Um dos maiores mercados para a carne brasileira, a União Europeia sinaliza a possibilidade de banir importações vindas do Brasil.
Em carta enviada ao ministro da Agricultura, Blairo Maggi, a Comissão Europeia, braço executivo da UE, afirma que o Brasil não tem feito nada para retomar a confiança do bloco após o escândalo provocado pela Carne Fraca.
A operação, deflagrada em março, revelou que empresas do setor de carnes pagaram propina a fiscais do Ministério da Agricultura, em troca da liberação de produtos fora das especificações sanitárias.
O documento da UE, ao qual a Folha teve acesso, é duro e destoa do tom normalmente empregado em correspondências diplomáticas.
Assinada pelo comissário de Saúde e Segurança Alimentar da UE, Vytenis Andriukaitis, a carta afirma que o bloco “duvida da credibilidade dos sistemas de controle [sanitário] e que os recentes escândalos enfraquecem a confiança na capacidade das autoridades brasileiras”.
Membros da Diretoria-Geral de Saúde do bloco realizaram, entre 2 e 12 de maio, uma auditoria em frigoríficos brasileiros. Eles identificaram “deficiências críticas na maior parte dos setores inspecionados, muitas das quais de natureza grave”.
As deficiências se referem tanto ao respeito a normas sanitárias quanto às práticas oficiais de certificação.
No documento, a Comissão Europeia comunica a suspensão das importações de carne de cavalo do Brasil. O gesto é simbólico, uma vez que a carne não representa fatia significativa das exportações brasileiras. Em 2016, o Brasil exportou apenas US$ 6 milhões do produto para a UE.
Porém, a ação sinaliza que as sanções podem ser estendidas às carne bovina e de frango, que também apresentaram problemas para os auditores europeus.
A União Europeia é o segundo maior comprador de frango do Brasil (US$ 1.074 bilhão em 2016) e o terceiro em bovinos (US$ 685 milhões).
A comissão também critica a posição do Brasil diante de evidências de irregularidades com a Carne Fraca.
As autoridades brasileiras suspenderam as exportações dos 21 estabelecimentos incriminados, mas o Ministério da Agricultura “julgou que não era necessário investigar outros estabelecimentos ou planejar ações para fortalecer os sistemas de controle sanitário”, segundo a carta.
Desde meados de março, a UE reforçou os controles para a entrada de carne brasileira, rejeitando 90 carregamentos e identificando 93 irregularidades com os produtos.
Além de barrar a carne de cavalo, os europeus querem que o Brasil implemente um sistema de testes microbiológicos para analisar a carne bovina e de frango antes que ela saia do país em direção à UE.
Andriukaitis diz que a Comissão Europeia vai enviar uma nova missão ao Brasil no fim de 2017. E faz uma ameaça: “Se a evolução da situação pedir, eu serei obrigado a considerar medidas adicionais de segurança”.
Segundo pessoas ligadas ao Parlamento Europeu, o ministério ainda não respondeu formalmente o documento, o que gerou mal-estar entre diplomatas europeus no Brasil.
Outro lado
A Folha procurou o Ministério da Agricultura, mas não houve resposta até a conclusão desta edição. Maggi está na China, e o ministro interino, Eumar Novacki, o único que poderia comentar o caso, segundo a assessoria da pasta, também está em viagem.
A embaixada da UE em Brasília não comentou o caso.
Fonte: Folha de S.Paulo