Segundo dados oficiais disponíveis no site da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e referentes até o dia 16 de maio, atualmente, os estoques públicos de milho do Brasil somam 902.000 toneladas. O volume está bem abaixo do consumo mensal do País, que gira ao redor de 4.5 milhões de toneladas, segundo o consultor Ênio Fernandes.
Fonte: Conab
O cenário é decorrente das grandes exportações registradas na temporada 2014/15, que ultrapassaram a marca das 30 milhões de toneladas. Os analistas explicam que os embarques enxugaram o excedente de oferta no mercado doméstico e impactaram diretamente nos preços praticados internamente. É preciso ressaltar que as exportações foram maiores devido à desvalorização do real frente ao dólar, o que tornou o produto brasileiro mais competitivo internacionalmente.
No início deste ano, a entidade reportou que os estoques de passagem, da safra 2014/15, eram da ordem de 10.54 milhões de toneladas no final de janeiro. Porém, os embarques do cereal totalizaram 4.46 milhões de toneladas somente no primeiro mês do ano. Em fevereiro, as exportações de milho ficaram próximas de 5.37 milhões de toneladas e em março, perto de 2.02 milhões de toneladas, ainda segundo informações divulgadas pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior).
O assunto tem sido discutido entre as principais lideranças do setor, principalmente depois que os preços no mercado nacional subiram vertiginosamente, alcançando patamares recordes e afetando de forma severa o dia a dia – com uma forte alta nos custos de produção – de seus maiores consumidores, a agroindústria brasileira de proteína animal. O tema virou polêmica, vem gerando divergências e levantando questionamentos. Diante desse quadro, o deputado federal, Luis Carlos Heinze (PP/RS), informou que busca a aprovação de um requerimento para uma audiência pública na Comissão Especial de Agricultura na Câmara, juntamente com os técnicos da Conab, do Ministério da Agricultura e outras entidades do setor para apurar a questão dos estoques.
Segundo o levantamento realizado pelo economista do Notícias Agrícolas, André Bitencourt Lopes, as cotações do cereal nas principais praças brasileiras acumularam valorizações de mais de 10% somente no período de 1 de abril a 16 de maio frente a esse desequilíbrio entre oferta e demanda.
Em Sorriso (MT), os preços subiram 20% e passaram de R$ 30,00 para R$ 36,00 a saca. Na região de Itapetininga (SP), a alta foi de 19,98%, com a saca a cotada a R$ 46,89. Em Não-Me-Toque (RS), a alta no período foi de 14,10% e a saca subiu de R$ 39,00 para R$ 44,50. Com alta de 11,11%, os preços passaram de R$ 36,00 para R$ 40,00 a saca em Cascavel. Na localidade de Jataí (GO), a alta foi de 14,29%, com a saca cotada a R$ 40,00.
No Porto de Paranaguá, principal canal de escoamento do milho exportado do Brasil, a saca do cereal para entrega setembro deste ano, subiu 9,38%, de R$ 32,00 para R$ 35,00, no mesmo período.
No mercado futuro o cenário não é diferente. Na BM&F Bovespa, o contrato setembro/16, referência para a safrinha brasileira, subiu 20,30% do dia 1º janeiro ao dia 16 de maio, fechando a R$ 43,61/saca. Ainda segundo pesquisa do Notícias Agrícolas, a menor cotação para o contrato, em 2016, foi R$ 34,83.
Movimentação do contrato setembro/16 em 2016 – Fonte: BM&F
Por enquanto, a única solução para os consumidores, que amargam custos elevados, tem sido as importações do cereal. No acumulado de 2016, as compras de países vizinhos por parte do Brasil já totalizam 243.600 toneladas, segundo informações reportadas pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex). No período de janeiro a abril, os principais importadores do cereal foram os estados do Paraná com 110.300 toneladas, Santa Catarina com 46.150 toneladas, Pernambuco com 36.460 toneladas e a Paraíba com 27.550 toneladas. Recentemente, o governo brasileiro aprovou a isenção da tarifa de importação para 1 milhão de toneladas fora do Mercosul.
Associadas a esse quadro estão às preocupações com a segunda safra de milho no País. Com um mês de abril sem chuvas e com altas temperaturas nas principais regiões produtoras do cereal, há muitas especulações sobre o real tamanho da quebra na safrinha de milho. Por enquanto, não há um número fechado, já que os produtores rurais ainda não iniciaram a colheita do grão. Entretanto, consultorias privadas e analistas já estimam uma queda superior a 10 milhões de toneladas.
Levantamento realizado pela FCStone estima uma safrinha de 49.8 milhões de toneladas, uma queda de quase 12% em comparação com a última estimativa de 56.6 milhões de toneladas. Em seu último boletim, publicado em maio, a Conab revisou para baixo a projeção para a segunda safra do grão de 57.13 milhões de toneladas para 52.90 milhões de toneladas.
Os analistas alertam que o primeiro semestre de 2017 ainda deverá ser de aperto na oferta. Segundo a Conab, a safra 2015/16 de milho deverá ser de 79.9 milhões de toneladas, em sua totalidade. O consumo interno para a temporada é estimado em 58.4 milhões de toneladas e as exportações de 28.4 milhões de toneladas, o que resultaria em estoques de 5.2 milhões de toneladas em fevereiro do ano que vem. Ainda segundo levantamento da entidade, o número representa menos de um mês de consumo e o menor volume desde a safra 2006/07.
“A normalidade de oferta neste mercado irá depender fortemente da exportação deste ano. Caso o País exporte 23 milhões de toneladas ou mais nesta temporada, a crise do milho será ainda mais grave para 2017 do que esse ano entre os meses de fevereiro a maio de 2016”, disse o analista da Agrinvest, Marcos Araújo.
O Notícias Agrícolas procurou a Conab na manhã desta terça-feira, 16 de maio, porém, até o fechamento desta reportagem, a instituição não havia se manifestado.
Fonte: Notícias Agrícolas