Exportações do agro totalizam US$ 160 bilhões e compras aumentam para US$ 50 bilhões

Por Mauro Zafalon

As exportações do agronegócio deverão registrar recorde de US$ 160 bilhões neste ano, um volume não imaginado há alguns anos. O valor representa um aumento de 32% em relação a 2021, quando os números já haviam surpreendido.

Por outro lado, as importações nunca registraram um valor tão elevado. Pressionadas pelo volume crescente e pelos preços internacionais altos, as compras dos insumos voltados à agropecuária totalizarão US$ 50 bilhões, com aumento de 51%.

As receitas tão elevadas com as exportações tiveram início com os efeitos da pandemia, quando os países, em vista do perigo de uma interrupção na oferta de alimentos, aumentaram seus estoques.

A guerra da Rússia com a Ucrânia deu novo impulso à demanda, devido à importância dos dois países na oferta de grãos para o mercado externo, elevando mais uma vez os preços das commodities.

A pandemia e a guerra, contudo, ao mesmo tempo que beneficiaram os produtores brasileiros com a alta de preços, impulsionaram os gastos. A Rússia, importante fornecedora de fertilizantes, reduziu a oferta do insumo. Os preços dispararam.

Cereais e fertilizantes

O Brasil está bem posicionado quando se trata de compras de alimentos. Elas representam 28% do total das importações. Os cereais, puxados por trigo, somam os maiores gastos dessas compras.

O principal gasto brasileiro, no entanto, vem dos insumos, principalmente de fertilizantes e dos agroquímicos. Altamente dependente da importação de adubos, o País intensificou as compras após a guerra.

Os importadores chegaram a comprar um volume superior a 4 milhões de toneladas por mês de maio a julho deste ano. Em novembro, o volume já recuou para 2.4 milhões de toneladas.

Os preços dispararam, mas começam a recuar. Essa mudança de patamar dos preços internacionais nas negociações trouxe novos custos à agricultura brasileira, o que vai refletir ainda no próximo ano.

Os gastos brasileiros com as compras de fertilizantes aumentaram para US$ 23.6 bilhões de janeiro a novembro, bem acima dos US$ 13.4 bilhões do mesmo período do ano passado.

Fornecimento

Nessa reacomodação do mercado, o Canadá subiu para a segunda posição no fornecimento de adubos ao Brasil. A Rússia se mantém em primeiro, mas com valor menor.

Apesar da aceleração das compras em meados do ano, as importações de fertilizantes, que já atingem 36 milhões de toneladas, deverão ficar abaixo das de 2021, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

Defensivos agrícolas

O salto dos gastos com as importações de produtos voltados à agricultura ocorre, ainda, devido às compras de defensivos agrícolas. Neste ano, as importações totalizaram 640.000 toneladas, no valor de US$ 6.5 bilhões. O volume aumentou 58% no ano, e os gastos, 73%.

Embarques

As exportações foram lideradas pelo complexo soja, que devem totalizar US$ 59 bilhões de receitas neste ano. As carnes, que já renderam 29% a mais até novembro, totalizam US$ 22 bilhões. Os cereais, devido ao aumento das exportações de milho, trigo e arroz, registram receitas de US$ 12 bilhões no ano, com aumento de 200%.

As exportações brasileiras do agronegócio, que eram de US$ 101 bilhões em 2020, subiram para US$ 121 bilhões no ano passado e devem ficar próximas dos US$ 160 bilhões neste ano, não têm uma continuidade tão acelerada de ganhos garantida para os próximos anos.

Protecionismo

As sucessivas crises internacionais provocam uma desaceleração na economia mundial, e há sinais de uma queda dos preços internacionais das commodities.

O Brasil deve se preparar também para um aumento do protecionismo e das barreiras de importações, vindos principalmente da União Europeia. O bloco promete impor novas normas e exigências nas importações de commodities, e o Brasil será um dos mais afetados.

Fonte: Folha de S. Paulo
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