O etanol obtido a partir do milho pode se tornar um bom negócio para o Brasil. Segundo analistas do setor, as condições são favoráveis, a começar pelo excedente de produção e sem deixar de lado as exportações e o consumo interno.
Mato Grosso, por exemplo, produz atualmente 15,4 milhões de toneladas de milho, e as estimativas apontam para uma produção de até 34,9 milhões de toneladas em menos de dez anos. Apesar da necessidade de linhas específicas de financiamento por parte do governo, a disponibilidade de tecnologia e a possibilidade de abertura de usinas de cereais servem de estímulo a novos empreendimentos.
Para Helio Sirimarco, diretor da Sociedade Nacional de Agricultura, “é uma excelente oportunidade obter etanol a partir de milho em regiões em que há grande produção do grão sendo comercializado a preços baixos”. No entanto, o diretor lembra que “também é preciso ter disponível, a preço interessante, fontes de biomassa para queimar na caldeira”. Segundo Sirimarco, “se esses dois pontos forem atendidos, pode ser até viável instalar uma usina apenas para a produção de etanol de milho”, porém, adverte – “é necessário fazer os cálculos com cuidado e considerar todas as variáveis que fazem parte do negócio”.
USINAS
Esta semana, o governo do Mato Grosso do Sul anunciou a realização de uma audiência pública no sindicato rural de Chapadão do Sul, para iniciar as discussões em torno da implantação e dos impactos ambientais da primeira usina de etanol de milho no estado. Neste caso, os empreendedores pretendem utilizar a tecnologia de produção de etanol das usinas americanas para garantir a melhor organização da cadeia do milho.
Citando um recente estudo realizado pela Céleres consultoria, a pedido da Aprosoja-MT, o diretor da SNA acredita no bom desempenho das usinas. “Tomando como exemplo uma usina full (que produz etanol somente a partir de cereais), com o processamento de mil toneladas de milho por dia, seriam produzidos 130 mil metros cúbicos de etanol por ano, e 80 mil metros cúbicos de DDG – farelo proteico originado do cereal, muito utilizado para alimentação animal. Isso sem contar com a geração de CO2 , outra oportunidade de negócio. Nos cálculos feitos no estudo, com a situação atual da legislação tributária para etanol, o investimento de US$ 69 milhões na construção da usina teria retorno em 66 meses, contando com a construção. O lucro líquido seria de 10% e a taxa de retorno, por volta de 25%”, assinala.
Sirimarco afirma ainda que é possível instalar no País mais usinas flex em menor escala e aumentá-las de acordo com a necessidade. “Não sai caro. Um investimento inicial para processar 350 toneladas de milho/dia, produzindo cerca de 130 mil litros de álcool/dia, demanda cerca de R$ 15 milhões. Depois, com o tempo, o projeto pode ser ampliado. A Usimat, usina flex matogrossese, começou a funcionar processando 300 toneladas de milho/dia. Hoje já mói diariamente 600 toneladas e, para o próximo ano, o objetivo é processar 1.000 toneladas/dia”.
De acordo com o diretor da SNA, é vantajoso produzir álcool na entressafra com o milho. “No caso da Usimat, 15% do cereal é produzido pela própria empresa, e o restante é comprado de fornecedores, uma vez que há excedente grande. Já os cereais processados pela Usina Libra (localizada em Campos de Júlio, a quase 600 quilômetros de Cuiabá) são produzidos na região do norte de Mato Grosso, com distância de no máximo 100 quilômetros da unidade”.
VANTAGENS
Em relação ao etanol da cana, o milho mostra suas potencialidades. “Com o excedente do grão em Mato Grosso, hoje o milho está com preço interessante para produzir o etanol”, observa Sirimarco. “Segundo a Usimat, gasta-se, em média, R$ 1,15 para produzir um litro de etanol de cana e R$ 0,97 para produzir um litro de etanol de milho. Obter etanol de milho sai mais barato porque agrega valor. Do milho não se tira somente o etanol, mas também outros produtos, como o farelo de milho seco e o óleo. Em termos de custo de produção, com o preço do milho a R$18,00 por saca, considerando o valor da biomassa em R$100,00 a tonelada para geração de energia, o custo do etanol de cereais é 10% menor que o do etanol de cana”, explica o diretor da SNA, lembrando ainda que o aumento da produção do grão no Brasil iria estimular seu cultivo. No entanto, Sirimarco aponta que, assim como o etanol, o problema do milho é a dificuldade de venda. Mesmo assim, ele espera que, “em meio a um mercado saturado, o incentivo ao consumo de etanol cresça no País”.
Equipe SNA/RJ