Estudo mostra efeito do câmbio na soja

Câmbio, produtividade, preços internacionais, estoques elevados e custos de produção são pontos fundamentais para as margens de retorno dos produtores brasileiros de soja na safra 2015/16. Diante de tantas variáveis, como será a rentabilidade da oleaginosa na próxima safra?

O câmbio certamente é um dos principais componentes a ser avaliado. Por isso, os analistas Renato Rasmussen e Victor Ikeda do Rabobank buscaram estabelecer a relação entre câmbio e os preços da soja no Brasil.

As simulações feitas pelos analistas indicam que o câmbio acima de R$ 3,00 por dólar resultaria em margens positivas para o produtor sempre que a soja ficar acima de US$ 8,50 o bushel em Chicago.

Já a soja a US$ 8,60 o bushel, por exemplo, resultaria em margens positivas para os produtores com o dólar acima de R$ 2,90.

Para que haja um ponto de equilíbrio entre os preços de soja em Chicago e os custos dos produtores com um câmbio a R$ 2,90, a soja deveria ser negociada a US$ 8,54 em Chicago. Já um dólar a R$ 3,50 dá esse equilíbrio a uma soja a US$ 7,98 o bushel.

Os analistas levaram em consideração diferentes valores de dólar -R$ 2,90 a R$ 3,50- e de cotações da soja em Chicago – de US$ 8,50 a US$ 10,00 o bushel – para simularem os cenários de rentabilidade dessa cultura.

Tomaram como base os custos de produção do IMEA (Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola) e a diferença média de preço entre o primeiro contrato futuro e o valor à vista da soja em Mato Grosso.

A produtividade considerada é de 51,9 sacas por hectare e o dólar é o mesmo para compra de insumos e para a venda da soja.

Mas a desvalorização do real não é totalmente benéfica ao produtor, pois também gera impactos nos custos de produção. Pelo menos em parte deles.

Cerca de 70% dos fertilizantes são importados. Embora os preços tenham caído no mercado internacional neste ano, subiram no país devido a essa desvalorização.

Outro item de pressão são os defensivos utilizados no cultivo da soja, devido ao peso das importações.

Diante de um cenário bem indefinido, restam aos produtores reduzir custos variáveis e negociar bem.

O contrato futuro de maio de 2016 de venda de dólar, por exemplo, tem girado em R$ 3,40, enquanto em Chicago a soja está próxima de US$ 10,00 o bushel.

Combinados esses cenários, o produtor obteria uma margem de R$ 642,00 por hectare, um retorno de 25% sobre o custo operacional. Os analistas lembram, no entanto, que a média de retorno das últimas cinco safras girou próximo de 50%.

É claro que os produtores que obtiverem uma combinação melhor dessas variáveis, como uma produtividade maior, terão uma margem melhor na próxima safra.

Apesar da expectativa de menores margens, as estimativas do Rabobank são de um aumento de 3% a 5% na área de soja na próxima safra. Esse avanço será restrito em áreas novas, e se dará em espaço ocupado atualmente por outras culturas, como a de milho verão.

Fatores de peso

Os preços da soja serão pressionados neste ano por um desbalanceamento entre produção e consumo mundiais, o que deverá elevar ainda mais os estoques da oleaginosa.

Rasmussen e Ikeda afirmam que o ano safra 2014/15 entrará na história como aquele que melhor evidenciou a espantosa capacidade produtiva dos sojicultores mundiais.

A produção mundial atingiu 318 milhões de toneladas, com crescimento de 12,7%. Já o consumo, em ritmo menor, teve evolução de 6,5%, somando 294 milhões de toneladas.

Com isso, os estoques evoluíram 33% no período, subindo para 84 milhões de toneladas. É o correspondente a 102 dias de consumo, o maior patamar em 60 anos.

E a recuperação dos estoques pode não parar por aí, segundo os analistas. Dependendo das condições climáticas, esse volume vai superar 93 milhões de toneladas na safra 2015/16.

Os analistas advertem que o câmbio tem papel fundamental na rentabilidade da soja brasileira, mas o produtor deverá ficar atento aos preços em Chicago.

A proteção contra as quedas do grão pode ser tão essencial quanto o câmbio no cenário atual, dizem eles.

 

Fonte: Folha de S. Paulo

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