Política de longo prazo, previsibilidade nos investimentos, reconhecimento do papel do etanol na matriz energética do Brasil e incentivo ao produto foram os principais temas debatidos durante o Ethanol Summit, evento realizado nos dias 6 e 7 de julho, pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), em São Paulo (SP).
Presidente da Unica, Elisabeth Farina destacou que os sinais da política internacional em relação aos combustíveis renováveis têm sido contraditórios.
“As políticas públicas devem deixar mais claro o efeito dos combustíveis fósseis sobre as alternativas limpas. Precisamos discutir a importância dos biocombustíveis em relação à mudança climática e os investimentos na competitividade do setor de açúcar e do etanol no cenário macroeconômico atual”, sugeriu Elizabeth.
Ela também reivindicou maior cooperação entre os países produtores e consumidores do produto, com o objetivo de transformar o etanol em uma commodity internacional.
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, para manter a participação deste mercado nos níveis atuais, a produção brasileira de etanol deverá crescer entre 8% e 9% ao ano, na próxima década. A previsão foi apresentada por Magda Chambriard, diretora-geral da ANP, durante o Ethanol Summit.
De acordo com ela, a ANP estima um déficit diário de combustíveis para motores do Ciclo Otto de 200 mil, em 2024, o que pode abrir espaço para o etanol substituir a gasolina, “com vantagem para a balança comercial brasileira e o meio ambiente”.
VENDAS INTERNAS
Em razão da alta do preço da gasolina, as vendas internas de etanol aumentaram bastante no primeiro semestre deste ano. Um levantamento da Unica, a partir dos dados da Agência Nacional do Petróleo, revela que foram comercializados 1,43 bilhão de litros de etanol hidratado, em maio, um recorde de vendas do produto que respondeu por 23% da demanda de combustíveis do Ciclo Otto, 15,7% acima do registrado no mesmo mês de 2014.
Presidente do Conselho Deliberativo da Unica, Luiz Pogetti lembrou que, mesmo diante da crise, a indústria conseguiu elevar a oferta de etanol de 20% nos últimos três anos.
“Com isso, o Brasil deixou de importar cinco bilhões de litros de gasolina (por causa da mistura de etanol à gasolina), além de mitigação do equivalente a dez milhões de toneladas de carbono”, calculou.
De acordo com a Unica, nos dois primeiros meses da safra atual, as vendas externas de etanol cresceram em volume e faturamento, se comparadas com igual período da safra anterior. No entanto, o CEO da trading SCA Brazil Ethanol, Martinho Ono, destacou que as exportações devem se limitar ao cumprimento de contratos de longo prazo, fechados anteriormente. Ainda projeta as vendas externas em 1,2 bilhão de litros de álcool, podendo chegar ao máximo de 1,4 bilhão de litros na safra atual.
Conforme previsão do vice-presidente da Raízen, Pedro Mizutani, em até quatro anos, o etanol de segunda geração (ou celulósico) deve se tornar competitivo, com custos semelhantes ao do etanol de primeira geração, que é produzido a partir da moagem da cana-de-açúcar.
“A produção de etanol de segunda geração enfrenta dificuldades em relação à tecnologia e equipamentos, à presença de areia no bagaço da cana, que causa interrupção do processo produtivo, além de ganho de escala, fundamental para reduzir os custos”, informou Mizutani, durante o Ethanol Summit.
ENERGIA RENOVÁVEL
Em palestra realizada no mesmo evento, o ex-ministro Delfim Netto salientou que os investimentos em energia renovável é o caminho correto a ser seguido.
“Como o maior responsável pelo aquecimento terrestre é o combustível fóssil, a saída é a energia renovável, portanto, é preciso acelerar os investimentos.”
Delfim ainda sugeriu que o Estado e o setor privado devem atuar de forma interligada nos investimentos para desenvolver as fontes renováveis, como a da cana-de-açúcar.
Por equipe SNA/SP