O Brasil se firmou como um importante exportador de genética tropical ao registar crescimento de mais de 30% nas vendas de sêmen das raças de corte e em torno de 36% das raças leiteiras, em 2016. Segundo o relatório da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), as vendas externas de sêmen cresceram 33,1% no ano passado, totalizando 296.371 doses (corte e leite).
O presidente da Asbia, Sérgio Saud, afirma que os resultados do primeiro trimestre de 2017 mostram que este pode ser um ano de recuperação para o segmento de sêmen, também no mercado interno.
“Os produtores de leite já voltaram às compras, após utilizarem os estoques de sêmen que mantinham nas fazendas, e os pecuaristas de corte se preparam para a próxima estação reprodutiva, com foco no aumento da produtividade, para compensar a queda no preço do bezerro e da arroba. E, para isso, investir em genética é fundamental”, acredita o executivo.
“Além de mostrar a recuperação do setor, a exportação de genética bovina brasileira tem tudo para multiplicar os volumes nos próximos anos”, prevê Saud.
Os embarques de sêmen de corte totalizaram aproximadamente 135 mil doses. Os maiores importadores da genética brasileira foram Paraguai, Bolívia e Argentina.
Já as exportações de sêmen das raças leiteiras, atingiram 162 mil doses, com destaque para Colômbia, Costa Rica e Equador, como os países que mais importaram. Índia, Sri Lanka e Moçambique também começaram a despontar como destinos para a genética brasileira.
COMERCIALIZAÇÃO
Segundo o relatório da Asbia, no ano passado, foram comercializadas 11.723.738 doses de sêmen, uma queda de 7% em relação a 2015, quando foram vendidas 12.606.703 doses.
O segmento de leite teve retração de 14% provocada, principalmente, pelo alto custo de produção, em razão dos preços do milho e da soja, e da queda no preço do leite.
“Se compararmos com os dados do primeiro semestre de 2016, quando ocorreu uma queda de 27% no segmento de leite, podemos concluir que houve uma forte recuperação na segunda metade do ano passado”, afirma Saud.
De acordo com o levantamento da Asbia, esse movimento se confirmou no primeiro trimestre de 2017, com forte venda de genética leiteira, “sinalizando que este será um ano de recuperação para o setor”.
Na pecuária de corte, a queda foi de 3% em razão da seca no Norte e no Centro-Oeste, que causou atraso na estação reprodutiva e acabou “empurrando” uma parte das vendas de sêmen para o primeiro trimestre de 2017.
Como muitas propriedades também tinham grandes estoques de sêmen, isso resultou em menor procura por material genético das raças de corte, conforme Saud.
RECUPERAÇÃO DO LEITE
No segmento da pecuária de leite, cuja queda era de 27% no primeiro semestre de 2016, houve uma importante recuperação na venda de sêmen. Com 3.699.057 doses comercializadas, as raças leiteiras fecharam o passado com queda de 14,5%.
“No leite, ocorreu queda na venda de sêmen de todas as raças. A única exceção foi o Guzerá Leiteiro. No entanto, se compararmos com o primeiro semestre do ano passado, podemos dizer que o mercado de genética leiteira reagiu muito bem no segundo semestre e mostrou sinais de recuperação”, avalia Saud.
Mesmo diante do cenário de recuperação das exportações de sêmen bovino, o diretor técnico da Sociedade Nacional de Agricultura Alberto Figueiredo, que também é membro da Academia Nacional de Agricultura da SNA, ressalta que a pecuária de leite foi penalizada, em 2016, pelo forte aumento de custos de produção, que não foram acompanhados pelos preços das vendas do produto.
“Por conta disso, alguns produtores desistiram da atividade, enquanto muitos outros deixaram de usar alguns insumos tradicionais, como, por exemplo, o sêmen de raças especializadas para a produção de leite”, explica Figueiredo, acrescentando que essa decisão refletiu na queda demanda.
CONSEQUÊNCIAS
Segundo ele, “embora já tenhamos evoluído na área de transferência de embriões e até na fecundação in vitro, como técnicas mais sofisticadas para a multiplicação de características genéticas dos rebanhos, a diminuição do uso de sêmen trará consequências negativas em médio e longo prazos, por causa da redução da oferta de matrizes para a reposição dos rebanhos, influenciando no volume de produção do Brasil, que vinha crescendo anualmente nos últimos anos”.
”As importações, principalmente de leite em pó, usados até na merenda escolar de crianças brasileiras, cerceiam o mercado para os produtores locais, inibindo investimentos em qualidade genética”, completa Figueiredo, que também é secretário municipal de Agricultura de Resende (RJ), representante da SNA na Câmara Setorial do Leite e Derivados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
PREVISÃO DE INVESTIMENTOS
O presidente da Asbia acredita que os criadores voltarão a investir fortemente em genética melhoradora, para obter bons produtos para a comercialização daqui a dois ou três anos, quando a economia brasileira retomar seu ritmo de crescimento.
A redução dos custos de produção em decorrência de preços menores do milho influenciou positivamente o mercado de genética, permitindo que os produtores tivessem uma margem maior para investir na inseminação artificial.
“Com a queda dos custos de milho e soja, no final de 2016, pudemos observar uma reação imediata dos produtores de leite, que voltaram a investir em suas propriedades e rebanhos. A genética voltou a receber a atenção dos criadores, que voltaram às compras”, observa Saud.
Na pecuária de corte, os reflexos não foram sentidos em no ano passado, mas, conforme Saud, a expectativa é de crescimento do confinamento, em 2017, em razão da redução dos custos com nutrição, o que tornará a operação mais vantajosa para os criadores.
Por equipe SNA/SP