O Brasil deve encerrar este mês com a maior exportação de algodão já realizada em setembro, com cerca de 200.000 toneladas, indicação de que um novo recorde brasileiro de embarques está a caminho no ano comercial 2023/24, na medida em que uma grande safra recém-colhida colabora para que o país possa se tornar o maior exportador global da pluma no atual ciclo.
A avaliação é do Presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (ANEA), Miguel Faus. Em entrevista à Reuters, ele disse estar confiante de que o Brasil possa exportar um volume histórico próximo de 2.5 milhões de toneladas do produto no período de julho de 2023 a junho de 2024.
Isso representaria um aumento de mais de 1 milhão de toneladas em relação ao total de 1.396 milhão de toneladas exportadas em 2022/23, período em que o Brasil lidou com problemas em importantes compradores, como Turquia, Paquistão e Bangladesh.
A se confirmar o recorde, o Brasil teria condições de superar os Estados Unidos como maior exportador global, uma possibilidade que voltou a ganhar força recentemente.
“Neste momento, o Brasil passou (os Estados Unidos) como terceiro maior produtor”, disse Faus, citando dados do USDA, que estimam a colheita 2023/24 norte-americana (recém-iniciada) em 13.13 milhões de fardos, enquanto a do Brasil está em 13.8 milhões de fardos.
“E é possível que no ciclo o Brasil passe os EUA em exportação em função da quebra na safra deles, é possível. Mas não podemos esquecer que essa liderança agora seria devido à quebra na produção.”
Pelo último levantamento do USDA, divulgado neste mês, os EUA ainda aparecem à frente do Brasil em 2023/24, com estimativa de exportação de 12.3 milhões de fardos, versus 11.8 milhões de fardos.
No médio prazo, de três a cinco anos, é esperado que o Brasil se consolide como terceiro produtor, atrás de China e Índia, ganhando definitivamente a posição de exportador número 1 dos EUA, disse Faus, salientando o impulso das maiores produtividades brasileiras e também disponibilidade de áreas.
Produtores relataram à Reuters anteriormente que a liderança do Brasil na exportação poderia ter acontecido no ano calendário de 2023, mas os embarques brasileiros no 1º semestre foram mais fracos do que o esperado.
Os números de setembro dão o tom da recuperação prevista. Os embarques brasileiros devem ficar próximos de 200.000 toneladas da pluma, praticamente dobrando em relação ao volume de agosto e crescendo em relação as 184.800 toneladas do mesmo mês de 2022.
“Se não chegar nas 200.000 toneladas, talvez esteja perto disso… Pode ser recorde histórico para setembro”, disse Faus, após o Brasil ter embarcado no acumulado do mês até a semana passada 154.000 toneladas de algodão, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Com uma média diária de embarques de mais de 10.000 toneladas, segundo a Secex, setembro poderia registrar também o maior volume mensal de 2023.
“Com o avanço do beneficiamento (da pluma), uma safra de produtividade muito alta, a gente acredita que bater o recorde de exportação (em 2023/24) seria factível”, disse o Presidente da ANEA, lembrando que o Brasil produziu mais de 3 milhões de toneladas da pluma na colheita encerrada recentemente.
O recorde anterior de exportações do País foi em 2020/21, com 2.41 milhões de toneladas, segundo dados da associação.
Faus citou que no 1º semestre o Brasil lidou com os impactos do terremoto na Turquia para a demanda da pluma, assim como com dificuldades financeiras em outros importantes importadores como Paquistão e Bangladesh, que tiveram dificuldades com cartas de crédito, documento fundamental para a exportação.
Mas a China, maior importador, está voltando ao mercado, o que deve se manter pelos próximos dez meses, ajudando a impulsionar os embarques brasileiros, disse ele.
“Nos próximos meses, outubro, novembro dezembro, o Brasil deve superar as 200.000 toneladas por mês”, ressaltou.
Segundo ele, o algodão brasileiro está bem competitivo em termos de preços e qualidade. “O preço oferecido é um pouco abaixo do preço dos Estados Unidos, em função da nossa grande safra”, disse, lembrando que outro trunfo da pluma nacional é sua rastreabilidade, fator chave para atender critérios de certificadoras de sustentabilidade.
Em agosto, o Brasil realizou o primeiro embarque de algodão para o Egito, após a abertura do mercado. “Ainda um volume pequeno, de 1.500 toneladas, mas é importante pelo fato de o algodão egípcio ser reconhecido como de qualidade.”