Exportações do agronegócio para a China: preços x câmbio

Andréia Adami* /

 

O comportamento do agronegócio brasileiro tem sido ditado especialmente pela produtividade, que vem sistematicamente crescendo há várias décadas. Isso tem conferido ao setor uma resiliência única no Brasil, que se manifesta num padrão médio de crescimento e que se mantém sob variados cenários dos mercados de commodities e de câmbio. Essa constatação fica clara quando se examina a evolução das exportações do agronegócio, com destaque para o mercado chinês.

As exportações do agronegócio cresceram rapidamente nas últimas duas décadas, principalmente para a China, principal parceiro comercial do Brasil. De 2000 a 2016, o crescimento do volume total exportado pelo setor foi de 318%, enquanto o volume direcionado para a China aumentou quase 2.000%. Isso indica que a acelerada expansão da demanda desse país foi determinante para absorver a crescente produção brasileira. Mais especificamente, no período que engloba o boom das commodities, de 2002 a 2011, o volume das exportações do agronegócio para o país asiático aumentou 450% e, mais recentemente (de 2011 a 2016), o crescimento foi de 57%.

A pauta chinesa de importações tem sido bastante concentrada nos produtos do complexo da soja, sendo que o grão, que representou 12% do valor das compras chinesas em 2000, passou a 75% em 2016; já o óleo de soja perdeu espaço, reduzindo a participação na pauta chinesa de 35% para menos de 1%. Os produtos florestais mantiveram participação próxima a 10% nesses 17 anos. Quanto às carnes (bovina, aves e suínas), aumentaram sua participação, de 3% para 10%. No agregado, a China emergiu como principal parceira comercial do agronegócio em 2008 e aumentou sua importância em nove vezes, passando de 3% do faturamento em 2000 para 11% em 2008 e 27% em 2016 (até setembro).

Observando-se os mercados, verifica-se que os preços nominais em dólar dos produtos que os agentes do agronegócio recebem quando exportam para o país asiático (de acordo com dados do MDIC) – e, portanto, que os chineses pagam por esses produtos – aumentaram 65% de 2002 a 2011, mas caíram 22% desde 2011. É interessante examinar como essas oscilações foram internalizadas nos dois países em decorrência das movimentações de suas respectivas taxas de câmbio.

Enquanto no Brasil, de 2002 a 2011 (parcial até setembro), a taxa de Câmbio Real (real/dólar) se valorizou em 63%, mas, no período mais recente, de 2011 a 2016, houve desvalorização do real também de 63%. Na China, a taxa real (yuan/dólar) foi bem mais estável, tendo se valorizado em todo o período: 25% entre 2002 e 2011 e 2% de 2011 a 2016.

O efeito conjunto do comportamento dos preços em dólar e das taxas de câmbio reais nos dois países foi, no caso do Brasil, queda real nos preços do agronegócio internalizados de 40% no período de boom; mas esses se recuperaram posteriormente a 2011, apresentando alta de 28%. Os chineses, por sua vez, viram os preços desses produtos aumentarem 24% em yuan, em termos reais, no período de alta dos preços no mercado internacional (2002 a 2011) e caírem 20% entre 2011 a 2016.

O período de alta dos valores no mercado internacional encareceu os preços dos produtos importados pelos chineses, mesmo com a apreciação do yuan frente à moeda norte-americana, o que pode ter levado o país asiático a concentrar as compras em produtos menos processados e com menor valor agregado. Mesmo assim, as vendas brasileiras para o país cresceram significativos 450% de 2002 a 2011. No entanto, após 2011, a queda dos preços em dólar tem tornado as importações dos produtos brasileiros mais baratas e contribuído para o contínuo crescimento das exportações do agronegócio brasileiro.

Se essa interdependência entre os dois países se mantiver, vai ser estratégica caso haja recrudescimento do protecionismo e redução do comércio com importantes parceiros como os Estados Unidos, segundo mercado do agronegócio brasileiro, com participação próxima a 7% em 2016. Vale salientar, ademais, que o período pós 2011, pelo que os números indicam, está mais favorável tanto para os exportadores brasileiros quanto para os consumidores chineses. Um resultado aparentemente estranho, que pode ser compreendido quando se considera a movimentação das taxas de câmbio em cada país.

 

*Andréia Adami é pesquisadora da área de macroeconomia do Cepea

Fonte: Cepea/Esalq

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