“Faltam políticas públicas objetivas para o setor de irrigação.” A afirmação é de Alécio Maróstica, presidente do Sindicato Rural de Cristalina (GO). Segundo ele, não só a irrigação para a produção de alimentos deve fazer parte de uma política para o uso da água, mas todos os outros que a utilizam.
“É necessário que se tenha consciência sobre seu uso correto e racional e isto deve ser incentivados com políticas de governo. Entretanto, na prática, o que vemos é uma inversão de valores, temos em torno de sete entidades muito bem aparelhadas para fiscalizar e punir o produtor e apenas uma para orientá-lo, e quase sempre desaparelhada”, afirma.
Maróstica lembra que a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), em 2012, notificou que nos próximos 25 anos 80% da produção de alimentos para a população serão providos pelas culturas irrigadas. O Brasil tem muita água, porém, afirma, “a experiência prática tem nos mostrado, que nos falta gestão e conhecimento para que possamos usá-la bem”.
Para ele, o importante é sabermos se temos água para a irrigação, onde ela está e como fazer para usá-la bem e tirar o máximo de produtividade desta tecnologia. “Com exceção da região Nordeste, sobra água no Brasil, só que ela vai toda para o oceano. Será que não é possível utilizá-la melhor? Acredito que sim. Entretanto, em nosso país é muito mais fácil achar um culpado do que apresentar soluções”, desabafa.
EXEMPLO
A atuação do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) no setor de irrigação, em sua opinião, é pouco expressiva e que há necessidade de uma maior interação entre o Ministério, a Agência Nacional de Água e as Secretarias Estaduais que atuam nas áras do meio ambiente e recursos hídricos, porque visto que o País precisa de novos critérios para a implementação da irrigação, tais como a organização do irrigante, com modelagem de irrigação, para reduzir o uso da água, zoneamento de cultura para a irrigação, vazio sanitário, conservação de solo, infiltração, adequação das estradas rurais, municipais, estaduais e federais, novas modelagens de outorgas, construções de barragens.
O exemplo do bom uso da água vem do município de Cristalina, onde Maróstica é um dos principais líderes rurais. De acordo com levantamento realizado em 2013, pela Superintendência de Recursos Hídricos do Estado de Goiás, a agricultura goiana conta com 185 mil hectares de área irrigada por pivô central e Cristalina é a cidade com maior área irrigada, não só do Brasil, mas da América Latina, perfazendo um total de 50.722 hectares, com 627 pivôs instalados.
O total no Estado é de 2.488 equipamentos instalados. Localizada a 131 km de Brasília, a cidade de 48.463 habitantes, Cristalina tornou-se um caso de sucesso do agronegócio brasileiro. O clima e a terra fértil, aliados aos investimentos em tecnologia para o aumento dos índices de produtividade, favorecem o cultivo de produtos como café, feijão, milho, batata, cebola, alho, tomate, trigo, soja, cevada, abóbora, ervilha e algodão. No ano passado a cidade produziu 2,7 milhões de toneladas de alimentos.
BERÇO DAS ÁGUAS
De acordo com Maróstica, Goiás é rico em água e, por isso, é chamado de “berço das águas”, com uma precipitação anual média de 1.588 mm. Entretanto, explica, somente isto não faz a irrigação avançar. A Secretaria de Agricultura, por meio da Superintendência de Irrigação, estabeleceu uma parceria para o cadastramento do irrigante com a Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg), Federação da Indústria do Estado de Goiás (Fieg), Organização das Cooperativas do Estado de Goiás (OCB), Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado de Goiás (Semarh), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e Fundo para o Desenvolvimento da Agropecuária do Estado de Goiás (Fundepec), que está permitindo conhecer, em detalhes a irrigação e o irrigante do estado.
“Os dados do cadastramento estão mostrando uma realidade muito melhor do que nós imaginávamos. Embora tenhamos muito a melhorar, como também muito conhecimento a ser implementado, hoje já sabemos onde temos que atuar e o que fazer sem a necessidade de atirar para todos os lados. Estas parcerias foram fundamentais para alcançarmos novos objetivos. Os produtores abraçaram esta ideia e foram fundamentais para o sucesso desta empreitada, inclusive ajudando financeiramente para execução do cadastro. Assim, ganham todos, principalmente a agricultura e o meio ambiente”, ressalta.
Por equipe SNA/SP