A primavera já chegou, mas o Espírito Santo ainda sofre com os efeitos da estiagem típica do inverno. As poucas chuvas previstas para a estação que começa podem não ser suficientes para reduzir o déficit hídrico registrado no Estado. A seca compromete a produção agropecuária local, e o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) orienta os produtores rurais a respeito das tecnologias mais adequadas para enfrentar a estiagem.
O Incaper monitora as condições meteorológicas no Espírito Santo e já advertiu os capixabas com relação à seca. “Após as chuvas de dezembro, vem chovendo abaixo da média no Estado. A partir de maio e junho, entra período seco, de pouca chuva. Não houve recarga adequada do lençol freático e isso pode culminar em falta de água em algumas bacias hidrográficas, principalmente para uso na agricultura”, disse José Geraldo Ferreira, coordenador da Equipe de Meteorologia do Incaper.
Em Pinheiros, onde a pecuária é uma das principais atividades econômicas, os produtores estão atentos. “Já enfrentamos secas piores. Em anos anteriores, muitos animais morreram de sede. Agora, estamos vivendo o que eu chamo de seca verde. A chuva mantém o pasto, só que, mesmo assim, água está difícil. Os níveis dos reservatórios estão baixos. Não passamos vários meses sem chuva, como já aconteceu. A chuva vem. Pouquinha, mas vem regularmente. Fica menos tempo sem chover”, diz Paulo Sérgio Marion Guio, chefe do Escritório Local de Desenvolvimento Rural (ELDR) do Incaper de Pinheiros.
Para discutir o manejo da irrigação em Pinheiros, foi realizado nesta quinta-feira (25) o Seminário de Recursos Hídricos. O evento era voltado para produtores e técnicos agrícolas. “O número de equipamentos de irrigação aqui em Pinheiros é muito grande e, a cada ano, aumenta a área irrigada. São em torno de 150 pivôs centrais. Este equipamento sai mais barato para o produtor na questão da economia de energia, mas é questionado quanto à eficiência porque desperdiça muita água. O reservatório não suporta, não consegue abastecer. O que o produtor está fazendo é plantando culturas de ciclo curto, como feijão e abóbora. Ele planeja o plantio de acordo com a água do reservatório. Se dá para plantar, ele cultiva. Se não dá, não planta nada. As culturas de ciclo mais longo, como café e mamão, que exigem irrigação, estão migrando para outras regiões”, complementou Guio.
Em Santa Maria de Jetibá, na Região Serrana capixaba, os produtores de gengibre e inhame estão receosos. “Estamos em época de plantio e a falta de chuva atrapalha o desenvolvimento da planta. Faz bastante tempo que não chove e o nível da barragem está baixo. É normal neste período. Mas, as olerícolas são muito exigentes e a primeira coisa que produtor faz é comprar uma bomba para captar água do rio. O Incaper orienta a fazer uma irrigação localizada, evitando desperdício, e incentiva o produtor a construir sua própria barragem, já que o processo foi simplificado. Ter a própria barragem ajuda a alimentar o lençol freático e zelar pela qualidade da água produzida e utilizada na propriedade”, explicou Tálita Vieira Fidelis, técnica do ELDR do Incaper em Santa Maria de Jetibá.
No município vizinho, Santa Leopoldina, a estiagem não afeta tanto a produção rural. “A região fria é a grande produtora de água do Estado. Os produtores ainda não reclamaram de falta d’água mas, se não chover nos próximos meses, começa a ficar difícil. Os produtores rurais não costumam ter reservatórios. Se persistir se chuva, começa a dar problema”, disse João Paulo Ramos, técnico do Incaper em Santa Leopoldina.
Cafeicultura Grande parte da produção de café, principal atividade agrícola na economia capixaba, está em região de déficit hídrico anual significativo. Nada menos que 80% do Conilon plantado no Espírito Santo está no Norte do Estado. A falta d’água por chuva ou por irrigação atrapalha os tratos culturais. “A adubação só pode ser feita com solo úmido. O déficit hídrico associado com a alta temperatura interfere de forma negativa na produção, na produtividade e na qualidade do café produzido no Espírito Santo”, explicou Romário Gava Ferrão, pesquisador do Incaper. Ferrão lembra, ainda, que o produtor que aplica o pacote de tecnologias recomendado pelo Incaper, com as variedades de Conilon tolerantes à seca lançadas pelo Instituto, está mais bem preparado para enfrentar as adversidades climáticas.
Fonte : Incaper