Exportador de soja vê estresse logístico em fevereiro e atraso na colheita é fator complicador

A programação de navios nos portos brasileiros para fevereiro indica que haveria uma demanda para exportação de mais de oito milhões de toneladas de soja, o que poderia ser um recorde para o mês, após os fracos embarques em janeiro devido ao atraso na safra 2020/21, plantada mais tarde.

Mas atingir tal volume não será fácil, porque a colheita do maior produtor e exportador global da oleaginosa está atrasada, o que impõe desafios logísticos às tradings, que têm de cumprir com os compromissos de embarque acumulados no segundo mês do ano.

Segundo integrantes do setor, além do ritmo mais lento da colheita, há alguma preocupação com uma eventual greve de caminhoneiros, que, caso venha a ocorrer e bloquear rodovias a partir de segunda-feira, poderá limitar a chegada do produto da safra nova aos portos. O Brasil colheu apenas 2% da safra nova de soja até o momento.

Em janeiro, que deve fechar com embarques 86% menores em relação a 2020, de apenas 225.000 toneladas, segundo dados divulgados nesta semana pela Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), parte das cargas não originadas no Brasil acabou saindo dos Estados Unidos, beneficiando o grande rival brasileiro em soja.

“Fevereiro vai ser muito tumultuado, não só nos compromissos portuários, como na oferta de caminhões no Brasil, tendo em vista que a maioria vai estar ainda em Mato Grosso puxando a safra que atrasou”, disse um operador de uma grande trading multinacional à Reuters, que pediu anonimato.

Programação

O “line-up” de navios nos portos brasileiros para fevereiro indica previsão de cerca de 8.5 milhões de toneladas, segundo levantamento da Reuters com base em dados da agência marítima Cargonave.

No mesmo período do ano passado, a programação de navios indicava embarques de cerca de seis milhões de toneladas, enquanto os embarques efetivos em fevereiro de 2020 somaram 4.8 milhões de toneladas, segundo dados do governo.

“Tem desafio de encher os navios todos. Provavelmente vamos ter problemas por causa do atraso no plantio, que está se refletindo agora”, concordou o diretor-geral da Anec, Sérgio Mendes.

Ele evitou fazer estimativas sobre o volume de soja que deverá ser efetivamente embarcado em fevereiro, ressaltando que a programação nos portos pode não refletir o que será de fato escoado. “Milho vai ter problema, vai exportar um pouco de estoque de passagem, dois ou três navios, e não vai ter mais nada em fevereiro”, disse ele, fazendo referência à oferta restrita.

Greve

Questionado, Mendes afirmou que a ameaça de paralisação dos caminhoneiros é uma preocupação, mas destacou que, pelas informações recebidas pelo setor, o movimento não deve ter a força de 2018. “É uma preocupação a mais. Acho que o bom senso vai prevalecer”, disse ele, lembrando que a entrada da safra é quando o caminhoneiro obtém os melhores valores para o frete.

Mendes acrescentou que, diferentemente de 2018, em 2021 os manifestantes não têm o apoio da sociedade para realizar bloqueios, até por conta da situação gerada pela pandemia.

Estimativa

Apesar das preocupações iniciais para o escoamento da safra, o diretor da Anec estimou que o Brasil poderá repetir em 2021 os volumes de exportação de soja, de cerca de 82 milhões de toneladas, além de atingir as 34 milhões de toneladas de milho exportadas em 2020.”As condições comerciais são ótimas tanto do preço da soja, do dólar, e tudo isso está ajudando muito”, afirmou Mendes.

Ele disse ainda que é importante um bom início da campanha de exportação de soja, para não atrapalhar os embarques de milho no segundo semestre, quando as exportações do cereal geralmente são mais fortes. No entanto, admitiu que, se não for possível, parte do volume de milho talvez seja embarcado em janeiro de 2022.

“Encavalando”

Segundo Frederico Humberg, fundador e CEO da AgriBrasil, o resultado do atraso é que empresas asiáticas e europeias tiveram de comprar alguma soja nos Estados Unidos em janeiro. “Os ‘crushers’ (esmagadoras), para que as fábricas não ficassem paradas, acabaram buscando outras origens. Então cresceram os embarques de soja nos Estados Unidos que estavam previstos para ser no Brasil”, explicou Humberg.

Desta forma, há muitos navios que estavam programados para janeiro “encavalando” para fevereiro, aumentando a pressão sobre os portos brasileiros. “Vamos ter um certo caos logístico para fevereiro”, disse o executivo.

Contudo, ele avalia que o País deve conseguir escoar cerca de oito milhões de toneladas de soja em fevereiro, apesar o possível estresse logístico, uma vez que o Brasil já exportou volumes mensais muito maiores, como mais de 14 milhões de toneladas em abril do ano passado.

 

 

Fonte: Reuters

Equipe SNA

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp