Iniciado há 3 anos, com o objetivo de promover um desempenho eficiente e rentável da atividade produtiva, o Estudo do Complexo da Ovinocaprinocultura no Brasil, realizado pelo Sebrae Paraíba, revela que a informalidade é um dos grandes gargalos do setor.
“Cerca de 90% do abate de ovinos e caprinos no Brasil ocorrem em condições sanitárias inadequadas e de forma clandestina, sem controle sanitário, o que limita a oferta de produtos de qualidade nos mercados consumidores”, destacou o afirmou o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Carlos Frederico Lacerda, que apresentou a análise, dia 5 deste mês, em João Pessoa, PB.
“O abate informal, em locais sem certificação, inspeção ou fiscalização, com a figura do atravessador, que faz a carne chegar aos mercados públicos, atrapalha a organização da cadeia”, afirmou o diretor técnico da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba (Emepa), Vandrick Hauss de Souza, que defende o envolvimento de todos os órgãos, como Ministério Público e Vigilância Sanitária, para que a atividade seja valorizada no mercado.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2011, o rebanho brasileiro de caprinos e ovinos somou cerca de 17,3 milhões de cabeças. O rebanho da Paraíba totaliza 800 mil animais: 500 mil caprinos e 300 mil ovinos. O rebanho de ovinos apresenta crescimento de 3,4% em relação ao ano anterior. O Centro-Oeste é o que mais cresce no país, em especial o Estado de Mato Grosso do Sul.
Já o rebanho caprino era de 9,3 milhões de cabeças, 1,6% maior que no ano anterior. A Região Nordeste detém 90% do rebanho, sendo que a Bahia possui o maior rebanho ( 36% do efetivo). É lá onde também estão os dois principais municípios produtores: Casa Nova e Juazeiro (PPM 2011 IBGE).
De acordo com o estudo, o consumo no Brasil alcança 0,7 kg de carne ovina por habitante/ano, bem abaixo dos 35 kg de carne bovina e 28 kg de carne de frango consumidos por pessoa.
“O Brasil apresenta grande potencial de consumo de carne de ovinos e caprinos, tanto que muitos países estão atentos a esse mercado, salientou Lacerda. “Para se ter uma ideia, apesar de termos um rebanho de 18 milhões de animais, importamos ovinos do Uruguai”, disse Lacerda. O País também importa peles de caprinos e laticínios.
“Embora o mercado consumidor tenha apresentado aumento na demanda por produtos deste complexo, outros indicadores mostram estagnação do setor, como o crescimento da importação de carne de ovinos e peles de caprinos, além de toda a linha de laticínios”, acrescentou o coordenador do estudo e analista do Sebrae Paraíba, Jucieux Palmeira.
O estudo também apresentou uma análise comparativa da cadeia produtiva do Brasil e de cinco países visitados pelos pesquisadores (Reino Unido, Espanha, Uruguai, Austrália e Nova Zelândia). De acordo com o professor, a Nova Zelândia possui um rebanho de 31,2 milhões de caprinos e ovinos, abate 23 milhões, exporta cerca de 92% e consome 8% no mercado interno. Já o Uruguai, possui 8,2 milhões de caprinos e ovinos, menos da metade do rebanho brasileiro, e ainda exporta carne para o Brasil.
Segundo Lacerda, a indústria frigorífica tem elevada participação no desenvolvimento da cadeia produtiva desses países visitados, que é bem organizada, o que contribui para a rentabilidade da atividade. Ao todo, são 20 frigoríficos destinados ao abate de ovino na Espanha, 21 no Uruguai, 17 na Nova Zelândia (países com área e população inferior a 5% do Brasil), 162 no Reino Unido e 97 processadores de carne de ovino na Austrália.
“Já no Brasil, a indústria frigorífica tem baixa participação. São apenas três frigoríficos na Região Nordeste que possuem SIF (Serviço de Inspeção Federal) e se dedicam prioritariamente a esta atividade”, destacou o professor.
“Já no Brasil, a indústria frigorífica tem baixa participação no desenvolvimento do segmento de de carne e pele e não exerce a liderança necessária para organização da cadeia produtiva, comparada com os países visitados na ação de benchmarking”, comentou Palmeira.
ENVOLVIMENTO DA CADEIA PRODUTUVA
Na opinião do diretor da Emepa, a Paraíba possui todas as condições para fomentar a atividade e gerar renda para os produtores.
“Há uma demanda do mercado consumidor e temos um acervo de conhecimento técnico e tecnológico. No entanto, para o desenvolvimento de um polo de ovinocaprinocultura no Estado é necessário o envolvimento de toda cadeia produtiva. É preciso colocar em prática o que já sabemos, envolvendo produtores, entidades públicas e privadas”, argumentou Souza.
A partir do estudo serão traçadas algumas ações para a criação de um polo de ovinocaprinocultura na Paraíba. A próxima etapa é a implementação de projetos quatro projetos pilotos de produção para ovinocaprinocultura em áreas das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, proporcionando oportunidades de desenvolvimento nas regiões onde já existem esforços realizados.
“A primeira ação é a reativação do frigorífico de Mulungu”, afirma o analista do Sebrae Paraíba.
Outra iniciativa é a realização de um plano de acesso ao mercado para produtos derivados de caprinos e ovinos, direcionado ao consumidor nos principais centros de consumo, com ações de ativação de compra dos produtos derivados da ovinocaprinocultura brasileira.
“A ideia é ampliar mercados, posicionar as principais características dos produtos, permitir melhores preços e melhorar rentabilidade nos processos de produção, processamento e comercialização dos produtos”, explicou Palmeira.
A partir do estudo também foi sugerida a elaboração de um plano nacional estratégico plurianual, para toda a cadeia produtiva, para o desenvolvimento simultâneo e de forma organizada do setor em quatro regiões: Sul, Sudeste, Centro-oeste e Nordeste.
“Um projeto com a coordenação de uma única instituição que concentre e distribua toda a produção de conhecimentos sobre a atividade e o setor, baseado em um modelo de governança que determine regras, estabelecendo os índices produtivos necessários como tipo de carcaça alvo a ser alcançado, sugerindo tamanho e distribuição do rebanho, estimulando atividades de pesquisa, assistência técnica e extensão rural”, antecipou o analista do Sebrae.
Por Equipe SNA/SP