Em meio à perspectiva de uma safra volumosa, a indústria de café solúvel do Brasil avalia ter potencial para recuperar mercado e elevar as exportações neste ano de volta ao patamar recorde de 2016. Com isso, o setor deixa para trás um 2017 marcado por embarques mais fracos após problemas domésticos com a oferta, disse à Reuters uma importante liderança do setor.
O Brasil é o maior exportador global de café solúvel, assim como de grãos verdes. Porém, as secas em 2015 e 2016 derrubaram a safra de conilon do Espírito Santo, o principal produtor nacional da variedade mais usada na fabricação do produto.
Durante o momento mais agudo da crise de oferta, a indústria de solúvel chegou a defender a importação de café verde para calibrar a disponibilidade interna.
As compras externas acabaram não se concretizando, e o Brasil perdeu negócios para concorrentes na Ásia, justamente por não ter conseguido obter matéria-prima no mercado a preços adequados. Em 2016, as cotações do conilon atingiram recordes acima de R$ 550,00/saca, enquanto atualmente estão em torno de R$ 320,00.
Mas a recuperação esperada para a safra de café neste ano deixa o setor otimista novamente, destacou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), Pedro Guimarães.
“(As exportações) têm todo o potencial para voltar aos níveis de 2016. Não vai faltar café, principalmente conilon. Mesmo que a torrefação queira aumentar o conilon no blend (mistura), vai ter café para todo mundo. Não haverá concorrência com a torrefação”, disse Guimarães à Reuters.
As exportações brasileiras de solúvel somaram 3.46 milhões de sacas em 2017, com queda de 10,6% em relação ao recorde de 3.87 milhões de 2016, encerrando um ciclo de aumento nos embarques registrado desde 2014, de acordo com dados do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
O desempenho da indústria de solúvel em 2017 foi, inclusive, o mais fraco desde 2010, como já havia alertado a Abics em agosto do ano passado. As vendas voltaram a cair em janeiro deste ano com baixa de 16,3%, mas Guimarães explicou que se trata de um período sazonal de embarques menores, o que compromete qualquer comparação.
“A recuperação com mais vigor (nas exportações de solúvel) se dará após a chegada da safra, de maio em diante (…) O importador precisa ter segurança de que há oferta”, afirmou Guimarães, que também é diretor na Companhia Cacique de Café Solúvel.
Pelos dados mais recentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil poderá produzir um recorde de até 58.51 milhões de sacas, das quais 44.55 milhões de arábica e 13.96 milhões de conilon. Os volumes, que representam alta de 30% em relação a 2017, refletem um ano de bienalidade positiva nos cafezais do país.
Reconquista
O “potencial” de recuperação de mercado, contudo, não se dará sem grandes esforços, disse o presidente da Abics. Ainda no fim do ano passado, Guimarães havia dito à Reuters que levaria tempo para reconquistar importadores que haviam trocado o Brasil por outros exportadores.
“Não tem muito segredo. É pegar a mala, ir a feiras, olho no olho do comprador, sentir o que o importador quer”, declarou, acrescentando que não há um país ou região nas prioridades. “Neste momento minha prioridade é o planeta Terra”, brincou.
Guimarães frisou não ver mais necessidade de importação de café verde pelo Brasil, dada a perspectiva de ampla oferta neste ano, mas que a entidade ainda apoia o livre comércio. O presidente da Abics prevê ainda consumo estável de solúvel no mercado doméstico, com crescimento neste ano de cerca de 3% mundo afora, “principalmente no sudeste asiático”.
Fonte: Reuters