Excesso de produção complica vida dos agricultores mundialmente

As atuais safras americanas de soja e milho, já em andamento, deverão ser as maiores já registradas na história dos Estados Unidos. Em breve, elas chegarão a um mercado global que já está abarrotado com estoques de grãos que também batem recordes históricos.

Alguns agricultores chegam a nutrir esperanças da ocorrência de alguma catástrofe climática em algum lugar do mundo que reduza a produtividade e dê um alívio aos preços das commodities agrícolas, que recentemente atingiram mínimas de muitos anos. Mas eles podem ter que esperar um longo tempo

É uma reviravolta dramática em relação há quatro anos, quando os preços de muitas dessas commodities atingiram os níveis mais altos já vistos pelos produtores em toda a vida. Na época, uma seca severa destruiu a produção de várias lavouras, forçando pecuaristas a reduzir rebanhos devido à explosão dos preços da ração.

Agora, os produtores enfrentam o problema oposto. Os preços despencaram em meio a silos agrícolas lotados.

Para dar espaço para a safra de milho, por exemplo, depois da massiva colheita de trigo de meados do ano, Frank Riedl, gerente geral da Great Bend Coop, uma elevadora de grãos e fornecedora de produtos agrícolas do Kansas, comprou e arrendou mais terras para construir armazéns do tamanho de campos de futebol e colocar neles toneladas de grãos.

“Há uma abundância de milho aqui no país e não temos uma base de estocagem para ele”, disse. “Os produtores estão tentando encontrar qualquer lugar para enfiar suas safras.”

O ciclo de ascensão e queda da produção americana de commodities atingiu o mundo todo nos últimos anos, à medida que agricultores e pecuaristas da América do Sul, China e da região do Mar Negro adotaram práticas agrícolas semelhantes aos da agricultura dos EUA. Isso tem elevado os riscos e recompensas potenciais para a renda dos produtores, já que o clima, oscilações de câmbio e mudanças de políticas em países distantes passaram a ter um impacto nunca visto antes nos preços dos alimentos vendidos no mercado americano.

“O mundo ainda está ampliando sua área de produção, e por conta disso, esse ciclo pode continuar por um tempo”, diz Dan Basse, presidente da empresa de análise de commodities AgResource, de Chicago. Ele observa que, nos últimos dez anos, agricultores de todo o mundo aumentaram a área de cultivo em quase 73 milhões de hectares, quase toda a área plantada do cinturão de grãos dos EUA. Ainda assim, “é preciso apenas uma seca em uma grande área produtiva para resolver esse excesso”, disse ele.

Os preços dos grãos e da carne caíram globalmente em agosto e setembro ante o mesmo período do ano anterior, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), devido, em parte, a grandes colheitas em todo o Hemisfério Norte. O excedente agrícola vem de um aumento da área plantada e dos rebanhos em todo o mundo, ocorrido em resposta à nova demanda e aos preços elevados durante o período de escassez mais recente.

“Há um velho ditado do setor: Dinheiro produz leite, e mais dinheiro produz mais leite”, disse Chuck Nicholson, professor de cadeia de suprimentos e sistemas de informação da Universidade Estadual da Pensilvânia e especialista em mercados agrícolas. O atual excedente tem “muito a ver com decisões que os produtores tomam em conjunto — eles podem abrir a torneira do leite relativamente rápido, mas tendem a hesitar mais em fechá-la”.

Outro fator que também está impulsionando o aumento da produção é a crescente população global que deseja mais proteínas em suas dietas diárias. Alimentos como fórmulas infantis, carne suína, queijo e aves estão se tornando comuns para uma crescente classe de consumidores que hoje tem acesso a artigos que pareciam luxuosos para a geração anterior.

Para produzir mais proteína, os produtores de carne e lácteos dependem do fornecimento contínuo de grãos baratos. A FAO estima que até 2050, o mundo precisará de 455 milhões de toneladas de carne por ano para alimentar 2.4 bilhões de pessoas adicionais, cerca de 40% acima da produção massiva deste ano.

Os produtores estão, contudo, cada vez mais suscetíveis a erros no delicado equilíbrio de oferta e demanda. Para pecuaristas, calcular quando é necessário expandir a produção é uma aposta de como vão estar às condições de mercado meses ou anos à frente. Uma vaca só pode ter bezerros depois de um ano de vida e a gravidez demora outros nove meses.

Alguns produtores que têm sobrevivido aos preços menores dão crédito aos acordos de comercialização, como os contratos de longo prazo com compradores ou produtores, fechados com muita antecedência. “Produzimos algo bastante perecível e temos poucas horas ou no máximo um dia para vender” o leite antes que estrague, disse Scott McGinty, presidente da Aurora Organic Dairy do Colorado. “Você tem que estar perto de seu mercado”, disse, “ou as condições que o levaram para o negócio podem sumir até você chegar lá”.

 

The Wall Street Journal

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