Excesso de chuva afeta safra de feijão no nordeste da Bahia

O grande volume de chuva registrado nos últimos dias no município de Adustina, localizado no nordeste da Bahia, tem preocupado produtores de feijão da região diante da possibilidade de perda da safra. Enquanto em anos anteriores a vilã foi a seca, dessa vez o tempo chuvoso é que está prejudicando a qualidade dos grãos. A prefeitura municipal prevê um prejuízo de até 20% na colheita desse ano.

Conforme o secretário municipal de Agricultura, Alex Sílvio, somente nos últimos oito dias foi registrado volume de chuva de 130 mm no município, o que era esperado para o mês inteiro. Com isso, o feijão que era para sair do campo quase seco e maduro está sendo colhido com umidade acima do ideal ou mesmo apodrecendo nas vagens ainda no pé. Além disso, os grãos que já foram armazenados também correm risco de apodrecer, porque, sem sol, o feijão não seca. O período da colheita ocorre sempre de agosto a setembro, três a quatro meses após o plantio.

A situação atual é bem diferente da registrada em 2013, quando Adustina teve a melhor safra em 30 anos. A cidade, localizada a cerca de 356 quilômetros de Salvador, e mais 13 municípios vizinhos formam a maior região produtora de feijão de inverno do estado da Bahia. A produção é vendida nas feiras livres do mercado interno e escoa também para outros estados, como Ceará e Pernambuco. Nos últimos três anos, no entanto, a seca prolongada que atingiu a região atrapalhou os planos dos produtores, agora surpreendidos também com o volume alto de chuva.

“Para essa época do ano, quando ocorre a colheita, a gente não esperava chuva tão expressiva. Vem chovendo de forma regular e isso não é comum. Agosto e setembro são, historicamente, meses de colheita do feijão, e esse tempo chuvoso pegou os agricultores de surpresa. Alguns que tiveram acesso a informações meteorológicas conseguiram se apressar e fazer a colheita de forma antecipada. Mas os demais estão tendo prejuízo em suas lavouras”, disse Sílvio.

Conforme o secretario de Agricultura, em 2017, houve um aumento de oito mil hectares para 12 mil hectares na área de plantação de feijão no município. Isso porque a seca dos últimos três anos também afetou a cultura do milho.

“Aumentamos a área de feijão plantado, por conta da perda por três anos consecutivos na lavoura de milho. Os bancos que financiam a atividade da agricultura, por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), só disponibilizaram recursos esse ano para a plantação de feijão. E como 80% dos agricultores municipais plantam com recursos do Pronaf, eles decidiram reduzir as plantações de milho (de 24 mil hectares para 20 mil hectares) e aumentar as de feijão”, destacou.

Inicialmente, a expectativa dos cerca de 3.200 agricultores familiares que existem hoje no município era colher esse ano 30 mil sacas, o que corresponde a 18 mil toneladas. Cada saca chega a ser comercializada por R$ 120,00, mas o preço tende a cair com a perda da qualidade do grão em decorrência da chuva.

“Adustina já foi o terceiro maior produtor de feijão do estado. Mas com o passar do tempo, os agricultores começaram a encontrar dificuldades por conta do clima. Em anos anteriores foi a seca. Esse ano, a chuva em excesso. Também há dificuldade por conta da escassez de mão de obra na colheita, que ainda é feita de forma manual pela maioria das pessoas. Somente o processamento é mecanizado. Com isso, muitas pessoas migraram para a produção de milho, cuja colheita é 100% mecanizada”, disse o secretário.

Um dos agricultores que já contabiliza prejuízos com o excesso de chuva esse ano é André Carvalho, de 31 anos, dez deles dedicados à agricultura familiar. Disse ter plantado 33 hectares de feijão e esperava colher mais de mil sacas. No entanto, conta que só conseguiu aproveitar 200 sacas. “Praticamente, perdi tudo. Comecei a fazer a colheita, mas a chuva não deixou. O que eu consegui colher antes de começar a chover não dá nem para pagar as despesas que tive”, disse.

Carvalho agora espera que não haja “surpresa” na colheita do milho, que ocorre em novembro. “Eu dividi a área e plantei milho também. Como a safra é em novembro, o que a gente espera é que não ocorra novos prejuízos”, disse.
O também agricultor Roberto Santos, que faz parte da associação de produtores rurais do município, diz que por enquanto não está tendo prejuízo, mas não esconde a preocupação. “Ainda não estou tendo prejuízo porque comecei a arrancar semana passada, antes da chuva. Mas quem deixou para colher agora está sofrendo”, destaca o produtor que, mesmo com o tempo chuvoso, espera ter rendimento de duas mil sacas esse ano.

“Quando chega setembro, é normal que o tempo comece a esquentar. Mas esse ano foi diferente e ninguém esperava. Há muitos anos que já venho produzindo e nunca vi setembro com tanta chuva. Em 2016, foi ruim porque tivemos problema por falta de chuva no período da formação da lavoura. Esse ano é a chuva. E até quem já colheu pode ter prejuízo, porque nem todos tem a máquina que faz o feijão secar. Muitos ainda precisam espalhar, mas não tem sol”, destaca Santos, que é produtor há 30 anos.

 

Fonte: G1

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