fome, a pobreza e as mudanças climáticas.

Nas palavras de Graziano da Silva, “os benefícios da adaptação ultrapassam os custos da inação com margens muito grandes”.

Às vésperas da 22ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, que começa no dia sete de novembro, em Marrocos, o relatório sublinha que o sucesso da transformação da agricultura depende, em grande medida, da ajuda aos pequenos proprietários na adaptação às mudanças climáticas.

Estima-se que hajam, nos países em desenvolvimento, cerca de 475 milhões de famílias de pequenos proprietários que produzem em contextos socioeconômicos e condições agroecológicas muito distintas, por isso não existe uma só resposta.

 

ALTERNATIVAS

A FAO, no entanto, descreve no relatório algumas formas “alternativas e economicamente viáveis” de ajudar os agricultores a se adaptarem e especificamente a partir da adoção de práticas inteligentes, como o uso de variedades de culturas eficientes na fixação de nitrogênio e tolerantes ao calor.

A adoção generalizada de práticas nitrogênio-eficientes, por exemplo, permitiria reduzir em mais de 100 milhões o número de pessoas em risco de subnutrição, estima o relatório.

 

Fonte: Agência Brasil

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