Após colherem a safra de algodão de melhor produtividade já registrada no país (1,62 tonelada de pluma por hectare) em 2016/17, os cotonicultores estão enfrentando problemas logísticos para escoar a oferta destinada às exportações. Os preços internacionais estão atraentes e cerca de metade da colheita estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 1.7 milhão de toneladas deverá ser exportada.
As dificuldades começaram com o atraso da colheita, que afetou o cumprimento dos primeiros contratos de exportação da temporada. “O grande volume de chuvas e a menor incidência de sol alongaram o ciclo”, disse Ângelo Ozelame, gestor técnico do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Contratos firmados para entrega no início de julho foram rolados para o fim do mês ou para o início de agosto, quando outros compromissos tinham de ser cobertos. Assim, afirmou Henrique Snitcovski, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), volumes se acumularam e os gargalos logísticos despontaram.
A situação se agravou com a redução das rotas dos navios e a diminuição da disponibilidade de contêineres, em virtude da queda das importações brasileiras em geral.
“Sempre temos problemas nesta época do ano, mas em 2017, por um conjunto de fatores, tem sido pior”, afirmou Walter Horita, sócio do Grupo Horita, que produziu 75 mil toneladas de pluma na Bahia em 2016/17. Segundo ele, o frete para levar a fibra de Barreiras (BA) até o porto de Santos (SP), por onde saem 90% das exportações de algodão do país, subiu para R$ 330,00 na primeira quinzena de outubro, contra R$ 200,00 no mesmo período de 2016.
Na Bahia, segundo maior estado produtor de algodão do país, com a colheita estimada em 346 mil toneladas pela Conab em 2016/17, os fretes têm sido afetados pela retração no consumo de bens manufaturados devido à crise econômica. Tradicionalmente, os caminhões que levam o algodão baiano até Santos são os mesmos que transportam os produtos industrializados do Sudeste ao Nordeste.
“Normalmente, os caminhoneiros só se interessam por vir buscar o algodão se têm de trazer outras coisas para a região”, disse Luiz Stahlke, assessor da Associação de Agricultores Irrigantes da Bahia (Aiba). Nesse contexto, não está fácil conseguir caminhões, embora o valor do frete entre Luis Eduardo Magalhães (município vizinho a Barreiras) e Santos tenha subido 16% em dois meses.
Falta de caminhões não tem sido um problema enfrentado em Mato Grosso, que lidera a colheita nacional de algodão, com volume estimado em 1.1 milhão de toneladas de pluma pela Conab em 2016/17. Mas, como os exportadores da Bahia, os mato-grossenses enfrentam dificuldades no porto.
A primeira é o menor número de contêineres para exportação. Por causa da ainda difícil situação da economia brasileira, a entrada de produtos importados em contêineres diminuiu, reduzindo a oferta disponível para embarques de produtos a outros países.
Outro entrave é a superlotação dos terminais de embarque. “Estão lotados e não dá para depositar o algodão para embarque”, disse o despachante aduaneiro José Ronaldo de Jesus, da Multisantos Logística. Com 280 mil toneladas de algodão ainda a serem escoadas neste segundo semestre, de acordo com projeção da Anea, os atrasos de entregas podem gerar aumento de custos para cotonicultores do país.
“Muitos contêineres que deveriam embarcar no navio originalmente programado estão sendo rolados para o navio seguinte. Existe uma sensação de overbooking”, disse o presidente da entidade. “Você coloca uma quantidade de contêineres para embarcar no navio e embarca uma parte só”, disse Snitcovski, lembrando que, historicamente, o pico de escoamento da safra é neste mês.
O dirigente da Anea, que também é executivo da Louis Dreyfus, destacou que a fila gerada para embarque no porto, que pode durar por cerca de três dias, também aumenta de custos com estadia da carga. E com a demanda por armazenagem aumentando, superlotação é um problema a mais.
“O que acontece também é que já tem Redex (Recinto Especial para Despacho Aduaneiro de Exportação) recusando carga”, disse Jesus, da Multisantos. Isso sem contar as multas por atraso na entrega de carga.
Segundo Snitcovski, poderá haver mais aumentos de fretes em decorrência de dificuldade para embarcar a carga em Santos. Das 1.6 milhão de toneladas de pluma da safra que terminou de sair dos campos em julho, apenas 300 mil toneladas foram enviadas ao exterior até agora. A expectativa da Anea é que mais 580 mil toneladas sejam exportadas até o fim do primeiro semestre de 2018.
Uma das soluções estudadas para resolver o problema é a retomada das exportações pelo porto de Salvador. Com o algodão mais rentável que a soja e o milho, as primeiras projeções para 2017/18 apontam para o aumento de área entre 5,5% e 15,4% e produção entre 1.6 milhão e 1.8 milhão de toneladas de pluma.
Fonte: Valor Econômico