A disparada das importações de etanol pelos Estados do Nordeste praticamente paralisou a venda do biocombustível produzido pelas usinas do Centro-Sul para a região e limitou o volume de negociações do mercado interno de etanol anidro, aquele que é misturado à gasolina.
Segundo Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (UNICA), a transferência de etanol anidro do Centro-Sul ao Nordeste por cabotagem esteve praticamente interrompida até agora, ocorrendo apenas vendas de etanol produzido em unidades de Mato Grosso e Goiás, transportados de caminhão aos Estados do Norte.
Durante a entressafra das usinas nordestinas, que começa em março e vai até setembro, as usinas do Centro-Sul costumam embarcar para a região cerca de 200 milhões de litros por mês, de acordo com Padua.
Contudo, no primeiro trimestre da safra do Centro-Sul, que começou em abril, o Brasil já importou mais que o triplo de etanol do mesmo período do ano passado, com cerca de 560 milhões de litros. E quase tudo foi para o mercado nordestino. “Basicamente, o Nordeste só foi atendido por importador”, afirmou. Desde o início do ano já foram importados 1.277 bilhão de litros, cerca de 4% da produção esperada para esta safra.
Segundo Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro, a janela de arbitragem favorável à importação já fechou. Mas os navios com biocombustível estrangeiro seguem atracando nos portos do Nordeste, uma vez que já foram contratados semanas atrás.
“Na medida em que a janela de importação fica fechada, é provável que comecemos a enxergar transferências ao Nordeste até começar a safra na região”, disse.
Por enquanto, a presença do produto importado no Nordeste continua sem estimular as vendas de etanol das usinas do Centro-Sul. Desde o início da temporada até junho, as vendas do produto de uma maneira geral no país estão num patamar inferior ao de igual época de 2016. Entre abril e junho, as unidades do Centro-Sul venderam 2.3 bilhões de litro de etanol anidro, queda de 6,8% na comparação anual, conforme a UNICA.
A retração das vendas de etanol anidro ocorre a despeito do crescimento das vendas de gasolina em abril e maio em relação aos mesmos meses de 2016, conforme levantamento mais recente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o que indicaria uma maior demanda das distribuidoras pelo biocombustível para misturar à gasolina.
Por enquanto, as usinas do Centro-Sul ainda estão focadas na produção de açúcar para cumprir seus contratos de exportação. Segundo Padua, quando os contratos forem cumpridos, as usinas devem começar a direcionar uma parcela maior da cana para o etanol anidro, que está remunerando mais.
“A produção de etanol anidro ainda não aumentou porque o mercado estava com baixa liquidez devido à redução de cabotagem para o Nordeste. Quanto a importação de etanol reduzir, o mercado de anidro vai ter mais liquidez, vai voltar a ter cabotagem e vamos ver mudança de mix para o anidro”, disse o diretor da UNICA.
Desde o início do ano, as indústrias de etanol têm defendido a imposição de uma taxa para o produto importado. Amanhã, 25, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) deve julgar o pedido de imposição de uma alíquota de 17% sobre o produto importado.
Também está em análise ANP uma resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) para impor aos importadores as mesmas obrigações de estoques mínimos exigidas dos produtores nacionais. Uma consulta pública tratará do assunto e inclui uma audiência pública em 23 de agosto.
Fonte: Valor