Técnicos e analistas em geral vinham apontando que – a partir de março, com o início dos embarques de soja – as exportações de milho retornariam ao seu nível habitual e, com isso, os preços retrocederiam a valores, digamos, mais palatáveis.
Mas como, março terminando, os preços do grão permanecem não só elevados, mas também em alta – o preço médio no interior paulista, antes de terminado o mês, supera os R$ 50,00/saca, sugerindo aumento de pelo menos 13% em relação a fevereiro – a percepção que fica é a de que, frente aos preços extremamente atrativos e à expectativa de mais elevações, o produtor “sentou-se” sobre os estoques. Será?
O último levantamento de safra da CONAB sugere que não, apontando até que os estoques existentes podem ter se esgotado. A propósito, vejam-se os números. Pelas projeções da CONAB, o estoque final da safra 2014/15 deveria girar em torno dos 10.5 milhões de toneladas, caindo mais de 10% em relação à safra anterior. Uma estimativa sem dúvida correta não fosse o fato de, já em dezembro, o dólar ter se aproximado da casa dos R$ 4,00 e tornado as exportações extremamente convidativas.
A realidade é que, só no trimestre dezembro/15-fevereiro/16 – ou seja, antes que o produto da safra 2015/2016 começasse a chegar ao mercado – exportou-se volume de milho quase 110% superior ao de idêntico período anterior. Quer dizer: enquanto a CONAB previu, para o ano-safra, aumento de 50% nas exportações, os embarques dos últimos meses mais do que dobraram, subindo de 7.7 milhões de toneladas para cerca de 16.1 milhões de toneladas – um volume que supera em mais de 50% o estoque final previsto.
No momento já se opera com milho da nova safra, a primeira do ano. Mas essa que já foi a safra principal agora contribui com apenas um terço da produção nacional de milho. Não só: o volume previsto para a presente “primeira safra” – pouco mais de 28.2 milhões de toneladas – não chega a atender nem a metade do consumo nacional previsto pela CONAB – perto de 58.4 milhões de toneladas.
Infelizmente, parece, não será tão cedo que os preços do milho retornarão a padrões que apresentem mais compatibilidade com a realidade econômica brasileira. E como até os fornecedores externos, tudo indica, se prevalecerão dessa realidade, o setor avícola continuará forçado a adequar a produção a níveis que possibilitem repassar o abusivo aumento de custos. Até, pelo menos, que chegue a segunda safra. Outrora, safrinha; hoje, safra principal.
Fonte: AviSite